
Os “anos de chumbo” da ditadura militar no Brasil coincidiram com a ascensão do então jovem advogado René Dotti no cenário jurídico paranaense. Defensor de perseguidos políticos, Dotti - que faleceu nesta quinta-feira (11), aos 86 anos - se destacou por conseguir, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o primeiro habeas corpus em favor de jornalistas denunciados à Justiça Militar com base na Lei de Segurança Nacional de 1964.
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Em 1965, 43 jornalistas paranaenses, a maioria dos jornais Última Hora e Diário do Paraná, foram denunciados por causa de sua atuação profissional com base na Lei de Segurança Nacional. “O jornal Última Hora provocou uma revolução nos hábitos e costumes locais, produzindo, inclusive, uma crítica muito persistente a costumes deteriorados no país e nas relações políticas e sociais no âmbito estadual”, declarou Dotti, em entrevista ao livro “Advocacia em Tempos Difíceis”. Os jornalistas foram afastados de suas funções e não puderam atuar até a concessão do habeas corpus.
“René Dotti era um jovem advogado escolhido pela classe para coordenar um grupo de profissionais, alguns veteranos, para sair em defesa dos jornalistas indiciados em processos no período da ditadura”, lembra Cícero Catani, um dos jornalistas indiciados. “Surpreendeu-me o fato de ser o mais jovem de todos. Coube a ele, inclusive, entrar com recurso de Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), onde fez a defesa e, depois de ter perdido em outras instâncias, ele, surpreendentemente, saiu-se vitorioso. Foi o primeiro Habeas Corpus libertando políticos e os inimigos do movimento de 64”, conta. “Essa é a lembrança que eu tenho do grande profissional e de uma figura humana espetacular”, resume.
Outro jornalista defendido por Dotti à época foi Luiz Geraldo Mazza. “Ele era um dos principais advogados da equipe que se incumbiu da defesa dos jornalistas indiciados na Justiça Militar. Fomos atingidos pelo Ato Institucional do governo federal, fomos afastados de nossas funções e ficamos aguardando os desdobramentos daquele processo, no qual o René teve um desempenho excepcional”, lembra o jornalista. “E ele agiu de uma forma absolutamente fraterna, na defesa da causa e, conhecedor da situação dos jornalistas, não cobrou pelos serviços prestados. Um serviço primoroso, num processo complicado, como tudo aquilo que ocorria naqueles anos de chumbo”, destaca, lembrando que Dotti também foi seu colega de imprensa, escrevendo críticas de teatro no jornal Diário do Paraná.
Para Mazza, o “Paraná fica mais pobre com a perda de um talento vigoroso e inspirado como o do criminalista René Dotti. É um dos nome da criminalística brasileira, que esteve presente nos estudos de codificação do direito criminal da nossa legislação, o que dá uma ideia da dimensão de quem foi René Dotti”.
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