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A corrida espacial disputada por Estados Unidos e a antiga União Soviética entre as décadas de 50 e 70 moldou a infância de muitos meninos e meninas na época. Rafael Flamel Cury, nascido em 1964, foi um deles. Sonhava em variar os passeios em Piraí do Sul, cidade do interior paranaense onde nasceu, por umas voltas pelo espaço, para ver o que encontraria.
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O desejo infantil se transformou em estudo em 1982, quando piloto e tripulantes do voo 169 da Vasp avistaram o que foi chamado de objeto voador não identificado. Deu no Jornal Nacional e se transformou em um clássico da ufologia. Rafael mergulhou em livros sobre o tema e no ano seguinte estaria organizando um evento pioneiro sobre o tema que lhe foi caro para sempre: a vida fora da Terra.
O pesquisador, ativista, editor e realizador de eventos faleceu no dia 27 de janeiro devido a problemas renais.
Para ele, ufologia não existia sem o esforço pela paz. Suas áreas de interesse convergiam entre espiritualidade, ciência e ufologia, movendo-o a congregar pessoas em torno desses assuntos. Realizou dezenas eventos com esse foco, o mais destacado deles era o Diálogo com o Universo, congresso anual criado por ele que reunia especialistas e ajudou Curitiba a ser reconhecida como um dos polos do tema.
Para participantes e conferencistas, os dias de convivência eram como a vida em uma nave espacial, pois se sentiam pairando para além da realidade, em uma imersão em aprendizado e reflexão.
Apesar de ter sido candidato a vereador apenas no ano passado, por conhecer parlamentares e circular entre diferentes círculos profissionais, tinha influência para sugerir ideias, como a proposta feita em 2016 para que fosse concedido ao Paraná o título de estado da consciência da paz. Nos últimos anos, articulava com representantes municipais de Curitiba a realização do Fórum Mundial da Consciência da Paz, esperando a realização em 2022 com a presença de ativistas, pensadores e artistas.
Ia além do conceito de paz como mero discurso, acreditava no poder de transformação que ela continha, associada à educação e à política, por exemplo. Um de seus exemplos foi Mahatma Gandhi e seu movimento de resistência pacífica. Auxiliou o senador Flávio Arns na autoria do projeto de lei 480/2020, que propõe a criação do “Setembro da Paz”, campanha anual pela promoção da paz e combate à violência. Como candidato a vereador, propunha o incentivo por meio de descontos fiscais a quem contribuísse com as causas animal e ambiental.
“Ele ultrapassou o entendimento da ufologia apenas como registro de casos e testemunhas, tinha uma percepção mais ampla sobre espiritualidade, tinha sensibilidade para isso”, comenta o amigo, jornalista e escritor Waurides Brevilheri Jr.
O filho de libaneses escolheu Curitiba para viver desde 1977, onde graduou-se em Marketing e Propaganda, concluiu pós-graduação em Educação Ambiental e Sustentabilidade pela Uninter, estudou Parapsicologia e Ciência Política. Por aqui, encontrou um local que parece atrair movimentos espiritualizados e fez dele o centro multiplicador de suas ideias. “Muito cabeça aberta, foi pioneiro em divulgar e dar espaço para terapias alternativas que ainda não eram aceitas, como o reiki, teorias de reencarnação e terapias de vida passada”, lembra Waurides.
Como marco das mensagens que Rafael passou em vida, representantes das comunidades que ele ajudou a criar desejam propor algum tipo de homenagem a ele em Curitiba. “Assim mostraremos que na nossa cidade, mesmo que o tempo passe, pessoas com esse espírito deixam seu conhecimento e contribuição”, completa Waurides.
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