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Maurício Fanini durante delação da Operação Quadro Negro. | Reprodução/
Maurício Fanini durante delação da Operação Quadro Negro.| Foto: Reprodução/

O ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Maurício Fanini, disse em depoimento à Justiça nesta quarta-feira (22), que foi ameaçado pessoalmente por Fernanda Richa (PSDB) - mulher do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). Segundo o depoimento, o episódio ocorreu em um baile de gala do Dia dos Namorados, no Graciosa Country Club, em Curitiba, pouco depois de Fanini ter sido preso pela primeira vez, em desdobramentos da Operação Quadro Negro. Diante do temor de que o ex-diretor firmasse um acordo de delação premiada com a Justiça, Fernanda teria mencionado a manutenção da compra do silêncio dele. Em nota, a defesa do casal Richa negou todas as acusações.

O depoimento de Fanini a que a Gazeta do Povo teve acesso foi prestado à 9ª Vara Criminal de Curitiba no âmbito de um processo que apura desvios ocorridos em duas escolas estaduais: Tancredo Neves, em Colombo, e Professora Linda Salamuni Bacila, em Ponta Grossa. Ambas as obras eram de responsabilidade da Valor Construtora.

Na audiência judicial, Fanini relatou que o encontro ocorreu no dia 10 de junho de 2017, no baile de gala no Graciosa Country Clube. O ex-diretor havia ido ao evento com sua mulher e lá encontrou Beto e Fernanda, quando a então primeira-dama teria feito o que Fanini classificou como “ameaças”. Fanini disse que recebeu dinheiro para não contar às autoridades o que sabia sobre a Quadro Negro.

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“Fui interpelado pela esposa [do governador], ela [Fernanda] vai à minha mesa, me chama para conversar. Eu converso com ela e ela reafirma que os repasses que estava recebendo para ficar calado iriam continuar. Tenho testemunha desse ocorrido. Ela foi duas vezes na mesa e uma delas falou pra mim. Os repasses que estava recebendo após a deflagração [da Operação Quadro Negro], para meu silêncio, iriam continuar”, afirmou. Três meses depois, em setembro de 2017, Fanini foi detido novamente e, desde então, permanece preso.

Ameaças à mulher

O ex-diretor revelou, ainda, que sua mulher, Betina Fanini, também teria sido ameaçada por Fernanda Richa. Desta vez, as coações teriam ocorrido em Caiobá, no litoral do Paraná. As famílias Richa e Fanini mantinham, então, uma estreita relação de amizade e costumavam a viajar juntas.

“Por duas vezes fui ameaçado pela dona Fernanda Richa. Não a mim diretamente, estava na praia e Fernanda interpelou a minha esposa em Caiobá, falou que eu deveria contar tudo o que sabia e instigou isso por diversas vezes. Daí ela falou que quando eu falasse tudo o que sabia, revelasse à Quadro Negro, eu iria saber quem o governador Beto Richa realmente era. Ameaça velada”, disse Fanini.

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Ele também contou que recebeu sondagens de diversas pessoas ligadas ao ex-governador depois da primeira prisão, com o objetivo de saber se Fanini estaria disposto a se tornar um delator. As pessoas “próximas a Richa” teriam sugerido a Fanini que ele evitasse contar o que sabia.

“Depois que fui preso em 2015, quando fiquei 10 dias [preso], várias pessoas próximas ao governador vieram ao meu encontro dizendo que deveria me conter, evitasse algum tipo de colaboração, pessoas muito próximas a ele, a citar o Jorge Atherino [empresário amigo de Beto]”. À Procuradoria Geral da República (PGR), Fanini apontou Atherino como “terceiro responsável por receber e estocar dinheiro de campanha para Richa”. Numa das entregas, em uma mochila de R$ 250 mil, o empresário teria mostrado um armário falso dentro do box do chuveiro da suíte do apartamento dele, onde guardava o dinheiro ilícito.

Confira a delação de Maurício Fanini sobre as supostas ameaças de Fernanda Richa:

Fanini x Fernanda Richa

A proposta de colaboração premiada apresentada pelo ex-diretor traz anexos que mostram cópias de conversas por meio do aplicativo WhatsApp e o relato de encontros pessoais entre Fernanda Richa e Betina Fanini. Fernanda teria chegado a pedir dinheiro e a agradecer pela liberação de R$ 500 mil para a compra de um apartamento para o filho - que teria sido bancado com dinheiro de propina.

Em julho de 2015, três dias depois de Fanini ter sido preso pela primeira vez, então sob suspeita de ser operador dos desvios, Fernanda Richa trocou mensagens com Betina, tentando tranquilizá-la. A então primeira-dama pede que ela “não fique brava” e que mantenha “a calma e a serenidade”. “Be, bom dia, não fique brava comigo ou c o Beto, amamos vcs, vcs são e serão sempre nossos amigos! ! Estamos acompanhando e fazendo do o possível!!! Te peço para ter calma, serenidade e confiança nas atitudes dele próprio, pois é o único que pode desmoralizar ou desmentir tudo que foi dito ou posto”, diz a mensagem.

Betina responde que “está muito difícil!!!!”, ao que Fernanda destaca que é preciso “suportar”. “Eu sei minha amiga, temos que suportar!!! Temos que, com serenidade, aguardar”, sugere Richa.

Em outro trecho, Fanini disse que ele e a esposa foram à residência do casal Richa para assistir ao jogo entre Brasil e Chile na Copa do Mundo de 2014. Depois da partida, o ex-diretor relatou que Fernanda chamou o filho, André, e a nora, que viajariam a Machu Picchu, no Peru, no dia seguinte. A primeira-dama teria pedido “mil doletas” (US$ 1 mil) para ajudar o casal a pagar seus gastos no país vizinho.

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Outro lado

A defesa de Beto e Fernanda Richa mandou uma nota refutando as acusações.

“As declarações do réu confesso Maurício Fanini são totalmente inverídicas, em suas referências ao ex-governador Beto Richa e à sua esposa Fernanda Richa, e não acrescenta qualquer novidade ao caso. Desde setembro de 2017, Fanini vem tentando obter os benefícios de uma delação junto à PGR, que se negou a celebrar acordo diante da ausência total de fundamentos em suas declarações falsas, construindo versões mentirosas e que mudam a cada depoimento. Trata-se, apenas, de mais uma vã tentativa de transferir a responsabilidade pelos crimes por ele próprio praticados e já confessados. O início das apurações se deu mediante ordem do então governador Beto Richa, ao tomar ciência das irregularidades, em março de 2015, que resultaram na prisão de Fanini pela Polícia Civil do Paraná, em julho de 2015”.

O advogado Carlos Alberto Farracha de Casto, que representa Jorge Atherino, disse que não teve acesso ao depoimento, mas acrescentou que seu cliente “quando solicitado sempre prestou os devidos esclarecimentos e continua à disposição das autoridades”.

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