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Teste de coronavírus.
Teste de coronavírus.| Foto: Fundação Araucária/Divulgação

A identificação precoce de pacientes assintomáticos de Covid-19 e a adoção de regras próprias de vacinação foram estratégias adotadas pelas prefeituras de Cascavel e Francisco Beltrão como forma de enfrentamento à pandemia. Para tanto, as autoridades locais de Saúde contaram, entre outras ações, com a testagem em massa da população dos municípios e a adoção de leis locais mais abrangentes quanto à imunização. Os resultados, como apurou a reportagem da Gazeta do Povo, têm se mostrado promissores.

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Em abril, a Prefeitura de Cascavel deu início a um projeto-piloto que previa, entre outras ações, a testagem em massa de moradores do Conjunto Riviera, um dos mais afetados pela pandemia naquele momento. Havia também o interesse de garantir o retorno às aulas presenciais na rede pública municipal de Educação, o que fez com que um projeto de lei fosse aprovado na Câmara de Vereadores incluindo professores e profissionais do setor entre os primeiros grupos prioritários das vacinas.

Miroslau Bailak, secretário municipal de Saúde de Cascavel, comemorou os resultados de ambas as ações. Em entrevista por telefone, o secretário afirmou que a ação de vacinar mais pessoas do que as previstas inicialmente nos planos estadual e nacional de imunização deu fôlego para prevenir a chegada de novas variantes à cidade, como a Delta – já considerada como tendo transmissão comunitária em todo o Paraná pela Secretaria Estadual de Saúde.

“Não temos nenhum caso da variante Delta, mas isso não quer dizer que não possamos vir a ter. Talvez a gente consiga escapar pelo fator vacinação, e consigamos mantê-la fora. Onde está aparecendo é justamente onde há baixa vacinação. Aí pega mesmo. Tivemos uma lei municipal que garantiu essa vacinação dos professores da rede básica de ensino. E nós vacinamos principalmente nos locais onde os números da Covid estavam piores. Isso deu um resultado excelente, porque os números da pandemia caíram muito forte nessas regiões. Vacinamos todos, independentemente de faixa etária, que estavam na escola. Isso não estava no programa nacional de imunização naquele momento”, comentou o secretário.

Segundo ele, essa desobediência também mostrou bons resultados entre as gestantes. Bailak explicou que as primeiras doses recebidas para essas mulheres foram destinadas somente àquelas com outras condições associadas que poderiam dar origem a casos mais graves da Covid-19. Mas a orientação dada às equipes de imunização foi de vacinar todas as grávidas, sem distinção.

“Aqui nós decidimos vacinar todas as gestantes, mesmo as sem comorbidades. Depois disso, nós tivemos 10 gestantes internadas por Covid, duas ficaram em estado grave e uma morreu. Nenhuma delas tinha sido vacinada. Entre as vacinadas, quando houve internação por Covid, foram casos leves da doença”, detalhou.

Testagem em massa

No começo da ação do projeto-piloto, o município recebeu material para testagem com o prazo de validade muito curto, o que de acordo com o secretário acabou atrasando o processo. Recentemente houve, segundo Bailak, o compromisso de envio de 10 mil testes por parte do Ministério da Saúde. Cerca de metade desses testes já foi utilizado; outros 3 mil devem começar a ser aplicados a partir da segunda semana de agosto.

“São testes um pouco diferenciados, que nós vamos colocar nas UPAS. É um teste rápido, mas com coleta de material da faringe. Em 40 minutos sai o resultado, e se for positivo o mesmo material que foi para o laboratório vai ser usado em outro teste, de RTPCR, para validar o positivo. Onde der esse positivo, vamos abordar o entorno do paciente, a família, vizinhos que tiveram contato. Estamos começando essa abordagem nesta semana, porque caiu muito o número de casos de novos contaminados”, explicou.

A queda a que se refere o secretário é verificada nos boletins diários da pandemia em Cascavel. Em 13 de abril, quando o projeto-piloto teve início, a Saúde contabilizava 740 casos ativos de Covid – pessoas que estavam com potencial de transmissão da doença. No boletim mais recente, de 3 de agosto, este número caiu para 245 casos ativos. A taxa de ocupação de leitos de UTI Covid caiu pela metade no período, de 100% em abril para 47% em agosto.

Resultados parecidos aparecem também no Sudoeste do Paraná. Em junho, a Prefeitura de Francisco Beltrão deu início à aplicação de pouco mais de 5 mil testes de Covid-19 para a população em geral. O cenário, segundo o secretário municipal de Saúde Manoel Brezolin, era preocupante. À reportagem, ele confirmou que a maioria dos pacientes que foram identificados como positivo nos exames de Covid-19 tinha pouco ou nenhum sintoma associado à doença.

“Boa parte sentia uma leve dor no corpo, outros não perderam nada de olfato e paladar, então essas pessoas acabaram não associando os sintomas que tinham à Covid. As pessoas estavam contaminadas com o coronavírus, possivelmente transmitindo a Covid para outas pessoas, e não acreditavam que tinham a doença. Tinha muito daquilo ‘não acordei muito bem hoje, mas acho que não, não há de ser nada, é só uma dorzinha no corpo’. A gente insistiu para que essas pessoas tirassem a dúvida fazendo o teste e o resultado era positivo”, explicou.

A partir da identificação foi possível isolar os contaminados para interromper o fluxo de transmissão da doença. Um trabalho que, de acordo com Brezolin, foi facilitado pela aplicação dos testes mesmo em quem não acreditava ter a doença.

“Quem tinha sintoma gripal ou entendia que outros sinais poderiam indicar a Covid acabou indo por conta própria à UPA ou nas unidades de Saúde para fazer o exame. As outras provavelmente só procurariam ajuda médica se o quadro piorasse. Mas, enquanto isso, enquanto achavam que poderia ser uma alergia ou qualquer outra coisa, essas pessoas continuavam trabalhando, circulando pela cidade e possivelmente transmitindo a doença. A partir do momento que positivou, e só aí, começaram a se isolar”, ponderou.

No início do período de testagens, em meados de junho, Francisco Beltrão registrava 666 pacientes em estado ativo da doença. O boletim mais recente da pandemia na cidade, de 3 de agosto, mostra que esse número caiu significativamente, e registra 80 casos ativos da doença – destes, 13 estão internados, 4 em vagas de UTI. O número de novos casos por dia caiu de 70 para 15 durante o período. Agora, a prefeitura trabalha com a busca ativa das pessoas que tiveram contato com quem foi positivado nos testes.

“A grande maioria das pessoas entendeu a necessidade e seguiu o isolamento, o que foi importante junto com as outras medidas que nós nunca abandonamos. Nós trabalhamos também estendendo a testagem para os contatos das pessoas que deram positivo. Isso foi feito com as pessoas com quem esse paciente tinha contato, com as pessoas que trabalhavam na mesma empresa. Quem não tinha sintomas e não tinha tido contato com nenhum caso positivo testou negativo. Já aqueles que tiveram contato com alguém contaminado e tinham relatos de que não estavam se sentindo bem, uma dorzinha de cabeça, uma coriza leve, esses acabam testando positivo”, alertou.

Identificação de assintomáticos quebra transmissão da Covid

Segundo o médico infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, identificar os casos positivos de Covid-19 é fundamental para que se possa isolar esses pacientes e assim conter o avanço da doença. O maior risco trazido pela subnotificação, como explica o médico, é o fato de potencialmente haver mais pessoas infectadas transmitindo a doença.

“Se você tem um caso que não é identificado, essa pessoa provavelmente não vai se isolar. Ela pode ser assintomática, pode achar que está com um resfriado bobo, ou mesmo uma rinite. E esse quadro pode não ser grave para esse indivíduo, mas ele pode transmitir o coronavírus para outras pessoas. Essa cadeia de transmissão segue sendo perpetuada, e faz com que o vírus atinja uma pessoa idosa, vulnerável, que pode então desenvolver a forma grave da doença”, avaliou Almeida.

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