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O procedimento já foi testado em 14 pacientes e garantiu ao paranaense o 1º lugar no Prêmio de Inovação Médica da Veja Saúde e Dasa
O procedimento já foi testado em 14 pacientes e garantiu ao paranaense o 1º lugar no Prêmio de Inovação Médica da Veja Saúde e Dasa| Foto: Arquivo pessoal/ Reitan Ribeiro

Ver as preocupações de suas pacientes diagnosticadas com câncer na região pélvica e a tristeza que demonstravam pelo alto risco de não poderem engravidar após o tratamento levou o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro a desenvolver uma técnica inédita para preservar a fertilidade dessas mulheres.

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Realizado pela primeira vez em 2017, em Curitiba, no Paraná, o procedimento já foi testado em 14 pacientes e garantiu ao paranaense o 1º lugar no Prêmio de Inovação Médica da Veja Saúde e Dasa, categoria Inovação em Tratamento, realizado em novembro.

Segundo ele, a técnica consiste em transferir o útero e os ovários para a região superior do abdômen durante o período em que a mulher passará por radioterapia, procedimento que pode danificar gravemente os órgãos reprodutores. Depois que o tratamento é concluído, a paciente retorna à sala de operação para que o útero e os ovários sejam recolocados na pelve.

“Até agora, três pacientes tentaram engravidar após o procedimento e duas conseguiram espontaneamente, gerando bebês saudáveis”, comemorou Ribeiro, ao afirmar que o resultado é animador. “Afinal, a radioterapia na pelve, ainda que não seja diretamente no útero, teria causado esterilidade nessas pacientes”, informa.

Como é realizada a cirurgia de transposição uterina?

De acordo com o especialista, a cirurgia é minimamente invasiva e pode ser realizada de forma laparoscópica ou com uso de robô. Na primeira opção, são realizadas pequenas incisões de até um centímetro por onde passam instrumentos utilizados para o procedimento e uma câmera para guiar o cirurgião pela cavidade abdominal. Já na segunda opção, as ações são conduzidas pelo médico e executadas por braços robóticos, que permitem operar por incisões ainda menores e sem tremores.

“Então, usamos os vasos sanguíneos para movimentar o útero cerca de 20 centímetros acima, já que dois vasos dele vêm da parte superior do abdômen e outros dois estão na parte de baixo, o ligando à pelve”, explica o cirurgião, que “solta” o útero e o move até a região abaixo das costelas.

De acordo com ele, a paciente nem percebe a diferença, pois o útero tem volume próximo à metade de um punho, então fica imperceptível na região do abdômen. “Além disso, as funções ovariana e uterina continuam normais, a mulher apresenta poucos sintomas e, em 15 dias, já pode retomar sua rotina”, informa o médico.

Quanto custa o procedimento?

Atualmente, a técnica é realizada gratuitamente no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, dentro de protocolos de pesquisa. Por isso, interessadas precisam apenas procurar o hospital com encaminhamento médico e solicitar avaliação para serem integradas ao estudo. Se aceitas, as pacientes não terão nenhum custo, já que o hospital e os médicos participantes não recebem honorários para a realização das cirurgias.

A indicação da transposição uterina, de acordo com o especialista, é para mulheres em idade fértil que apresentem câncer pélvico não ginecológico, ou seja, que não atinja especificamente útero, trompas ou ovários.

A técnica pode ser realizada em hospital de médio porte

Ainda segundo Ribeiro, o procedimento pode ser implementado em qualquer hospital de médio porte e pode ser “incorporado ao tratamento de câncer fora do protocolo de pesquisa e oferecido pelo SUS”, em breve. Para isso, a ideia do cirurgião é ensinar o procedimento a outros médicos com o objetivo de beneficiar o máximo de pacientes que precisem resguardar seus órgãos reprodutivos durante tratamentos agressivos como a radioterapia e a quimioterapia.

No Brasil, cerca de 625 mil casos de câncer são diagnosticados a cada ano, sendo 316 mil em mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apenas no Paraná, o total de casos chega a 35 mil, com 16 mil mulheres afetadas anualmente. Dessas, cerca de 13% estão em idade fértil, abaixo dos 50 anos.

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