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A Gazeta do Povo fez um levantamento dos candidatos do Paraná em 2018: homem branco é a grande maioria. | /Gazeta do Povo
A Gazeta do Povo fez um levantamento dos candidatos do Paraná em 2018: homem branco é a grande maioria.| Foto: /Gazeta do Povo

A maioria absoluta dos candidatos do Paraná em 2018 é de homens brancos. São 735 entre 1.244 postulantes aos cargos de governador, vice, senador, deputado federal e estadual, o que representa 59%. Na outra ponta, apenas 1,44% se declaram mulheres negras (18 candidatas). O levantamento da Gazeta do Povo usa como base o registro de candidatos dos 34 partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a autodeclaração da cor da pele - confira o infográfico.

A diferença entre homens e mulheres na disputa política não respeita o recorte populacional do estado. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dividem a população em 50,9% mulheres e 49,1% homens, mas nas eleições 869 homens vão disputar os cargos contra 375 mulheres, ou 69,8% x 30,2%. O número de mulheres apenas cola no mínimo constitucional de direcionar ao menos 30% das vagas para candidatas com intuito de aumentar a representatividade política feminina.

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Essa proporção não evoluiu no Paraná e também em nível nacional. As mulheres representam apenas 30,7% das candidaturas em 2018 contra 31,1% em 2014. Nas municipais de 2016 foram 31,89%. A população brasileira tem 203,2 milhões de habitantes divididos entre 51,6% mulheres e 48,4% homens, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Mulheres ainda são maioria entre os eleitores no país (52%) e no Paraná (52,4%), segundo o TSE.

A maior parte dos homens se autodeclarou branco (735); outros 82 pardos, 45 negros, um indígena e seis amarelos. Entre as mulheres a imensa maioria também é branca (333), mas há ainda 24 pardas e 18 negras - não há amarelas ou indígenas. O percentual de mulheres brancas dentro do seu cenário é ligeiramente superior à quantidade de homens brancos contra homens pretos/pardos: 88,8% contra 84,5%. Esses índices também não espelham o recorte do IBGE no Paraná, que aponta 67,6% autodeclarados brancos, 27,8% pardos e 3,3% pretos, entre homens e mulheres.

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Para o cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, a desproporção do sexo sempre existiu e a da cor da pele nessas eleições reforça a impressão de desigualdade. “O que explica a situação é a concentração absoluta de poder nas mãos das cúpulas dos partidos, são eles que direcionam a forma de organizar, e são basicamente homens brancos, isso reflete num percentual muito predominante”, explica.

“Até pouco tempo atrás você não precisava cobrir os 30% do eleitorado de mulheres. Agora tem que cumprir. Isso mudou um pouco a forma de os partidos tratarem a representatividade. Eles se veem obrigados a fazer isso. Parte ainda encara como obrigação, então toda eleição tem um número alto de candidatas que não faz nenhum voto, há ainda uma sub-representação feminina porque as decisões ainda ficam com os homens”, completa.

O professor Mário Sérgio Lepre, da PUCPR, que trabalha com conjunturas partidárias, explica que os números são uma amostra da dificuldade de ingresso na política por parte dos grupos minoritários. “Alguns partidos têm consciência para trazer esses grupos para si, são fenômenos dos partidos de esquerda, buscam transgêneros nessas eleições, por exemplo, mas não são todos os partidos, a maioria espera filiações espontâneas, não indica grupos, não tem essa política de ir atrás das pessoas, são os partidos de ruralistas, empresários”.

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O Brasil ocupa a 152ª posição em um ranking monitorado pela Inter-Parliamentary Union de 190 países sobre o percentual de cadeiras ocupadas por homens e mulheres na Câmara dos Deputados, à frente de Costa do Marfim e atrás do Djibouti. A Assembleia Legislativa do Paraná conta com apenas 3 deputadas entre os 54 representantes dos 399 municípios, o que representa 5,5%. Não há negros.

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De acordo com um recorte de formação escolar, a maioria dos candidatos (brancos ou pretos/pardos, homens ou mulheres) indicou formação superior completa (716), contra 271 com apenas o Ensino Médio no currículo. Sete candidatos de cinco partidos diferentes declararam que sabem ler e escrever - o PRP lidera esse ranking, com três.

O TSE tem até o dia 17 de setembro para diplomar ou cancelar os registros das candidaturas.

Controvérsia

Emerson Cervi e seus alunos desenvolveram outro tipo de pesquisa na UFPR e ela aponta que apenas cinco partidos cumpriram o mínimo constitucional de indicar 30% de mulheres no Paraná. Eles aguardaram as coligações, que são usadas pelo TSE e pelo Ministério Público Eleitoral para averiguar esse índice. O levantamento utilizou como base os registros das atas das convenções, que indicam desproporção de 73% (homens) x 27% (mulheres).

“Foram aprovados em atas partidárias 956 homens e 352 mulheres. Aumentou o número de mulheres que não estavam nas atas. Ou seja, 23 mulheres não foram aprovadas em convenções partidárias, que são etapas fundamentais do processo eleitoral porque congregam todos os correligionários. Ninguém sabe de onde saíram essas mulheres”, comenta.

“Está dentro da regra, é legal. Mas não é justo, honesto, porque tira da convenção do partido a relevância. Essas coligações acontecem depois e quem costuma decidir são os presidentes dos diretórios. Com quais critérios? Esse é outro sintoma da dificuldade de renovação na política partidária”, explica Cervi.

Partidos x cargos

Dos 34 partidos que registraram candidatura, 32 apresentaram candidatos pretos ou pardos, com exceção de PTB e PCO. O PTB, partido do candidato ao Senado Alex Canziani, tem oito brancos, mesma realidade do PCO, com nove. O PTB apresentou uma mulher e o PCO duas - uma delas é a candidata ao governo Priscila Ebara.

Todos os candidatos ao governo são brancos e apenas Carminha, vice na chapa do PSTU, se declara negra. Apenas seis são mulheres entre os 20 postulantes ao Palácio Iguaçu, o que representa 30%. O número cai na lista oficial de governadoras, que conta apenas com Cida Borghetti (PP) e Priscila Ebara, ou 20%.

Também não há negros entre os 42 candidatos ao Senado (incluídos 1º e 2º suplentes) e apenas três se declaram pardos. Os demais 39 (92,8%) são brancos. São dez mulheres e 32 homens.

Entre os 746 candidatos a deputado estadual, 99 são pretos/pardos. Há 645 brancos (86,4%) e uma divisão de 226 mulheres (30,2%) e 520 homens (69,8%). E entre os 436 candidatos a deputado federal há 26 pretos e 40 pardos. São 133 mulheres e 303 homens.

2014

Em 2014, nas últimas eleições gerais, 1.021 entre 1.237 candidatos no Paraná se declaravam brancos, ou 82,5%. Eram 138 pardos (11,1%), 76 pretos (6,1%) e dois indígenas (0,16%). Foram 855 candidatos homens (69,1%) contra 382 (30,9%) mulheres.

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