O projeto é audacioso: transformar a capital paranaense em um laboratório de cultura democrática de impacto global. Em vez de atuarem isoladas, mais de 100 lideranças e Organizações Não Governamentais (Ongs) decidiram agir em cooperação para incentivar a participação cidadã que transforma a rua, o bairro, a comunidade. A partir disso, o desafio será entender o que deu certo por aqui e como isso poderá ser replicado em qualquer outro lugar do país.
O projeto, chamado de Cidade Modelo, é liderado pelo Instituto Sivis, antigo Instituto Atuação, que está em Curitiba desde 2010. Ao longo deste ano (2019), foram promovidos vários encontros com o objetivo de responder a seguinte pergunta: por que há pouca participação do cidadão curitibano? Das respostas obtidas, quase todas convergiram para os seguintes pontos: faltam espaços para o convívio, falta capacitação para agir como cidadão e falta acreditar que é possível ser eficaz e fazer a diferença.
A partir desses entendimentos, uma série de estratégias foram criadas para favorecer o protagonismo cidadão. Essas diretrizes estão reunidas no “Agenda Comum”, documento elaborado com a colaboração de lideranças curitibanas e divulgado nesta semana (25/11), em evento promovido pelo Instituto Sivis.
A partir de agora, o Cidade Modelo deve enfrentar seu principal desafio, que é percorrer os caminhos traçados e avaliar os resultados. Em 2020, grupos de trabalho serão montados com Ongs de Curitiba para pôr em prática a Agenda Comum. O tripé das ações está baseado na valorização da cultura local, educação para cidadania e formação de lideranças regionais.
Artista solo ou orquestra?
Para o Relações Institucionais do Sivis, Jamil Assis, a aposta principal – que deve permear todas as ações do grupo – é a cooperação entre várias organizações sociais. “O artista solo traz muito resultado. Mas o que acontece é que, quando a orquestra toca, você vibra o teatro inteiro, uma cidade inteira, e tem muita gente tocando em conjunto”.
Abrir espaço para apoio mútuo e cooperação de diversos atores é o que tem feito, ao longo dos últimos anos, a diretora-executiva do Instituto Positivo, Eliziane Gorniak. O principal objetivo do Instituto é contribuir para o desenvolvimento da educação brasileira, em diferentes partes do país. Eliziane percorre os mais diversos municípios e afirma, com propriedade, que a conexão transforma realidades. “A gente percebe que as pessoas estão ávidas por soluções que sejam transformadoras e por fazer parte da mudança e não ser um agente passivo”, avalia.
Uma das estratégias do trabalho é buscar que servidores públicos atuem em conjunto para encontrar melhores saídas para um mesmo problema. Um exemplo é a possibilidade da formação de consórcios informais entre pequenos municípios, para que, juntos, encontrem soluções para problemas que, muitas vezes, são semelhantes. “O mais essencial é reconhecer no servidor público que eles são os principais agentes de mudança, apesar de toda dificuldade, de toda fragilidade. Quando mais nós ajudarmos a fazer a transformação, maior será o impacto social”, conclui.
E não são apenas institutos nacionais que têm essa percepção. Durante evento do Instituto Sivis, a pesquisadora do Laboratório de Ação para a Pobreza (J-Pal), Marina Lafer, falou sobre um experimento que mostrou a importância da união para transformar realidades. Ela contou sobre um trabalho realizado na Índia com a criação de grupos de apoio ao crédito, focados em mulheres. Segundo a pesquisadora, a iniciativa mostrou a importância de trocar experiências através do diálogo. “Ao aumentar a participação política a gente pode, de alguma forma, reduzir a pobreza, porque a gente traz o cidadão para mais perto do governo e aí a gente faz com que ele tenha consciência de direitos e deveres e cobre isso das autoridades”, pontua.
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