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Clientes de operadoras de telefonia celular têm muitas reclamações sobre o serviço. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Clientes de operadoras de telefonia celular têm muitas reclamações sobre o serviço.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o nível de qualidade da telefonia móvel no Brasil aumentou nos últimos anos. Ainda assim, clientes reclamam de problemas na prestação de serviço: falta sinal, a ligação falha, a conexão com a internet é lenta ou não existe em certos pontos. Isto acontece porque a ampliação da infraestrutura não acompanhou o crescimento da demanda pelo serviço.

A explicação do descompasso está na burocracia para instalação de novas torres, queda nos investimentos e no imbróglio em que as operadoras alegam falta de tecnologia para cumprir metas estabelecidas nos leilões para atender cidades do interior e trechos de estrada. Parte das operadoras anunciou investimentos no Paraná, sem detalhar o plano de expansão.

DICAS para não ficar sem sinal

O Brasil possui 229 milhões de linhas de aparelhos celulares, dos quais quase 13 milhões estão no Paraná, de acordo com levantamento da Anatel divulgado em fevereiro. Para suprir a demanda, o mapa da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil) mostra que o estado possui 5.597 Estações Rádio Base (ERB) – as antenas de celular. Estrutura que, segundo especialistas, está defasada, porém, dentro da média nacional. Na comparação com os estados do Sul ficamos atrás dos gaúchos, que possuem 6.075 antenas para atender demanda semelhante à do Paraná e à frente dos catarinenses, que concentram 3.791 ERBs para dar conta de um número bem menor de linhas – pouco menos de 8 milhões.

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Outro detalhe importante é que grande parte das antenas está posicionada nas cidades com maior concentração de pessoas, que é o mercado consumidor. A capital, naturalmente, concentra de longe o maior número. São 1.299 ERBs para atender os curitibanos. Londrina, segunda mais populosa do Paraná, detém 318. Os municípios com menor número de habitantes possuem estrutura muito menor, como Ventania, por exemplo, que tem quatro antenas.

A relação entre antenas e volume de pessoas conectadas faz sentido. Quanto mais celulares, normalmente, mais antenas são necessárias. Também são levadas em consideração outras variáveis, como obstáculos. Os prédios, por exemplo, interferem na propagação do sinal. O problema é que o sinal de ondas emitido por cada ERB tem limite de distância. Mesmo que o mercado consumidor de uma cidade pequena não exija muitas torres, se a pessoa estiver muito longe da antena da sua operadora ela não vai conseguir sinal.

“Dimensionar uma rede de celular é complicado. Tem que fazer uma projeção de tráfego na determinada região, realizar estimativas, quanto de frequência e banda estão disponíveis. Mas a insatisfação dos usuários normalmente está ligada ao dimensionamento para a demanda que não atende”, detalha Ricardo Cassiano Nabhen, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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Menos insatisfeitos

Se por um lado é necessário acelerar investimentos, do outro as empresas vêm alcançando conquistas. Desde 2013, a Anatel divulga o Relatório de Indicadores de Desempenho Operacional do setor. São avaliados 14 itens, que incluem qualidade da banda larga, cobertura, interrupções de chamadas, taxas de reclamações, de ligações completadas e de download. Nos últimos anos, o percentual de indicadores que atingem as metas estabelecidas pela agência cresceu.

Em 2015, o índice geral foi 68,56%, enquanto no último levantamento de 2018 (computados os meses até setembro) o resultado subiu para 71,9%. O Paraná acompanha a média nacional, que possui cumprimento de metas na faixa entre 70% e 80%. Somente quatro estados estão abaixo deste índice – Amazonas, Pará, Maranhã e Bahia. Nenhuma unidade da federação alcança os patamares mais altos, acima de 80%.

A quantidade de insatisfeitos que procura a Anatel vem caindo nos últimos anos. Em 2018, o índice foi 13,6% menor do que no ano anterior. No total, foram recebidas 2,9 milhões de reclamações nos canais de atendimento da agência, relacionadas a todos os serviços de telecomunicação que incluem telefonia e internet fixa, celular e TV por assinatura. Porém, a telefonia móvel segue como o campeã das queixas que, mesmo com diminuição em relação a 2018, chegaram a quase 1,4 milhão – somando as modalidades pré e pós-pago. As principais reclamações estão relacionadas à cobrança e qualidade. De acordo com o Procon-PR, o serviço também continua liderando o ranking de insatisfeitos que ligam para o órgão no estado.

Isto [o aumento da demanda com a recuperação da economia] vai exigir mais infraestrutura e tecnologias. Se as operadoras não executarem o plano de expansão na velocidade necessária, a qualidade vai cair

Ricardo Cassiano Nabhen coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

“A qualidade do sinal não é limitação de tecnologia, o problema está relacionado à infraestrutura das operadoras”, explica Nabhen. Na medida em que a economia recuperar fôlego, o que já está ocorrendo, a demanda pelo serviço vai aumentar. “Isto vai exigir mais infraestrutura e tecnologias. Se as operadoras não executarem o plano de expansão na velocidade necessária, a qualidade vai cair”, adverte Nabhen.

De acordo com representantes do setor, existem complicadores que dificultam o incremento de estrutura física. “As operadoras de telecomunicações enfrentam grandes problemas para realizar as expansões das redes móveis”, destaca Helio Bampi, vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).

Entre as dificuldades apontadas pelo executivo está o marco regulatório, elaborado em 1998 e considerado ultrapassado. Na época, o conjunto de leis foi definido em cima das chamadas de voz. “Hoje, a sociedade demanda conexão por banda larga em alta velocidade”, destaca. Para o vice-presidente da Fiep, o Projeto de Lei das Telecomunicações (PL 79/2016), que tramita na Câmara Federal, será um grande avanço porque “moderniza e destrava os investimentos do setor.”

De acordo com o texto, as empresas ficarão com os bens da União ao final da concessão. “A contrapartida é a exigência de conversão de todo o ganho econômico decorrente desta adaptação em investimento em infraestrutura de banda larga nas regiões onde há deficiência de oferta do serviço”, argumenta Bampi.

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Burocracia é entrave

Outra dificuldade das operadoras está na burocracia municipal para autorizar a implantação de novas ERBs. “Hoje a liberação de alvará para instalação demora na faixa de um ano ou mais, pela quantidade de exigências e tramitação em várias secretarias do município. Um tempo razoável não poderia passar de 30 dias”, defende.

Isso reflete na escolha das operadoras por municípios com menor burocracia. “Em Curitiba, por exemplo, evoluíram muito na legislação, mas seguem as dificuldades de implementação de mudanças nas entranhas de alguns órgãos municipais. Maringá e Londrina, em que o sinal não é bom por falta de legislação adequada, a situação é ainda mais grave, pois não se pode pensar em investir pesado na expansão de suas redes sem que a quantidade de antenas esteja compatível – como o dinheiro é limitado, acaba sendo direcionado para outras cidades Brasil afora”, aponta Monroe Fabrício Olsen, coordenador do Comitê de Expansão das Telecomunicações no Paraná da Associação Comercial do Paraná (ACP).

Por fim, está uma demanda das teles que também afeta o bolso do consumidor. “Os percentuais de ICMS aplicados pelos estados sobre as contas telefônicas são abusivos”, acusa Bampi. Pelas contas dele, o Brasil tem uma das menores tarifas de telefonia do mundo, antes de considerar os impostos. “Porém, ao aplicá-los, torna-se o segundo país mais caro do mundo em telecomunicações”.

No Paraná, em uma fatura de celular com valor de R$ 100, o imposto representa R$ 32,65, somando ICMS (29%), COFINS (3%) e PIS (0,65%). Apesar das reclamações, no Paraná as empresas podem se conformar com estes índices, pelo menos por hora, porque a redução destes percentuais é uma pauta que nem se cogita debate, revelou uma fonte do governo estadual.

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Maringá e Londrina, em que o sinal não é bom por falta de legislação adequada, a situação é ainda mais grave, pois não se pode pensar em investir pesado na expansão de suas redes sem que a quantidade de antenas esteja compatível – como o dinheiro é limitado, acaba sendo direcionado para outras cidades Brasil afora

Monroe Fabrício Olsen coordenador do Comitê de Expansão das Telecomunicações no Paraná da Associação Comercial do Paraná (ACP)

Interior sem serviço

Em 2012, a Anatel realizou a licitação das faixas de 2,5 GHz que permitem a tecnologia 4G. O edital obrigava as vencedoras a oferecerem serviço para localidades no interior e trechos de estrada no espectro com 450 MHz, que possui alcance de ondas muito maior, ou seja, o sinal emitido por uma antena vai mais longe. Como o documento da Anatel não descrevia que este serviço teria que ser realizado exclusivamente por esta faixa, abriu brecha para contestação das vencedoras dos certames.

As operadoras alegam que faltam alternativas tecnológicas e escala para fornecimento de equipamentos que viabilizassem o cumprimento das metas com 450 MHz. A contraproposta das teles foi atender os compromissos de maneira parcial e temporariamente por meio de outras soluções tecnológicas mais viáveis, como a satelital.

O processo está sendo avaliado pelo Conselho Diretor da Anatel, que no dia 7 de fevereiro deveria se pronunciar. Mas o colegiado não entrou em consenso e adiou a decisão, o que pode levar até 60 dias. “Assim, as conclusões das atividades de acompanhamento e controle acerca do cumprimento, atraso ou descumprimento dos compromissos pelas prestadoras estão relacionadas à premissa a constar da futura decisão pelo Conselho Diretor da Agência acerca do ‘meio’ aceitável para atendimento (parcialmente satelital e parcialmente terrestre ou totalmente terrestre)”, informou a Anatel.

Não fique sem sinal

O sinal de celular é transmitido por antenas até os aparelhos em forma de ondas eletromagnéticas que “viajam” pelo ar, iguais às do rádio. Alguns fatores podem afetar a propagação, já que elas são capazes de contornar objetos, mas não atravessá-los. Por isto, vale a pena entender o que influencia a qualidade do sinal, porque problemas com ele nem sempre são culpa da operadora.

Barreiras físicas

Paredes são exemplos de barreiras, até cortinas e persianas podem atrapalhar, e por isto, usar o celular em locais fechados diminui a força de recepção. Abrir uma janela pode ajudar nestes casos. Até uma “capinha” enorme e cheia de adereços pode atrapalhar.

Distância e multidão

Locais altos possuem sinal melhor porque as ondas não enfrentam tantas barreiras para chegar. Outro problema acontece quando muitas pessoas utilizam o dispositivo móvel na mesma região ao mesmo tempo. Isto pode ultrapassar o limite da capacidade de potência da torre, o que pode ocorrer em regiões que recebem fluxo muito grande de turistas na temporada ou feriado.

Antenas distantes

Estar longe da ERB também enfraquece a recepção porque as ondas possuem limite de alcance. Usar o celular em movimento, como passageiro de um carro, por exemplo, pode trazer intermitência no sinal na medida que o usuário se afasta de uma torre até que se aproxime de outra.

Deslocamento

Também no caso de deslocamento em longas distâncias é comum perder o sinal. Mudar a opção no aparelho para modo avião e em seguida retornar para a função normal auxilia a reestabelecer a conexão.

Mapa na internet

Todas as operadoras são obrigadas a expor nos sites que mantêm na internet o mapa atualizado da área de cobertura do serviço de dados. Digitando o endereço ou o nome da cidade é possível verificar se o serviço atende a região nas tecnologias 2G, 3G e 4G. Por este mapa, é possível observar se há sombras, que são locais em que o celular não pega direito. Isto pode acontecer mesmo quando há cobertura da operadora, por causa da topografia, posicionamento ou alcance da antena e falta de potência. Independente do caso, o cliente pode notificar a empresa ou a Anatel para corrigir o problema.

No site da Anatel há um atalho para acessar os mapas de cada uma das operadoras.

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Panorama de crescimento

A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato as quatro maiores operadoras de telefonia móvel do país para saber o plano de expansão no Paraná. Juntas elas abocanham quase 98% de todo o mercado brasileiro.

Vivo

A Vivo divulgou que tem o maior volume de investimentos previstos para o setor no Brasil – R$ 26,5 bilhões no triênio 2018-2020 – sobretudo para ampliar a cobertura móvel de 4G, 4.5G e de banda larga fixa, por meio de fibra ótica. No Paraná, a empresa está presente em 274 cidades com o serviço móvel, sendo 253 com cobertura 3G e 187 com 4G, cobertura que corresponde a 87% a população destes municípios. Ao todo, são mais de 2,2 milhões de clientes atendidos pela operadora no estado. A companhia mantém 993 ERBs dedicadas ao serviço móvel no estado, sendo 847 próprias, e outras 146 ERBs operadas conjuntamente com outras operadoras.

A Vivo também ativou a frequência de 700MHz, disponível a partir do desligamento da TV analógica em 39 cidades paranaenses. “A utilização deste espectro possibilita aos clientes navegarem com muito mais velocidade, além de ser menos suscetível a obstáculos, ou seja, os clientes podem navegar com melhor estabilidade do 4G em ambientes fechados”, informa a empresa. Até o final de 2019 cerca de 50 cidades do estado já deverão operar no 4G com essa frequência ativada.

Oi

A Oi investiu mais de R$ 167,4 milhões no Paraná de janeiro a setembro de 2018, o que, de acordo com a operadora, representa crescimento de 4% em comparação ao mesmo período do ano passado. No estado, a Oi conta com 796 sites de telefonia móvel 2G, 574 com tecnologia 3G e 534 com 4G. A operadora oferece cobertura 4G em 57 cidades do Paraná. A ampliação da rede móvel é, ao lado da expansão da rede de banda larga por fibra ótica residencial, um dos principais projetos estruturantes da empresa, previstos no Plano de Recuperação Judicial aprovado pela maioria dos credores no final do ano passado. “A Oi deverá fazer um investimento total de R$ 21 bilhões nos próximos três anos”, informa. A empresa acumulou dívidas de mais de R$ 65 bilhões a 55 mil credores.

Claro

A Claro está presente, desde 2003, em 273 municípios no Paraná, com mais de 1,1 mil antenas. “Nos dois últimos anos, a empresa ampliou o número de novas antenas em mais de 45% e modernizou a infraestrutura existente com equipamentos de última geração”. De acordo com nota divulgada, em 2018 a Claro registrou crescimento de mais de 65% em ampliações da rede 4G e lançou a tecnologia 4.5G em 35 cidades no estado.

TIM

No Paraná, a TIM oferece cobertura 4G em 362 cidades e 3G a 398, a maior entre todas as operadoras. “A TIM também inova ao implantar a rede de quarta geração na frequência de 700 MHz, que amplia de forma significativa sua capacidade e sua cobertura indoor e outdoor, garantindo uma evolução da experiência de uso dos clientes”, garante a empresa.

Em 2012, com um lance de R$ 340 milhões, a TIM levou um dos quatro lotes do leilão promovido pela Anatel para operar a frequência com 2,5 GHz para telefonia móvel de quarta geração no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. Com isto, também adquiriu a obrigação de investir na telefonia rural nestes quatro estados.

Na prática, a vencedora do certame não precisou levar o serviço de telefonia móvel a todas as localidades do interior e trechos de estrada. O edital da Anatel facultou às operadoras oferecerem o serviço de voz e dados por meio de telefone e internet fixos, que foi a opção da TIM. “Assim, não há obrigação vigente de oferta com internet móvel na área rural, ou em áreas de estrada”, informou a Anatel.

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