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Poços são responsáveis por cerca de 20% do abastecimento de água dos municípios paranaenses.
Poços são responsáveis por cerca de 20% do abastecimento de água dos municípios paranaenses.| Foto: Divulgação/Sedest

Com 1,2 mil poços de extração de água subterrânea operados pela Sanepar no Paraná, quase metade dos municípios do estado tem abastecimento feito exclusivamente por este sistema. Dos 399 municípios paranaenses, dos quais 345 contam com sistemas da companhia no estado, 179 usam apenas poços para ter água disponível.

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“Além disso, em 121 municípios o sistema é misto – usando poços e mananciais superficiais, sendo que somente em 45 há abastecimento exclusivo por águas de mananciais superficiais”, explica a Sanepar à consulta feita pela Gazeta do Povo. Em relação a volume de água, os poços contribuem com 21,5% do abastecimento, atendendo 2,5 milhões de pessoas.

A companhia extrai água de diversos aquíferos, Guarani, Paleozóico, Caiuá, Cristalino e Serra Geral, sobre o qual está a maior quantidade de poços e é o que oferece maior contribuição, em torno de 57% dos 175 milhões de m³ extraídos anualmente - o total de água tratada produzido pela empresa em 2021 foi de 767 milhões de m³.

Entre os municípios mais beneficiados pelas águas provenientes dos aquíferos, que são alcançados pelos poços estão Londrina, com 22 poços em operação, seguida de Toledo, com 20 poços, e Cascavel, com 19 poços. “Entretanto, Cascavel é a que produz mais água tratada a partir de poços operados pela Sanepar, mais de 7 milhões de m³ anuais, provenientes do aquífero Serra Geral, seguida de Colombo, que com 11 poços produz 5,6 milhões de m³ anuais com perfurações no aquífero Karst Cristalino”, cita a companhia.

Municípios, poços, volumes (milhoes m3) e aquíferos

  • Cascavel            19           7,1           Serra Geral
  • Colombo          11           5,5           Karst Cristalino
  • Toledo  20           5,9           Serra Geral
  • Londrina          22           4,9    Guarani/Serra Geral
  • Alm. Tamandaré  9        4,9           Karst
  • Maringá             8             4,4           Serra Geral
  • Apucarana         11           2,6            Serra Geral
  • Guaira  14           2,3            Serra Geral
  • S. Ant. da Platina 9       2,2            Guarani
  • Campo Largo     5           1,3            Karst Cristalino

Qualidade e vazão dos poços são avaliados

Quando se define por fazer uma perfuração, a qualidade da água é tão importante quanto a vazão daquele poço. Ao fazer a perfuração, a Sanepar realiza coleta e análise da qualidade da água. “São analisados parâmetros físico-químicos, bacteriológicos, organoclorados, organofosforados e metais, uma análise extremamente complexa e completa”, explica a companhia.

Uma das maiores vulnerabilidades dos aquíferos à contaminação se refere ao nitrogênio, particularmente por nitrato - NO3, tanto por fossas sanitárias ou redes de esgoto inadequadas (em solos urbanos), como pelo uso excessivo de fertilizantes (em zonas rurais). Somente após os resultados da análise, o processo de operacionalização tem seguimento.

Quando em operação, o monitoramento constante desses poços tubulares profundos é feito pela Sanepar, o que possibilita definir com maior precisão e confiabilidade as reservas disponíveis e os volumes que podem ser extraídos sem comprometer os mananciais.

Há monitoramentos mensais, semestrais e até contínuo, como as medições automáticas e instantâneas de 15 poços do Aquífero Karst, que abastece Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Itaperuçu e Rio Branco do Sul. Profundidade e vazão de cada poço são atualizadas a cada 60 minutos, associadas a um limite de segurança.

As informações dos poços explorados pela Sanepar geram boletins que embasam o estabelecimento de condições de exploração sustentável para cada poço em operação.

Estiagem exigiu poços artesianos em comunidade rurais

Durante a estiagem que atingiu o Paraná por 649 dias - e foi até janeiro deste ano -, quando tanto os mananciais superficiais quanto os subterrâneos tiveram redução de vazão, o governo do estado prometeu ampliar a abertura de poços artesianos na zona rural, gerenciados não pela Sanepar, mas pelos municípios e pelas comunidades rurais, para tentar contornar os impactos da seca.

Segundo reportagem feita pela Gazeta do Povo, seria iniciada a perfuração de 600 poços artesianos em quatro meses, de agosto a dezembro de 2021, através do programa Água no Campo, do Instituto Água e Terra (IAT),

Entretanto, segundo o instituto, consultado pela Gazeta do Povo, não foi o que aconteceu "porque os recursos a serem utilizados, da multa da Petrobras, foram congelados. A utilização dos recursos já foi aprovada pelo Conselho gestor do fundo e é importante para a segurança hídrica de diversos municípios do interior. O estado espera iniciar as obras assim que houver autorização do Poder Judiciário", diz o IAT.

Neste ano, pelo programa foram perfurados 74 poços. A média de perfuração do programa é de 150 por ano e essa meta deve se cumprir neste ano também, segundo informações do IAT.  Em 2020, haviam sido perfurados 171 poços artesianos pelo programa, divididos em 70 cidades, com uma vazão de 2,197 milhões de litros. No ano anterior, foram 120 os poços abertos no estado, em 51 municípios, com uma produção de 1, 731 milhão de litros de água.

Esses poços abertos pelo programa são monitorados por equipes a campo para fiscalizar os municípios, principalmente para cobrar a execução do convênio em todo o sistema de abastecimento. "Após a perfuração do IAT, o município deve viabilizar a implantação do SAC – Sistema de Abastecimento Comunitário, a fim de garantir a água na casa das famílias através das redes de distribuição", diz o instituto.

Seca pode ter levado a corrida por poços clandestinos

"Apesar de haver uma quantidade imensa de água disponível, as águas dos aquíferos não são um recurso infinito", ressalta Gustavo Athayde, professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná, no Simpósio Global sobre Soluções Sustentáveis de Água e Energia, promovido pela Itaipu Binacional e pela ONU, no primeiro semestre deste ano, em Foz do Iguaçu.

Athayde coordena o projeto Hidrosfera, que investiga o Sistema Aquífero Serra Geral, o que mais contribui para o abastecimento por poços no Paraná e alerta para quando o acesso aos poços é desordenado. "Durante a estiagem, houve uma corrida em busca de poços artesianos, o que pode ter efeitos deletérios", conta ele, citando que dos 33 poços monitorados por eles, apenas três não tiveram seus volumes reduzidos durante a seca, o que pode se dever tanto pela redução dos níveis das chuvas, quanto pelo aumento no número de poços à época.

O professor citou que, durante aquele período, triplicaram os documentos exigidos para perfurar poços recebidos pelo Crea-PR em relação a momentos anteriores, o que denota uma corrida pelos poços. “O cenário pode ser pior, visto que se calcula terem sido abertos três vezes mais poços, ao estimarmos também os clandestinos", afirma Athayde.

Entre os riscos de abrir poços sem liberação estão desde o rebaixamento do piso até poder causar o esgotamento de uma nascente de rio.

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