A se confirmarem as expectativas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, o ano de 2021 será de bons resultados para os produtores de trigo no estado. O plantio da cultura começa agora em abril, e pelos dados do Deral deve gerar uma produção de 3,7 milhões de toneladas no estado – o número é 21% maior do que o do ano passado, quando os produtores paranaenses deram um salto de produtividade – até novembro, quando termina a colheita.
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A estimativa do governo do estado, atualizada mensalmente, aponta para um ganho considerável na produtividade do trigo paranaense. Afinal, a área plantada deve aumentar cerca de 2% no estado, em torno de 20 mil hectares a mais do que foi plantado em 2020. Com mais trigo colhido dentro de praticamente a mesma área plantada, os produtores têm a possibilidade de aproveitar a tendência que se verificou no ano passado e que deve se repetir em 2021: a alta no consumo dos produtos derivados do trigo.
Dados da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados) mostram que o crescimento no consumo de pães, farinha, massas e biscoitos no primeiro ano da pandemia fez com que a demanda por trigo subisse 15% no Brasil. E para o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná (Sinditrigo-PR), Daniel Kümmel, esses números devem se manter estáveis em 2021.
“Esse é o perfil que predomina neste instante dentro do mercado consumidor de trigo. A busca do consumidor foi maior por produtos essenciais, e o trigo é um dos produtos do dia a dia do consumidor. Reforçou-se essa cultura do consumo em casa. É uma situação que não acontecia há muito tempo. As pessoas voltaram a fabricar não só pão, mas também bolos em casa. Aumentou também o consumo de massas. As pessoas voltaram a ter o prazer de cozinhar em casa, de fazer novamente dessa uma atividade cotidiana. Isso fez com que se estruturasse esse novo perfil de consumo. E isso vai se consolidar nesse ano”, explicou.
Com o consumo de derivados de trigo se mantendo em alta, a cultura segue sendo uma das mais atrativas para os produtores paranaenses, na avaliação de Kümmel. O preço da tonelada do grão, informou o presidente do Sinditrigo-PR, está no mais alto patamar já registrado na série histórica. Em dezembro de 2019 o preço da tonelada era cotado em R$ 900. Quatro meses depois, em abril de 2020, a tonelada do trigo passou para R$ 1,2 mil. Hoje não é difícil encontrar trigo cotado a R$ 1.650 a tonelada.
O parque moageiro do trigo instalado no Paraná é o maior do Brasil. Cerca de metade do que é produzido no país sai das indústrias paranaenses. A capacidade instalada de processamento desses moinhos, informou Kümmel, seria capaz de absorver toda a produção do Paraná caso a previsão do Deral se confirme. Na safra passada os moinhos paranaenses processaram 3,7 milhões de toneladas de trigo, enquanto a produção local foi de cerca de 3,2 milhões de toneladas. Para evitar a ociosidade, a saída para as indústrias é importar o grão – Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai são os maiores exportadores do trigo processado no Paraná.
“O Paraguai tem uma produção de 1,2 milhão de toneladas de trigo, e consegue exportar metade disso para o Brasil. Não vemos como uma ameaça ao nosso mercado interno, e sim como um complemento necessário para as indústrias do Paraná. Além dessa disponibilidade, a qualidade do trigo paraguaio é bastante grande, eles também têm se especializado em melhorar essa cultura”, afirmou o presidente do Sinditrigo-PR.
Falando sobre a qualidade do trigo produzido no Paraná, Kümmel trata como “lenda urbana” a antiga supervalorização do cereal importado da Argentina. Segundo ele, toda a produção paranaense é adaptada para a indústria. Fruto de cruzamentos e melhorias na genética das plantas, hoje as variedades produzidas no Paraná são desenvolvidas especificamente para atender as demandas da indústria.
“O nosso trigo é de altíssima qualidade, concorre diretamente com o trigo argentino e chega, em algumas variedades, ser melhor do que o produto deles. A gente hoje tem um padrão de produto muito bom. Essa história ficou no passado, virou praticamente uma lenda urbana. A maioria dos trigos com os quais trabalhamos no Paraná são melhoradores para a indústria de panificação. É uma das três variedades mais difundidas no estado. São os trigos panificáveis, os melhoradores e os branqueadores, estes últimos são variedades superespecializados para misturas utilizadas na fabricação de produtos mais finos”, explicou.
Alta nos preços
Mesmo com uma expectativa de safra recorde, com alta produtividade e possibilidade de processamento local de tudo o que for colhido no estado, a expectativa do presidente do Sinditrigo-PR é de que ao longo do ano o consumidor sinta no bolso um aumento nos preços dos produtos derivados do trigo, como os pães e as massas. Isso porque, segundo Kümmel, a indústria da farinha de trigo ainda está com os valores defasados, o que seria corrigido de forma “natural” pelo mercado na forma de aumento de preços.
“A indústria ainda busca se equiparar ao valor atual do trigo. Tem uma diferença grande ainda, e ela está se adequando de forma natural dentro da liberdade do mercado. Cada moinho tem seu custo, não é algo unificado. Os preços do trigo chegaram a R$ 1,6 mil por tonelada, mas as farinhas ainda estão sendo comercializadas como se o preço do trigo fosse R$ 1,2 mil por tonelada. Há um degrau, uma necessidade de aumento, e isso vai variar de acordo com a realidade de cada moinho. Tecnicamente o mercado vai se ajustar, assim como aconteceu com a soja e os derivados, como o óleo, que subiram de preço. A tendência, enfim, é que o consumidor sinta essa diferença no decorrer do ano.”
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