• Carregando...
Roseli Abrão morreu aos 74 anos, em Curitiba
Roseli Abrão morreu aos 74 anos, em Curitiba| Foto: Divulgação

Na época em que não havia internet para ajudar na democratização de informações, existia entre os jornalistas um apego pela agenda de contatos e fontes construída por cada um ao longo dos anos de experiência. A jornalista especializada em política Roseli Abrão – que faleceu no dia 23 de novembro, aos 74 anos, por um tumor cerebral – rompia com esse ciclo.

Garanta as principais notícias do PR em seu celular

Além de compartilhar a preciosa agenda com colegas em início de carreira, levava uma generosidade extrema a outros aspectos da profissão e da vida, dando dicas, revisando textos e ensinando atalhos. Foi uma das primeiras jornalistas políticas do Paraná e abriu esse caminho para novas gerações de mulheres.

Nasceu em Guarapuava (PR) e mudou-se em definitivo para Curitiba com a família para estudar. Concluiu a graduação em Jornalismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1972. Trabalhou um período dando aulas em grupos escolares, mas em seguida passou a se dedicar totalmente à apuração e escrita de notícias, primeiro em editorias gerais e depois apenas na área política. Como repórter e editora, atuou em veículos como a sucursal de Curitiba da Folha de Londrina, Correio de Notícias, Diário Popular e O Estado do Paraná.

Assinou colunas de bastidores da política paranaense nos jornais Hora H e Hora H News. Escreveu sobre momentos marcantes da história recente do estado, como a privatização do Banestado e a implementação do pedágio nas estradas do Paraná. A colega jornalista e amiga Débora Iamkilevich lembra do tempo em que dividiam espaço na área de imprensa da Assembleia Legislativa e de como Roseli era respeitada por colegas, leitores e fontes. Sempre estava à caça da notícia e era constantemente procurada por políticos que lhe forneciam informações por confiar em seu processo jornalístico.

Roseli Abrão ensinava a escrever sem enrolação

“É importante ressaltar o pioneirismo dela, porque foi repórter política [mulher] em uma época de ditadura militar. Ela nos ensinava a ser concisos, precisos e objetivos, sem enrolação”, lembra Débora. Além da atuação em redações, também trabalhou em campanhas eleitorais, como assessora de políticos e manteve um blog por cerca de 15 anos. Esteve na Agência Estadual de Notícias durante os governos Álvaro Dias e Roberto Requião e foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Para ela, era impossível ficar parada. Mesmo depois de aposentada, continuou trabalhando. Agora, os colegas pleiteiam que o comitê de imprensa da Assembleia receba o nome de Roseli Abrão.

Devorava livros inteiros como se fossem tira gosto. Com base nos dados de um clube de assinatura de títulos do qual ela fazia parte desde 1998, calcula-se que tenha lido, somente de lá para cá, e sem contar os livros que ela conseguia de outras maneiras, 2.124 livros. Lia em média três livros por semana e seus autores favoritos eram Frederick Forsyth e Ken Follett, de quem tinha todos os livros publicados. A leitura deixou uma marca perene em sua vida, pois conheceu o marido, Antonio da Cunha Santos, na Biblioteca Pública do Paraná, há mais de 45 anos. “Ela gostava muito, era viciada em ler. Gostava de ficção, romances históricos. Sempre que podia ela estava com um livro, levava junto para os lugares”, lembra ele.

Entre suas demais paixões estavam o cinema, era fã de Al Pacino e Robert De Niro, o Athletico-PR, as músicas de Paulinho da Viola e Cauby Peixoto e a sede por informação. “Não só pela profissão, mas porque ela gostava. Assistia todos os jornais, tinha um conhecimento vasto e opinião formada sobre todos os assuntos”, completa Antonio. As demonstrações de carinho de Roseli vinham, muitas vezes, em forma de comida, como um bolo natalino, um típico quibe árabe ou o bolo de chocolate que a neta Valentina adorava. Roseli deixa marido, três filhos e três netos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]