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Élcio Aparecido Perin, o Mister Bim, tenta uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Élcio Aparecido Perin, o Mister Bim, tenta uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O taxista Mister Bim (PRTB), 54, diz que um sobrinho demorou para entender que ele não era o Mr. Bean (ou o ator Rowan Atkinson, 11 anos mais velho) que aparecia no seriado humorístico britânico. “Ele corria da sala para o quarto e dizia: você está na TV e está aqui”, brinca Élcio Aparecido Perin, o candidato a deputado estadual por trás do personagem.

A Gazeta do Povo compilou ao menos 50 nomes engraçadinhos nas urnas paranaenses em 2018, segundo o registro de candidaturas do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Há “Boca Aberta Júnior”, “Tabajara do Site”, “Luiz Alsione – O Máscara”, “Luiz com Z”, “Pó Royal”, “Fran – A Menina da Janela”, “Chico da Princesa”, “Urso”, “Esquerdinha”, “Fabão Potência”, “Passarinho”, “Fernando Sangue Laranja” e “Profeta”.

Eles se espalham por inúmeros partidos, dos tradicionais aos pequenos, e encontram similaridade apenas no desejo pelas vagas do Legislativo (estadual e federal) - governadores, vices e postulantes ao Senado não optaram por apelidos.

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O Mister Bim é abrasileirado de propósito. Élcio acha que dessa maneira consegue se comunicar melhor com a população mais humilde. “Fosse ao contrário alguns falariam Bén, ou Beân. Com Bim não há dúvida de que se trata do personagem”. Ele é taxista há 23 anos e quer usar as demandas dos colegas como plataforma de campanha em 2018, principalmente em relação aos aplicativos de transporte individual.

Élcio também promete fazer o beija-mão das ruas na XV de Novembro, no Centro de Curitiba, com uma engenhoca que guarda em absoluto segredo, mas que deve “otimizar as entregas dos santinhos”.

“O humor vai até quebrar o gelo, mas quem vai falar com os eleitores é o Élcio. É uma campanha séria que pretende discutir grandes temas como o pedágio, obras paradas e educação”, aponta. Esse é o mote da campanha que circula também nas suas redes sociais.

“As pessoas entram no táxi, veem o Ted [ursinho que carrega a tiracolo, nos mesmos moldes do original] no painel do carro e começam a procurar a câmera achando que é pegadinha. Aconteceu na semana passada com uma brasileira de outro estado e dois holandeses. Pedem foto, pegam o brinquedo, dizem que eu tenho que fazer aquela careta, é o maior barato. Eu até cheguei a trabalhar como artista de rua, tirar foto, adotava mesmo o personagem. Mas trabalho de domingo a domingo, o táxi é o meu sustento. Parece brincadeira, mas a candidatura é séria. Eu quero um espaço para defender as minhas ideias”, explica.

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Élcio concorreu com a mesma alcunha em 2006 e fez 1.200 votos, à época pelo PDT. Diz que mudou para o PRTB pelos princípios “da pátria e da família”.

Bolota e Cavalo

Bolota (PR), outro candidato com alcunha engraçadinha, é Jurandir Totti, 55, servidor público estadual da Sanepar. O apelido o acompanha desde os anos 1970, “durante a Copa do Mundo”, quando os amigos de Sertanópolis, cidade da região metropolitana de Londrina, encontraram semelhança entre ele e a menina comilona do gibi americano da Editora Brotoeja. “A Bolota comia muito, eu também comia muito nessa época”, conta. A personagem fez tanto sucesso que obrigou Maurício de Sousa, o pai da Mônica, a repetir a dose com outro Bolota, um homem pré-histórico brasileiro.

Registro - TSE

Nas eleições 2018 ele vai usar o slogan “chega de lorota, vote no Bolota” e espera alcançar uma das 54 cadeiras da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). “Campanha é sempre o mesmo, saúde, educação, segurança. O mesmo discurso de currículo. Os candidatos falam sempre o mesmo. O povo não quer mais lorota, quer um candidato como o Bolota”, explica.

Jurandir Totti é candidato pelo PR e disputa sua quarta eleição. Perdeu dois pleitos municipais para a Câmara de Vereadores de Londrina por 12 e 30 votos, em 2004 e 2008, respectivamente, e já concorreu à Alep em 2016. Ele é funcionário da Sanepar desde 1984.

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Léuzinha do Cavalo (PRB), 56, tem o animal do nome da urna como plataforma de campanha. “Eu mexo com cavalo, sou conhecida assim nos rodeios, sou competidora da modalidade três tambores. Pretendo cuidar dos cavalos vítimas de abandono, que vemos amarrados nos postes por aí. Por isso que entrei na disputa eleitoral. Tem gente que quer cuidar dos cachorros e gatos, eu cuido de cavalos há mais de 20 anos”, conta.

Registro - TSE

Leonilda de Souza Matozo Bruschz é proprietária do Rancho Primavera, em Piraquara, onde desenvolve um trabalho social para crianças portadoras de síndromes como microcefalia e paralisia cerebral. Os seus cavalos são utilizados em tratamentos como equoterapia. Ela também tem uma escola de equitação.

“O nome é um jeito de fixar na cabeça do eleitor, ao mesmo tempo é como sou conhecida. Como empresária, tenho experiência em administração. Também tenho preocupação muito grande com as mulheres vítimas de violência, e por este motivo um dos meus projetos é uma casa de apoio, amparo e auxílio a essas mulheres”, afirma.

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Passarinho (PSL) é Airton Pereira, 47, candidato por Iporã, no Noroeste do Paraná. “Sempre fui competidor de Supercross (modalidade de competição de motocicletas na terra), desde os 15 anos. Já tive mandado de vereador e fui candidato a prefeito. Sempre usei o Passarinho, meu apelido, para me comunicar”, conta. Nessa eleição ele é candidato a deputado federal.

Registro- TSE

Fran - A Menina da Janela (PRP) é Franciele Salmoria, 36. Ela ficou conhecida como “menina da janela” depois de lançar uma campanha para incentivar a doação de sangue e de medula óssea. Fran enfrentou uma leucemia em 2014 e criou a ONG A União Traz a Cura depois de uma campanha que viralizou na internet. “Se da janela do hospital consegui mobilizar o Paraná inteiro e lotar os bancos de sangue, imagine curada representando você como sua deputada estadual”, afirma, nas redes sociais.

Registro - TSE

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As urnas do Paraná ainda têm “JK”, “Tucano”, “Vermelho” e “Faca na Bota”. Eles representam cerca de 4% dos 1.244 candidatos.

Apesar do volume, candidatos com apelidos não costumam prosperar no Paraná. O único eleito para a Assembleia Legislativa em 2014 foi Cobra Repórter (PSD) , radialista e apresentador de TV. Na Câmara Federal quem prosperou foi Hermes Frangão Parcianello (MDB).

Vale a pena investir em um nome engraçado?

Para Luciana Panke, professora da UFPR e especialista em comunicação política, trata-se de uma tentativa de vincular o nome a uma suposta diferenciação. “Acaba realmente sendo um diferencial, principalmente no sentido da memorização, são nomes que se relacionam ao novo na politica dentro desse contexto maior de descontentamento da atividade política”, afirma. “Eles aparecem para agradar os eleitores cansados das mesmas figuras”.

A especialista também afirma que essa é uma tentativa de promoção na política com intuito das eleições municipais de 2020. “Não há uma fórmula correta. Tem o risco da piada, da ridicularização, mas também de atrair o voto dos insatisfeitos. Esses nomes costumam acompanhar candidaturas menores, com pouco tempo de TV e muita campanha de rua. E é uma entrada política para as campanhas de vereador daqui a dois anos”, completa.

Regras

Segundo a Resolução nº 23.548/2017, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o nome de urna do candidato pode ter no máximo 30 caracteres, incluindo os espaços entre os nomes. São permitidos nome, sobrenome, apelido, nome abreviado ou nome pelo qual o candidato é conhecido.

O nome não pode deixar dúvidas sobre quem é o candidato e também não pode ser ridículo, irreverente, inadequado ou atentar contra o pudor. Também não é permitido, na composição do nome a ser inserido na urna eletrônica, o uso de expressão ou de siglas pertencentes a qualquer órgão da administração pública direta ou indireta nos níveis federal, estadual, distrital e municipal.

Essa avaliação é feita pela Justiça Eleitoral na fase da aprovação dos nomes, que vai até 17 de setembro.

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