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| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) já começou a se movimentar nos bastidores em função da intervenção federal no Rio de Janeiro. A primeira reunião aconteceu nesta semana com a unidade regional da Polícia Rodoviária Federal (PRF-PR), que já cede oficiais para combate ao contrabando e crime organizado no estado fluminense. O planejamento leva em conta ações nas principais estradas do Paraná.

Além disso, nesta quinta-feira (22) o general de brigada Rodrigo Pereira Vergara, da 5ª Região Militar, que engloba Paraná e Santa Catarina, se encontrará com o alto comando da Polícia Militar (PM) em Curitiba. A reunião não tem ligação com a intervenção federal, mas, de acordo com fontes ouvidas pela Gazeta do Povo, pode acarretar em algum desdobramento na área de inteligência e policiamento ostensivo.

ANÁLISE:especialistas extrapolam possíveis impactos no Paraná

Nesta quarta-feira (21) o recém-criado Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), do Ministério Público do Paraná (MP-PR), e o novo secretário de Segurança Pública, Júlio Cezar dos Reis, também estiveram reunidos. De acordo com o procurador de Justiça Claudio Rubino Zuan Esteves, coordenador do Gaesp, a pauta não teve relação com o decreto presidencial, mas o assunto foi abordado. “Desconheço se de fato há alguma preparação no Paraná no que concerne à intervenção federal. Mas obviamente o Ministério Público vai acompanhar junto aos órgãos de segurança o que pode surgir como reflexo. Certamente há informações de inteligência que vão circular no âmbito das forças de segurança e vamos tentar acompanhá-las”, apontou o procurador Claudio Esteves antes da reunião.

A força-tarefa do MP-PR foi criada em fevereiro para organizar dados e cobrar políticas públicas de segurança pública para o Paraná. Para promotores e procuradores, ainda há incertezas nas ações que serão tomadas em âmbito estadual em relação à intervenção, mas elas podem se desdobrar em três níveis: êxodo do crime organizado, instabilidade no sistema penitenciário e atenção nos corredores de contrabando.

Para o promotor de Justiça André Glitz, membro do Gaesp, a primeira hipótese é muito improvável. “O que pode ser é que existam contatos, e isso é um trabalho que a inteligência deve desenvolver, de troca de informações. Mas êxodo é improvável”, afirma. Os secretários de Segurança Pública de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo vão se reunir nesta semana com o ministro da Justiça, Torquato Jardim, para discutir medidas para conter a possível mudança de facções criminosas em função da proximidade com o Rio de Janeiro. O Paraná não participará do encontro.

Para André Glitz, a possibilidade mais concreta, ainda que incerta, é de a intervenção refletir dentro do sistema penitenciário. “Isso também requer monitoramento, é um ponto de atenção”.

Alexey Caruncho, promotor que também participa do Gaesp, cita que é difícil prever as decorrências da crise no Rio de Janeiro porque essa é uma perspectiva “muito acanhada nesse momento”. “Ainda não há um cenário claro de qual será a postura estadual, mas eu acrescentaria nos pontos de atenção o caminho das fronteiras, armas, drogas, no Paraná há corredor, por isso entramos na linha de fogo”.

De acordo com a Sesp, o Departamento de Inteligência do Estado do Paraná e o Departamento Penitenciário estão com a atenção redobrada para mapear e identificar qualquer anormalidade.

Fernando Frazão/
Agência Brasil

Especialistas extrapolam os possíveis impactos no Paraná

Dois especialistas em segurança pública consultados pela Gazeta do Povo apostam que o Paraná será impactado pela intervenção federal, mas é difícil precisar em que medida. Para Carlos Hardt, professor da Escola de Arquitetura da PUCPR e especialista em Gestão Urbana, há dois pontos a se considerar: o crime organizado e os reflexos nas grandes cidades do país. “O problema do crime organizado não é limitado ao Rio de Janeiro. Eles não têm limites territoriais administrativos, inclusive com capilaridade internacional. Se apertar num lado, inibir determinadas ações, há tendência da pressão aumentar nos espaços em que não há grande controle. Do ponto de vista da segurança é preciso monitorar eventuais respingos. Não dá para deixar acontecer lá e depois planejar alguma coisa. O planejamento do Paraná tem que acompanhar a ação no Rio.”

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Para Hardt, o crime se instala nas metrópoles pela facilidade de se incluir nesse ambiente sem ser controlado. “Temos no Paraná um nível preocupante também. Há 30 anos, ninguém falava abertamente sobre lugares onde a polícia não entra. É a perda total da presença do Estado. Hoje nós temos isso. Isso demonstra o quão degradado está o ambiente urbano. E a repercussão disso na vida da cidade é marcante em todas as áreas. Na área social, por exemplo: uma reunião de pais e mestres em uma comunidade precisa passar pelo crivo de alguém. Isso leva a uma percepção de insegurança generalizada”.

O professor Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, especialista em Direito Penal e professor da UFPR, aponta outros dois reflexos: uma intervenção federal no Paraná e a falta de dinheiro para políticas públicas na segurança. “O primeiro reflexo pode ser a possibilidade de intervenção nos outros estados, inclusive no Paraná. É um cálculo. As taxas de homicídios são maiores em outras capitais. No Rio tem o cálculo midiático em cima de um problema que é real. Mas em Santa Catarina havia ônibus queimados, o Rio Grande do Sul tem uma situação delicada. Agora, as promessas devem ser cumpridas. Se a intervenção no Rio der resultado negativo, pode potencializar o crime organizado por aqui”, aponta.

“A segunda hipótese é alocarem recursos federais que iriam para os outros estados especificamente para o Rio de Janeiro. Se usarem dinheiro do Plano Nacional de Segurança Pública no Rio, pode faltar para outros estados. E a falta de recursos pode ser um entrave na área”, completa o professor da UFPR.

Mas há um reflexo que pode se mostrar extremamente positivo da intervenção, segundo Hardt. “A intervenção federal no Rio de Janeiro pode servir de exemplo da necessidade de informações integradas em nível nacional. Essa intervenção não pode ser local, tem que ser em nível nacional. Entre os estados, principalmente. Só assim essa ação pode ter repercussão nacional”.

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