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Ratinho Junior (PSD), Cida Borghetti (PP) e João Arruda (MDB): candidatos ao governo do Paraná investem em boa aparência nas fotos para encantar eleitores | /Divulgação
Ratinho Junior (PSD), Cida Borghetti (PP) e João Arruda (MDB): candidatos ao governo do Paraná investem em boa aparência nas fotos para encantar eleitores| Foto: /Divulgação

Não passou batido. Assim que publicada, no mês passado, a imagem oficial do presidenciável Ciro Gomes (PDT) e sua vice Kátia Abreu (PDT) chamou a atenção pelos motivos errados. Ambos pareciam mais jovens, é verdade, mas também um tanto distorcidos. Um prato cheio para os ávidos fabricantes de memes da internet brasileira, que deitaram e rolaram em cima do deslize dos candidatos. A imagem carregada de “Photoshopadas” [um nome popular para correções feitas por editores de imagem, sendo o Photoshop o mais famoso] cruzou a linha tênue que vem se estreitando eleição após eleição: o risco de exagerar no ímpeto de tornar um candidato mais atraente a qualquer custo.

Dificilmente alguém afirmará taxativamente que a aparência define os vencedores de uma eleição. Uma série de estudos até já procurou desvendar o fenômeno, alguns com conclusões “pró-bonitões e bonitonas”. Por exemplo, dois pesquisadores australianos, Amy King e Andrew Leigh, contaram com a ajuda de avaliadores para medir a boa aparência de uma série de candidatos que concorreram nas eleições federais de 2004 na Austrália. Eles concluíram que ter boa aparência aumenta de 1,5 a 2 pontos porcentuais o número de votos recebidos. O documento foi publicado com o nome de “Beautiful Politicians” [Políticos bonitos, em português]. Mas é uma amostragem ínfima para medir o peso da imagem na escolha dos políticos.

Ciro Gomes e Kátia Abreu em peça publicitária Divulgação

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Ainda que não exista como pesar, a aparência é, claramente, uma das frentes com a qual os marqueteiros trabalham desde sempre. E não há como negar a correlação dos resultados em alguns casos. “Como não se lembrar da maneira que Lula (PT) mudou o visual para vencer [a eleição presidencial] em 2002. Ele ajustou seus ternos, aparou a barba, começou a passar uma aparência de bem cuidado que se contrapunha com o que ele era nos anos 1990”, comenta o publicitário paulista Waldomiro Leão – ele trabalha na campanha de deputados que concorrem por aquele estado, assim como esteve envolvido em campanhas majoritárias do passado.

Nesse contexto, não há que se espantar que os santinhos sejam, há algumas eleições, um parque de diversões dos editores de imagem. “O ideal é que o fotógrafo capte a melhor imagem para que haja naturalidade. Mas como nem tudo sai como o planejado o tempo todo na hora das fotos oficiais, a solução fica sendo o Photoshop”, diz outro marqueteiro, Paulo Fernando Soares – hoje afastado da política, mas com currículo que inclui trabalhos com nomes do PDT e PMDB nacionais. “Só que existe sempre o risco de ‘pesar a mão’. Aí, de boa aparência, o candidato acaba virando piada”, alerta.

Soares não se posiciona contra os editores de imagem, mas prega seu “uso mínimo”. “Tem que ter bom senso. Corrigir uma ruga? Ok. Clarear a imagem? Ok. Mas desfigurar a pessoa pega muito mal. É uma regra não só política, mas da publicidade como um todo”, aponta. “A linha é tênue entre o bom e o ridículo. Todos os candidatos são ‘photoshopados’. Não tem o que discutir. Mas a maioria dos trabalhos é bem feito. O fora da curva é que chama a atenção. O certo não é tornar o candidato galã, mas ter a a aparência correta”, define.

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E qual é a aparência correta?

Mas nem só o Photoshop garante uma boa resposta ao conceito de “aparência certa”. Não basta um rostinho liso nas campanhas impressas. A imagem completa do candidato alinhada ao que o eleitor espera é uma matemática bem calculada. Uma tendência nas campanhas deste ano, por exemplo, é que os candidatos pareçam estar publicando em uma rede social – mesmo porque boa parte delas está sendo via rede social. “Aquela foto clássica, de terno ou roupa social formal, de tons sóbrios, cara séria, está ficando para trás. Percebemos um avanço no sentido de mostrar mais o rosto, mais sorrisos, um tom mais informal e jovial. Quase um Facebook”, diz a estrategista política carioca Andrea Nunes .

“Hoje vemos muitos candidatos só de camisa, ou terno sem gravata. Tem um apelo que condiz com uma mensagem que querem passar, de renovação, que é o que o eleitor procura. Uma tendência mundial ”, analisa. “Se você se lembrar de Mauricio Macri [eleito presidente argentino em 2015] e Emmanuel Macron [eleito presidente da França no ano passado], verá que é um padrão muito parecido com o que os brasileiros procuram hoje”, avalia. “Beto Richa [candidato ao Senado pelo PSDB] assumiu os grisalhos e mantém um tom jovial, muito próximo ao de Macri, por exemplo. Isso pega bem no seu eleitorado, já que ele conserva esse mix de experiência com juventude”, avalia Paulo Soares.

Os candidatos Ratinho Junior (PSD) e João Arruda (MDB) são exemplos desse conceito. Ambos, aliás, renovaram o visual nos últimos anos, exaltando um contemporâneo, na avaliação dos especialistas. Ratinho perdeu peso e atualizou o penteado; Arruda, por sua vez, adotou um visual mais próximo ao casual que o faz parecer ter menos do que seus 42 anos, “mas sem soar falso”, como aponta Andrea.

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Cida Borghetti (PP) também flerta com um visual menos pesado, ainda que o posto de governadora lhe exija formalidade. “Para as mulheres é algo ainda mais ferrenho, já que elas não podem perder a feminilidade, mas precisam conciliar isso com a capacidade de coordenar uma equipe, de ser chefe”, defende a analista.

“A conta do visual tem que levar em consideração muita coisa. Em um momento comum de campanha, a informalidade ajuda a quebrar a barreira do político clássico com as classes mais baixas. Elas querem alguém que fale a língua delas. Em um debate, porém, a coisa muda um pouco. Tem que ter seriedade e, inevitavelmente se vê uma candidata mulher com roupas mais formais e em tons sóbrios e um candidato homem com gravata, cabelo ajustado. Faz parte do jogo; medir o que cabe em cada situação”, defende Andrea. “No Paraná, todo mundo fez a lição de casa”, ela elogia

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No caso do escorregão no Photoshop, Kátia Abreu usou de outra arma para amenizar a situação. “Amei as reações sobre a minha foto. Concordo total [sic] com vocês. Mas pessoas de comunicação....Sabem como é? Acham ou têm certeza de que sabem de tudo. Valeu pela ajuda”, disse. Ela voltou a brincar com a situação dias depois, postando uma foto sem tratamento nas redes sociais. A lição foi aprendida: no jogo político, nem sempre as aparências enganam.

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