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Cida Borghetti em campanha em Curitiba: comissionados do estado são convidados a apoiar a busca pela reeleição. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Cida Borghetti em campanha em Curitiba: comissionados do estado são convidados a apoiar a busca pela reeleição.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo conversou nesta sexta-feira (5) com três servidores comissionados de três secretarias de Estado distintas e todos relataram um pedido para participar das eleições no domingo (7) como fiscais ou delegados nas seções de votação. Eles defenderiam os interesses da governadora Cida Borghetti (PP) , candidata à reeleição - e que nega qualquer irregularidade. Os nomes serão mantidos em sigilo.

O fiscal eleitoral tem autorização do partido para acompanhar o local de votação. Ele é responsável por verificar os procedimentos e identificar eventuais irregularidades. Cada partido ou coligação pode escolher até dois fiscais por seção eleitoral. As credenciais dos fiscais ou delegados devem ser expedidas pelos partidos ou coligações.

A reportagem teve acesso a mensagens trocadas em grupos de WhastApp de duas secretarias. Gestores das três pastas mantêm grupos nesse aplicativo apenas para falar sobre eventuais atos de campanha desde a oficialização do nome de Cida, na convenção eleitoral do dia 4 de agosto.

Um grupo trata as eleições como Dia D. “O comando geral da campanha pede pro DIA D (07/10/2018) o número de pessoas da (secretaria) pra colaborarem pra trabalho nas urnas nos colégios e locais de votação como delegados ou fiscais de urna da campanha em um dos períodos”, diz o comunicado repassado aos demais servidores.

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Na conversa de outro grupo há uma tabela com nome, telefone, RG, órgão e opção “delegado” ou “fiscal”. Logo em seguida os nomes são abreviados em códigos. “O número de fiscais deve, em grande parte, corresponder ao número de sessões de cada zona”, diz uma mensagem.

A Gazeta do Povo também conseguiu confirmar com os três servidores que houve uma divisão de trabalho entre comissionados e funcionários de carreira das secretarias para bandeiraços e entrega de santinhos ao longo da campanha em cidades da Região Metropolitana de Curitiba. A Secretaria de Administração da Previdência (SEAP) é responsável por Almirante Tamandaré, por exemplo. Assim, os comissionados convocados e que aceitaram o convite devem comparecer em Tamandaré e outras duas cidades da RMC no domingo (7) para acompanhar a votação.

A legislação eleitoral veda a cessão de servidores para ajudar comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal. A proibição busca garantir igualdade de disputa entre as candidaturas. No entanto, nada impede que eles acompanhem como voluntários.

Nesta quinta-feira (4), a reportagem acompanhou um bandeiraço na frente da prefeitura de Curitiba, pouco depois das 18 horas. Havia cabos eleitorais de Cida Borghetti e também de Ratinho Jr. (PSD) . As bandeiras rosas estavam na Av. Cândido de Abreu e as azuis na Rua Lysimaco Ferreira da Costa.

A reportagem apurou que entre os cabos de Cida havia servidores comissionados da SEAP e ouviu termos como “esconde o crachá” e “já pode ir embora, deu o nosso horário”. Ao final do encontro, as bandeiras rosas foram colocadas em carros que estavam no estacionamento da prefeitura de Curitiba. A reportagem foi cercada por seis cabos eleitorais e coagida a mostrar o crachá quando filmou o ato.

De acordo com a administração municipal, no entanto, não há nenhum óbice porque apenas das 7h às 17h há controle na entrada de veículos no local, o que permite o uso por qualquer cidadão.

Uso de comissionados

A coligação de Ratinho Jr. (PSD) ingressou com uma ação no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) na quarta-feira (3) contra a governadora Cida Borghetti pelo suposto uso da máquina pública por parte dela. A petição anexa fotos de pessoas deixando a garagem do Palácio das Araucárias, no Centro Cívico, com bandeiras da governadora e de um evento de campanha no parque do Museu Oscar Niemeyer (MON) em que servidores aparecem com crachás do governo.

A ação também anexa áudios de um evento de campanha da chapa de Cida que teria acontecido no dia 24 de agosto. A Gazeta do Povo teve acesso ao conteúdo das gravações. Dilceu Sperafico, secretário-chefe da Casa Civil, e Ricardo Barros (PP), marido da governadora, ex-ministro e candidato a deputado federal, convocam comissionados a se “engajar” na campanha.

“Nós secretários vamos para o interior, percorrer os municípios, levar a mensagem da governadora, acompanhar a governadora, fazer reuniões, todos, e acredito que nenhum secretário vai se furtar neste momento, nenhum diretor de departamento, nenhum diretor de estatal, nenhum cargo comissionado vai se furtar de entrar nessa campanha. E nós precisamos, o resultado da campanha está aqui, eu acho que 50% do resultado vai depender do nosso trabalho, do meu, do seu, de todos aqueles que fazem parte desse governo”, diz Sperafico.

Ricardo Barros afirma que esteve com o prefeito de Curitiba no mesmo dia do evento. Greca pertence ao mesmo partido do candidato a vice nessa chapa, Coronel Malucelli (PMN). “Estive com ele hoje, já definiu os coordenadores de Curitiba. [...] E cada sub-regional, de cada uma das regionais terá coordenador político na campanha, junto com o regional que fará a parte administrativa. Esse apoio do Rafael Greca é fundamental para nós, e a decisão se decide aqui, a eleição se decide aqui”, afirma o marido da governadora.

Outro lado

Em nota, o prefeito Rafael Greca afirmou que apoia a eleição de Cida Borghetti, mas não desempenha nenhuma função operacional (como definição de coordenadores políticos regionais) na campanha. “A orientação da Prefeitura é a de que os servidores municipais – comissionados ou concursados – que forem convidados a participar de campanha eleitoral – seja para que candidato for – e desejem fazê-lo atuem de forma voluntária nessas atividades, fora do horário de expediente.”

O governo do Paraná, por sua vez, alega que a decisão é “individual” de cada comissionado de participar ou não da campanha como voluntário, fora do horário de expediente.

Questionada sobre o assunto na tarde desta sexta-feira (5), Cida Borghetti disse que a coordenação central de campanha é que toma decisões, como, eventualmente, convidar pessoas para participar, mas que desconhece que comissionados tenham sido intimidados a trabalhar. “Não é o meu jeito de fazer”, destacou. Ela ainda acrescentou que, caso o convite tenha mesmo sido feito, todo trabalhador tem liberdade para aceitar ou não, sem sofrer nenhuma consequência por isso.

Com a colaboração de Katia Brembatti

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