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Volkswagen
Fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais| Foto: Fernando Ogura/ANPr

Tendências como eletrificação, conectividade, mobilidade compartilhada e direção autônoma transformarão a indústria automotiva nos próximos dez anos. E toda a cadeia produtiva do setor no Paraná precisará se adaptar a esse cenário se não quiser sucumbir. Para isso, precisará executar uma série de ações consideradas críticas, como investimento em PD&I, capacitação de recursos humanos, articulação intersetorial e até mesmo tratativas com os diversos níveis de poder do estado visando a mudança de regras para o setor.

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Um estudo organizado pelo Observatório do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) se propõe a apontar o caminho para atravessar esse cenário. Lançada nesta terça-feira (19), a publicação, chamada de Rota Estratégica para o Futuro da Indústria Paranaense – Automotivo e Autopeças 2031, traça as barreiras que montadoras, fabricantes de autopeças e prestadores de serviço do segmento enfrentam e um total de 409 iniciativas que podem ser tomadas, em uma agenda conjunta, em curto, médio e longo prazos.

O investimento em PD&I e tecnologia é a área que concentra a maior quantidade de demandas: 102. Uma das principais transformações já em andamento diz respeito à eletrificação das frotas, na qual a indústria local ainda caminha alguns passos atrás. “Vimos na semana passada o encerramento da produção da Ford no Brasil, que está relacionado, em grande medida, ao ajuste da matriz às transformações tecnológicas”, diz a gerente executiva do Observatório do Sistema Fiep, Marília de Souza, que organizou o estudo.

“A Europa tem normas que definem que a partir de 2035, não será permitido produzir veículos a gasolina ou a diesel, mas com o endurecimento das normas de emissão discutidas por órgãos regulatórios europeus, a tendência é que esse prazo seja antecipado. Na Alemanha, a Volkswagen produziu em julho de 2020 seu último carro a combustão. Se queremos competir com o mercado internacional, vamos ter que nos ajustar a esse novo cenário”, avalia.

Marcos Vinicius Aguiar, diretor de relações institucionais e governamentais da Renault do Brasil, concorda. “Você tem requisitos legais de emissão de poluentes, então você precisa desenvolver novos motores, novas tecnologias, veículos híbridos, elétricos, uma série de componentes. Tem ainda a área de segurança veicular, carregando componentes que são caros. Precisamos diluir esses custos aqui no Brasil e dar volume de produção e competitividade para a indústria”, disse, durante o evento de lançamento da rota estratégica.

As mudanças impactam diretamente outros elos da cadeia, ressalta Alexandre Parker, diretor de responsabilidade corporativa e institucional da Volvo do Brasil. A indústria vai precisar passar por mudanças no foco estratégico. “O que se faz hoje talvez não seja mais necessário em breve. Vai haver muito menos manutenção, a reposição de peças vai ser muito menor. Isso tem que estar nessa equação, de como olharmos para a indústria automotiva paranaense daqui para o futuro”, destacou. “Vamos passar por uma mudança de paradigma muito grande.”

Nesse sentido, é fundamental que haja parceria das indústrias com segmentos como o de reparação para que o setor se desenvolva como um todo, avalia Sandro Cruppeizaki, proprietário da Mecânica Beto e vice-presidente do Sindicato das Empresas de Reparação de Veículos do Paraná (Sindirepa-PR). “No início da injeção eletrônica veicular, final da era da carburação, passamos por uma grande mudança tecnológica, que demandou bastante conhecimento sobre os sistemas que estavam chegando e a respeito de equipamentos para poder trabalhar com esses sistemas”, disse. “O que o Sindirepa percebe, e a Rota corrobora, é que novamente chegamos a esse ponto. Vamos precisar novamente de capacitação, de parceria com os fabricantes, com as montadoras, para que esse conhecimento possa ser transferido para a reparação.”

Ainda no evento, Max Forte, presidente da Brose do Brasil e diretor do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças-PR), ressaltou que a mudança de paradigmas não deve se restringir à criação de produtos. “A inovação tem de ser considerada como uma mudança completa do mindset de toda a organização”, diz. “É lógico que as empresas devem ter uma área específica de inovação potencialmente ligada ao lançamento de novos produtos diretamente ao mercado. Mas a gente acredita muito no ponto em que, para se ter uma empresa inovadora, não basta ter essa área – tem que ter uma mudança cultural na organização.”

Para o diretor da Renault, no entanto, há outro grande entrave que a indústria automobilística paranaense, e a brasileira, de forma geral, enfrenta: o chamado custo Brasil. “Precisamos acabar, no menor prazo possível, com os gargalos que o Brasil tem, principalmente em logística e no sistema tributário, que nos tiram a competitividade”, disse Aguiar.

Mudanças em políticas de estado estão entre as ações que o estudo elaborado pela Fiep classifica como críticos para o desenvolvimento do setor automotivo no Paraná. São, ao todo 61, medidas relacionadas a questões burocráticas, trabalhistas, tributárias, alfandegárias e logísticas, por exemplo, consideradas necessárias para o avanço do setor. “Existe um certo desespero das empresas, que não encontram as condições necessárias para se tornarem competitivas”, diz Marília. “Por mais esforço que façam, o conjunto de regras elimina a competitividade que poderia ser obtida em termos de gestão, de produção ou de desenvolvimento tecnológico.”

Para ela, a construção de um documento como o organizado pela Fiep dá peso para articulações multisetoriais frente aos diversos níveis de estado. “É um planejamento de longo prazo e elaborado coletivamente, o que confere valor para articulação do setor como um todo. Por criar espaços de interação e diálogo, cria circunstâncias em que segmentos possam se enxergar em um espaço de cooperação”, afirma. “As associações, federações e sindicatos vão usar o material como referencial sobre a demanda da cadeia produtiva, o que faz com que pedidos aos diversos poderes tenham mais peso.”

Indústria automotiva no Paraná

Além da Renault e Volvo, o estado do Paraná abriga linhas de produção de outras montadoras multinacionais de veículos como a Nissan, a Volkswagen/Audi, e a DAF Caminhões Brasil; de maquinário, como a New Holland e a Caterpillar; de motores, como a Fiat Chrysler e a Paccar; e de pneus, como Dunlop. A produção dessas empresas abastece o mercado doméstico e de países da América do Sul, Europa, Ásia e Estados Unidos.

O estado paranaense é o terceiro, atrás de São Paulo e Rio Grande do Sul, no total de estabelecimentos da cadeia automotiva no Brasil, com 11% do número de indústrias do ramo. As 496 empresas do setor com sede no estado estão localizadas em 97 municípios – a região metropolitana de Curitiba concentra 35,3% do total.

Em termos de geração de empregos, o Paraná tem um total de 36.489 postos de trabalho formais na cadeia automotiva, figurando como o quarto maior empregador do setor no país, atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, respectivamente. Além disso, a cadeia automotiva paranaense paga ao trabalhador um salário médio de R$ 4.269,04, o segundo maior do país, atrás apenas do paulista, e 1,3% maior que a média nacional.

Já em relação ao comércio internacional, o Paraná é o segundo foi o maior exportador de produtos da cadeia automotiva e de autopeças no ano de 2019, com vendas que somaram US$ 1,7 bilhão; e também o segundo maior exportador (US$ 1,9 bilhão), ficando atrás apenas do estado de São Paulo nos dois indicadores.

“Quando nosso estado era eminentemente agrícola, vivíamos como se fosse um pêndulo: em ano de safra e preços bons, a economia andava; em outro ano, quando o preço e a produção eram baixos, o pêndulo ia para o outro lado. A indústria paranaense foi complementada com a implementação da cadeia automotiva. Nosso estado hoje é o quarto maior do país”, lembrou o presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro.

Rota estratégica

O trabalho de construção da rota estratégica para o setor automotivo e de autopeças do Paraná começou em 2005, quando o Observatório da Fiep mapeou setores portadores de futuro para a década seguinte. Em 2008, foram criados cenários para a indústria automotiva visando o horizonte de 2020. Em 2015, foi realizado um novo ciclo de identificação de áreas promissoras, entre as quais o setor automotivo voltou a figurar.

De lá para cá, uma série de análises e atividades preparatórias foram realizados para a elaboração do estudo, incluindo dois painéis de especialistas organizados em 2019, além de entrevistas, visitas presenciais e, mais recentemente, reuniões virtuais, em razão da pandemia do novo coronavírus. Ao todo, participaram da elaboração do estudo 110 especialistas de 68 diferentes instituições públicas e privadas.

As 409 ações de curto, médio e longo prazos consolidadas foram divididas em seis áreas, chamadas de fatores críticos: articulação intersetorial; infraestrutura; mercado; PD&I e tecnologia; política de estado; e recursos humanos. A publicação traz ainda 45 tendências e tecnologias-chave que precisam ser dominadas pelas indústrias na rota estratégica até 2031 – algumas delas definidas após o início da pandemia de Covid-19, como economia de baixo contato, a-commerce, vigilância em massa, sociedade 5.0, concessionárias virtuais, serviços de assistência remota e sistemas de autolimpeza.

Acesse a íntegra da Rota Estratégica para o Futuro da Indústria Paranaense – Automotivo e Autopeças 2031

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