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Irmão Rogério Renato Mateucci, novo reitor da PUCPR.
Irmão Rogério Renato Mateucci, novo reitor da PUCPR.| Foto: João Borges / PUCPR

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) terá um novo reitor em 2022. O irmão marista Rogério Renato Mateucci, 50 anos, será o sexto e mais jovem reitor a comandar a universidade. A partir de janeiro, ele estará à frente de uma universidade com 33 mil alunos e 2,6 mil funcionários entre professores e colaboradores distribuídos em quatro câmpus - Curitiba, Londrina, Maringá e Toledo.

Como principais metas à frente da reitoria, Mateucci aponta o plano de inserir a PUCPR cada vez mais no cenário inovador da educação e de criar um atendimento cada vez mais personalizado para o estudante. Para isso, o novo reitor pretende expandir e qualificar ainda mais o ensino à distância, com previsão de que metade do orçamento da instituição seja gerado com essa modalidade de ensino até o fim do mandato em 2025.

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Outro planejamento é desenvolver um mecanismo de inteligência artificial que identifique dificuldades do estudante - seja de aprendizado ou financeira - para que a universidade possa interceder e ajudá-lo de imediato.

"A PUC Paraná oferece um jeito de fazer educação marcado por inovação, empreendedorismo, excelência e qualidade. Portanto, o grande desafio é dar uma resposta aos tempos atuais, em que as coisas e o conhecimento estão em um ritmo de mudança cada vez mais acelerado. Queremos oferecer formação integral a nossos alunos a tal ponto que esse conhecimento não se torne anacrônico rapidamente. Esse é o grande desafio", aponta o novo reitor.

O londrinense Mateucci foi empossado dia 7 de dezembro e assume de fato a reitoria em janeiro. Ele substitui o professor Waldemiro Gremski, que cumpriu dois mandatos como reitor, totalizando oito anos de gestão.

Pedagogo de formação, o irmão Mateucci é doutor em Administração, Liderança e Políticas de Educação pela Fordham Univesity de Nova York. Antes, foi diretor do Colégio Marista de Londrina de 2001 a 2004. Na volta do doutorado nos Estados Unidos, Mateucci foi diretor de Identidade Institucional da PUCPR e em 2016 tornou-se pró-reitor de Missão, Identidade e Extensão da universidade.

O novo reitor foi indicado ao cargo em 2021 pelo Conselho de Administração do Grupo Marista. A indicação foi aprovada pelo arcebispo de Curitiba e grão-chanceler da universidade, dom José Antonio Peruzzo, pela Nunciatura Apostólica em Brasília e pela Congregação para a Educação Católica no Vaticano.

Leia a seguir a entrevista com o novo reitor da PUCPR:

Qual o desafio de ser o reitor mais jovem de uma instituição tão tradicional como a PUCPR?

Já não sou mais tão jovem [risos]. O desafio é manter a universidade no ritmo de inovação, crescimento, relevância e excelência que conquistamos nos últimos anos. Hoje no cenário regional e mesmo nacional temos uma grande importância para a pesquisa e graduação. Nosso projeto de graduação talvez seja um dos mais inovadores entre universidades deste porte.

A PUC Paraná oferece um jeito de fazer educação marcado por inovação, empreendedorismo, excelência e qualidade. Portanto, o grande desafio é dar uma resposta aos tempos atuais, em que as coisas e o conhecimento estão em um ritmo de mudança cada vez mais acelerado. Queremos oferecer formação integral a nossos alunos a tal ponto que esse conhecimento não se torne anacrônico rapidamente. Esse é o grande desafio.

Hoje se imaginarmos cursos da área de engenharia, por exemplo, quanta coisa acontece no período de quatro anos em que o aluno entra e sai da universidade. É um período curto se pensarmos em tempo. Mas, se pensarmos em mudanças, é muito longo. O grande desafio, portanto, será essa atenção aos sinais do tempo, essencialmente no que diz respeito à educação.

O senhor citou que a PUCPR é uma das universidades mais inovadoras no ensino superior. O que a universidade já se destaca nesse sentido e o que a sua gestão poderá colaborar para avançar ainda mais?

No projeto de graduação, considero que a universidade tem um jeito de conduzir que mostra comprometimento com inovação. Aí há outras áreas: pesquisa, extensão. Mas na graduação nosso ensino tem metodologia ativa, projeto em que os alunos tomam uma parte muito propositiva de ação junto com os professores.

Fizemos investimento na universidade nos últimos anos que passa de R$ 10 milhões em salas propositivas de metodologias ativas. Todo o projeto de inovação é com valores que implementamos na graduação, fazendo com que os alunos se relacionem com o mundo não só a partir de sua profissão, mas de valores. Isso coloca no nosso currículo uma forma diferente de se relacionar com os alunos, algo inovador.

Qual a importância desses valores na formação profissional dos estudantes da PUCPR?

Hoje não dá para olhar apenas a competência profissional de quem se coloca no mercado, mas também deve ser levado em conta como essa pessoa se relaciona em seu mundo profissional. Então o estudante tem que ser formado também para a solidariedade, compromisso com o outro, resiliência, capacidade de olhar tudo o que está acontecendo e se posicionar de forma ética. São maneiras de formar o profissional integral.

Por isso temos disciplinas que perpassam esses conteúdos para todos os estudantes e fazemos isso a partir de algo que chamamos de eixo humanístico. Do aluno de medicina ao de filosofia, todos têm um conjunto de disciplinas que busca promover, discutir e formar para um jeito diferente de se relacionar. As disciplinas são Teologia e Sociedade, Ética, Filosofia e o Projeto Comunitário que é a atuação prática dos alunos a partir desses conteúdos.

Essas disciplinas são para todos os alunos e nos ajudam a entender o que está acontecendo na sociedade para que nossos alunos possam se posicionar no cenário da profissão que escolheram, pautados pelos nossos valores de humanismo cristão.

Como a sua gestão planeja evoluir nessa formação humanística?

Pautei meu discurso de posse no documento que saiu dois anos atrás do papa Francisco chamado Fratelli Tutti, que é a carta encíclica que, traduzida para o português, significa Somos Todos Irmãos. Dessa carta de oito capítulos eu trouxe a iluminação de como podemos olhar para o movimento de culto com preocupação de uma sociedade diferenciada. E aponto cinco caminhos, cinco passos que a gente vai olhar na universidade para fortalecer esses aspectos.

Quais são esses cinco passos?

O primeiro é o reconhecimento da realidade. Reconhecer a nossa situação e ter uma análise crítica dos aspectos do nosso mundo. A gente não pode ser ingênuo e não observar o que o papa chama de “sombras de um mundo fechado”. Se a gente reconhece esse mundo, como a gente deve se posicionar nele?

O segundo passo é a abertura. Reconhecer o outro que está na nossa história e como a gente deve se abrir para ele.

O terceiro passo é como essas duas realidades iluminam a vida universitária no que diz respeito ao tripé da pesquisa, reconhecimento da realidade e abertura ao outro.

O quarto passo é reconhecer os nossos documentos. Temos um plano de desenvolvimento institucional que orienta a universidade, temos um plano estratégico que começou ano passado e nos orienta por mais cinco anos. Eu era pró-reitor quando constituímos esse plano.

O último passo, o que vai ser a linha condutora de como fazer tudo isso, é a nossa identidade, marcada por ser pontifícia, católica e, no nosso caso, marista. Esses elementos constituem o DNA da nossa instituição e vão nos orientar no caminho de uma universidade cada vez mais alinhada à sua visão estratégica e de mundo.

O senhor pensa em expandir a universidade, em abrir mais cursos ou mais vagas? Quais as metas administrativas da PUCPR para a sua gestão?

Crescer em número de cursos, em números de vagas, o mercado não aponta para isso. O mercado aponta para mais vínculo com a inovação.

A gente olha para o cenário de mudança do ensino presencial para o ensino à distância, inclusive no cenário mundial. A PUCPR está olhando para essa situação e vamos crescer sim no ensino à distância, já que o cenário não só nacional, como mundial, têm apontado para isso. Mas vamos crescer no ensino à distância de forma qualificada. Não vai ser o ensino à distância que estamos acostumados a ver nas instituições, que é massificado. Não temos essa forma de atuação no nosso planejamento e nunca teremos.

Já estamos crescendo não só no ensino à distância como também no ensino híbrido. E outros produtos que já ofertamos também estão crescendo, como a pós PUC Premium Digital, que são todos os cursos de educação latu sensu em ensino nas plataformas de conexão à distância do estudante. Vamos ampliar por esses aspectos. Queremos também desenvolver com muita qualidade e competência a graduação presencial, conforme já fazemos e é o compromisso da universidade.

O que a educação à distância terá de diferente na sua gestão na PUCPR?

Um ensino à distância de quantidade, de números, massificado, em que a relação professor-aluno é muito diminuída, não nos interessa. Não teremos aulas gravadas, com menos interação entre aluno e educador. O ensino à distância que a PUCPR está propondo mantém a relação entre professor e estudante, mantém um jeito de trabalhar que não deixa de lado esse vínculo tão importante. Essa é a grande diferença.

Temos projeto constituído em que os professores não são substituídos por tutores. A relação de quantidade de professores por estudantes é mantida e qualificada. Não são grandes números de estudantes por turma. E a gente mantém algum projeto presencial para trazer esses alunos para dentro da universidade em determinados momentos. Como na Pós PUC Premium Digital, em que nos últimos momentos do curso os alunos vieram para uma interação na universidade nesse momento difícil que vivemos.

Esse vínculo à distância tem que ser com qualidade, não pode ser feito de forma robotizada, porque lidamos com pessoas. E no ensino híbrido temos alguns cases de avaliação para expansão também.

A ideia é de que se mantenha a qualidade no ensino em qualquer forma, seja presencial, à distância ou híbrido?

Exato. Sempre vamos buscar qualidade. Estamos conectados às mudanças que estão ocorrendo em tantas áreas, e a educação é só uma delas. Mas nunca abrindo mão de um ensino de excelência.

O senhor teria um número de quanto vai ser essa expansão do ensino à distância?

Temos hoje o orçamento da universidade muito ligado aos alunos presenciais. Cerca de 90% do orçamento da universidade está pautado no ensino presencial. Queremos o orçamento da universidade equilibrado em 50% de ensino presencial e 50% de ensino à distância. Queremos metade do orçamento da universidade baseado na graduação presencial e metade em outros negócios como Pós PUC Premium Digital, o próprio ensino à distância e outras frentes.

O senhor tem um prazo para alcançar essa meta?

Mais do que minha gestão, existe o planejamento estratégico da universidade. E esse planejamento corresponde ao final desse primeiro mandato da minha atuação como reitor. Então é 2025.

Qual a vantagem do aluno em estar matriculado no ensino à distância da PUCPR?

Tem um aspecto que é a personalização, um ensino individualizado em que o aluno pode fazer uma escolha no curso do que quer fazer e dos horários e formas que quer construir a carreira. Quando a gente pensa na atuação com o estudante, vamos oferecer algo mais pessoal, mais personalizado. Essa é a grande vantagem. Claro, a questão de horários flexíveis é uma vantagem, não dá para negar. Mas hoje temos que quebrar relações de distâncias. Se a pessoa estiver viajando, por exemplo, ela pode participar sem problema nenhum da aula. Mas mais do que isso é a personalização do ensino.

O país vive um momento difícil com inflação, desemprego e outros problemas econômicos. Em termos orçamentários, qual é o planejamento da PUCPR? As mensalidades podem subir?

A pandemia nos levou a ter uma atenção mais personalizada com nossos estudantes. Criamos nesse período aproximadamente 15 linhas para que os alunos pudessem concluir sua graduação, facilitando uma tensão nesse período difícil de desemprego, com muitas dificuldades nas famílias. Essa personalização também é o que nos orienta na relação universidade-estudante na questão financeira.

Temos que ter um vínculo e uma compreensão da individualidade de cada um. Não dá para colocar todo mundo diante da mesma situação, até porque há um critério nosso que é o de justiça. Se damos um desconto flat para todo mundo, como chegou a ser pleiteado num determinado momento, a gente não dá atenção individualizada para a necessidade de cada um dos casos. E fizemos exatamente isso.

Buscamos ofertar para cada um dos nossos alunos um atendimento individualizado. Todos que nos procuraram ao longo da pandemia buscamos atender. E isso fica como um aprendizado para o futuro, com uma atenção mais personalizada.

Também queremos implantar um sistema de detecção dessas questões para nos anteciparmos não só nas dificuldades financeiras, mas de reforço para o aluno que não está indo bem. Vamos nos ater a essa atenção ao aluno mais personalizada, seja nas finanças, seja na parte educacional.

Esse apoio de reforço educacional como seria?

Estamos estudando um sistema de inteligência artificial que cruza dados. Um aluno que teve muitas passagens pelos sistemas de atenção da universidade, como o serviço de orientação psicopedagógica, ou que está com muitas faltas, por exemplo. O sistema lê tudo isso e conseguimos detectar o que está acontecendo com o aluno para ter uma atenção pró-ativa, não esperar para perceber esse problema, já que a quantidade de alunos é muito grande. Essa inteligência artificial vai nos ajudar bastante.

Esse sistema pode ser usado, por exemplo, se o aluno estiver com notas baixas, se estiver atrasando a mensalidade, se estiver com muitas faltas... Poderemos interagir com esse aluno a partir da detecção desse sistema e não ficar esperando para agir só quando o aluno vem até nós. Hoje, os sistemas da maioria das universidades não são integrados: o sistema financeiro é um, o sistema acadêmico é outro. Quando ele atrasa mensalidade, o sistema financeiro detecta, mas o acadêmico não. Com a inteligência artificial, poderemos avaliar se o problema é só financeiro ou se o aluno também está com problema de desmotivação, se há falta de atenção do coordenador do curso. Assim a gente consegue ser pró-ativo.

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