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Christiane Yared (PR) é uma das cinco mulheres representando o estado na Câmara dos Deputados | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Christiane Yared (PR) é uma das cinco mulheres representando o estado na Câmara dos Deputados| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A participação feminina na política paranaense segue limitada a números irrisórios. Não há representantes no governo, no Senado e serão apenas quatro (entre 54) na Assembleia Legislativa do Paraná e cinco (entre 30) na Câmara dos Deputados a partir de janeiro de 2019. A subrepresentatividade soma 10,2% entre os 88 cargos que estavam em disputa no último domingo (7). O Paraná ainda tem terceiro pior índice entre Assembleias Legislativas de todo o país, com 7%, à frente apenas de Goiás (duas mulheres) e Mato Grosso do Sul (nenhuma).

A chapa de Ratinho Junior (PSD) era a única entre as quatro principais que não contava com uma mulher. Cida Borghetti (PP), que participou do governo Beto Richa (PSDB) como vice, liderava a própria chapa, enquanto Professora Eliana Cortez (MDB) e Anaterra Viana (PT) coabitavam as coligações de João Arruda (MDB) e Dr. Rosinha (PT), respectivamente. O Paraná nunca elegeu uma mulher para o Executivo pelo voto direto.

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O Senado perde uma mulher na nova composição - Gleisi Hoffmann (PT), eleita deputada federal - e agora terá três homens com média de idade de 71 anos: Oriovisto Guimarães (Podemos), 73, e Flávio Arns (Rede), 67, eleitos neste domingo, se somam a Alvaro Dias (Podemos), 73. Os mandatos na Câmara Alta são de oito anos.

Já a bancada na Câmara Federal ficará restrita a Gleisi, Leandre (PV), Christiane Yared (PR), Luisa Canziani (PTB) e Aline Sleutjes (PSL), cerca de 16% das 30 cadeiras que estavam em disputa. O Paraná optou por trocar 15 deputados (50%), renovação maior do que em 2014.

Em 2014 o Paraná elegeu apenas duas mulheres: Yared (mais votada entre todos naquela ocasião) e Leandre. Em 2010 foram apenas Cida Borghetti (PP) e Rosane Ferreira (PV); em 2006, nenhuma foi eleita.

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A bancada feminina da Assembleia Legislativa do Paraná teve um pequeno acréscimo em relação a 2014: uma deputada. Neste ano foram eleitas Maria Victoria (PP), Cristina Silvestri (PPS), Mabel Canto (PSC) e Luciana Rafagnin (PT). Dos 54 deputados estaduais, 32 foram reeleitos.

A atual bancada contava com Maria Victoria, Cantora Mara Lima (PSC) e Claudia Pereira (PSC). Cristina Silvestri chegou a assumir a cadeira de Douglas Fabrício (PPS) quando ele foi nomeado secretário do Esporte e do Turismo do governo Beto Richa, mas não tinha sido eleita diretamente. Em 2010 também foram três: Cantora Mara Lima, na ocasião pelo PSDB, Rose Litro (PSDB) e Marla Tureck (PSC).

Representatividade

A legislação eleitoral do Brasil mudou neste ano para aumentar o número de mulheres na política ou ao menos facilitar o acesso, mas a medida não surtiu efeito em 2018. Esta foi a primeira eleição que trouxe a obrigatoriedade de 30% de distribuição dos recursos do fundo eleitoral para as candidaturas femininas e da mesma equidade na propaganda de TV.

Mesmo nesse cenário, apenas 77 deputadas federais vão compor as 513 cadeiras do Legislativo, aumento de 51%. De 2.769 candidatas ao cargo de deputada federal, apenas 3% foram bem-sucedidas. Os índices cresceram desde 1998, quando 29 ocupavam cadeiras no Legislativo, mas continuam baixos. Em 2002 foram 42 deputadas; em 2006, 47; em 2010, 45; e em 2014, 51.

Maranhão, Sergipe e Amazonas não elegeram nenhuma mulher. O Distrito Federal, que elegeu cinco em uma bancada composta por oito deputados, foi proporcionalmente o ente da Federação que mais elegeu deputadas. Em termos absolutos, São Paulo elegeu 11 mulheres em uma bancada de 70 deputados.

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Apenas sete mulheres foram eleitas para o Senado em 2018. Somadas à bancada atual, elas passaram a ter 12 cadeiras de um total de 81 (15%). Apesar disso, nenhuma mulher foi eleita para o Senado em 20 estados – em três deles, Acre Bahia e Tocantins, não houve candidatas.

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Nos estados, apenas uma mulher foi para o segundo turno: Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte. Ao todo, havia 30 mulheres entre as 172 candidaturas aos governos dos 26 estados e do Distrito Federal.

Considerando apenas as Assembleias estaduais, as mulheres representam 15% dos eleitos. Foram 161 deputadas, aumento de 35% em relação a 2014. O Amapá é o único que ultrapassa 30% (33%, 8 em 24 cadeiras). Roraima e Sergipe indicam 25% de representatividade. O primeiro estado de Sul/Sudeste na lista com mais mulheres é São Paulo, com 19% (18 em 94 cadeiras). O Mato Grosso do Sul é o único com 0 - elegeu 24 homens.

Para o cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR, o parlamento reflete um espírito da sociedade. “O Brasil ainda está caminhando democraticamente. E ao caminhar enfrenta as dificuldades e as inserções vão acontecendo aos poucos. A sociedade americana também tem dificuldades com representatividade, que só ocorrem de fato em países de social-democracia avançadas como Suécia e Dinamarca”, afirma.

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Lepre também afirma que as eleições 2018 foram impactadas pelo conservadorismo da figura de Jair Bolsonaro (PSL), que disputará o segundo turno contra Fernando Haddad (PT). “Essa onda já foi vermelha, agora é conservadora”, completa.

Emerson Cervi, cientista político e professor da UFPR, afirma que o dinheiro do fundo eleitoral ficou represado nas mãos dos caciques dos partidos em 2018, o que impossibilitou o protagonismo por parte das mulheres. “Essa eleição mostrou que vivemos um novo momento eleitoral, em que os recursos tradicionais interessam menos. Dinheiro e horário eleitoral gratuito já não parecem tão fundamentais. Mas refletiu também nas candidaturas das mulheres. A primeira parcial que estudamos, de meados de setembro, indica que elas receberam menos de 30% dos recursos”, destaca.

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O Brasil ocupa a posição 156º no levantamento de representatividade no Parlamento feito pela Inter-Parliamentary Union (IPU) com mais de 190 países. Com 15% de mulheres na Câmara dos Deputados, o Brasil também continua bem abaixo da média na América Latina. Nos países latino-americanos e do Caribe, a média do número de mulheres parlamentares nas Câmaras de Deputados ou Câmaras Únicas é de 28,8%, de acordo com a ONU.

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