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Visão geral do Porto de Paranaguá e Antonina. | André Kasczeszen/APPA
Visão geral do Porto de Paranaguá e Antonina.| Foto: André Kasczeszen/APPA

Indicado por um deputado estadual, um jovem de 20 anos sem ensino superior ocupa um cargo de confiança de assessor da Presidência na Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), empresa pública ligada ao governo do Paraná pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística.

Lucas Cristiano Gonçalves, que completou o Ensino Médio e um técnico em Magistério, recebeu em julho, segundo dados do Portal da Transparência, R$ 11.903,79 a título de remuneração bruta e R$ 8.447,86 no contracheque, descontados os encargos sociais. O salário é a soma do vencimento da função de assessor (R$ 8.502,71) e do adicional de risco (R$ 3.401,08).

Lucas começou a carreira no porto como estagiário e já foi chefe da Seção de Patrimônio, posto que assumiu em setembro de 2017, aos 19 anos. A mudança de cargo CC-05 para CC-08 (simbologias da administração pública), em junho de 2018, resultou em um aumento salarial de R$ 3.138,19. Ele recebeu no mês da alteração R$ 13.771,98, incluído adicional de R$ 5.951,90 de férias e 13° terceiro.

Após a publicação da reportagem, a Appa exonerou o jovem do cargo da Presidência.

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Indicação

Segundo o assessor e a própria Appa, as indicações ao cargo no Patrimônio e posterior promoção partiram do deputado estadual Missionário Ricardo Arruda (PSL), membro da bancada evangélica da Assembleia Legislativa e cabo eleitoral estadual do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Outras pessoas ligadas ao deputado ocupam cargos na administração pública estadual.

O deputado negou a influência e disse que “não indica funcionário a lugar nenhum” e, se alguém sugeriu o contrário, “falou bobagem, mentiu”.

Deputado Missionário Ricardo Arruda nega a indicação.Albari Rosa/Gazeta do Povo

Histórico

Lucas foi nomeado em setembro de 2017 por Luiz Henrique Tessutti Dividino, diretor da estatal durante o governo Beto Richa (PSDB), e mudou de sala na gestão de Lourenço Fregonese, indicado ao cargo pela governadora Cida Borghetti (PP). A contratação foi publicada no Diário Oficial do Estado em 6 de setembro de 2017 (Portaria 315/2017) e a alteração aparece nos registros de 19 de junho deste ano (Portarias 211/2018 e 216/2018).O jovem recebeu cerca de R$ 83 mil ao longo dos últimos 11 meses.

Na primeira função, subordinada à diretoria ambiental, ele era responsável pelos itens inservíveis e todos os bens móveis e imóveis da autarquia. À Gazeta do Povo, disse que fez cerca de três mil desincorporações ao longo dos nove meses em que ficou no cargo, em processos que envolvem a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), do governo federal, e o Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar). Ele foi substituído no primeiro cargo por Guilherme Machado Marangon, que tem graduação em Engenharia Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

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Agora, em posto mais alto, Lucas disse que é responsável pelas palestras da diretoria empresarial do órgão, comandada por Marcelo Cardozo Dias. Ele também explica o dia a dia do porto de Paranaguá para alunos que visitam o local. A diretoria é responsável pela expansão dos negócios e parcerias, e contato com produtores, importadores e exportadores.

Trajetória

O jovem começou a trajetória no porto de Paranaguá como estagiário da diretoria empresarial. Na ocasião, disse que participou de um processo seletivo. O pai e o avô já trabalhavam no porto – o pai continua.

A procura aconteceu logo depois de uma eleição frustrada para vereador de Morretes, em 2016. Lucas foi candidato pelo PSD aos 18 anos, quando ainda não havia completado o Ensino Médio. Ele fez 100 votos e ficou em 30° na eleição municipal, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR).

Lucas manteve um blog na internet até meados de 2017. As publicações giravam em torno de comentários políticos sobre o cenário local e nacional. Ele também foi colunista do extinto jornal Morretes Notícia por três anos e ex-presidente do grêmio estudantil na escola estadual onde estudou. Pretende cursar Jornalismo.

Em 2016, depois das eleições, participou de uma discussão na Câmara de Curitiba sobre a PEC 55 (teto dos gastos). À época, reclamou de não haver debatedores favoráveis à PEC na audiência pública promovida pela casa legislativa. “Não dá para ser Papai Noel e ficar distribuindo direitos sem saber de onde vem o dinheiro. O Lula quis limitar os gastos e a Dilma também, mas ninguém se manifestou lá. Mas agora que é o [Michel] Temer, que é um governo legítimo, a esquerda é contra”, afirmou.

Sobre o porto, ele falou por telefone com a reportagem como se deu sua indicação. “A princípio era estagiário na Appa, exerci seis, sete meses como estágio, e, devido minha proximidade com o Missionário, ele vendo, sabendo minha paixão pelo porto, ele fez a indicação a princípio para que eu conduzisse o Patrimônio”, explica. “Ele, como deputado, tem autonomia para fazer indicações técnicas e qualificadas para o cargo. O Missionário tinha uma vaga no porto de Paranaguá, acabou trocando o funcionário, não tinha ninguém, me indicou, viu que eu tinha perfil”.

Lucas disse que não presta contas ao deputado. “Ele tem autonomia, vendo meu perfil, gostando de mim. Já estava no ambiente, ambiente do porto. Minha família tem tradição, meu pai trabalha, meu avô trabalhou. Amo o porto mais do que qualquer coisa na vida. Sinto prazer. Tradição que motiva, sou apaixonado pelo porto”, contou. “O Missionário é um dos poucos que pensa no perfil técnico da pessoa, se eu fizer m* não é meu nome, é o nome dele. Tem rojão que deputado não segura”.

Lucas também argumentou que a indicação é parte de um processo “natural”. “Comum em qualquer governo do Brasil, é normal os deputados eleitos juntos ajudarem nas indicações. Não tem condição do governador indicar 2, 3, 4 mil vagas. Na Appa você só é nomeado se der conta. Tem um ou outro que sempre surge, a gente sabe como funciona, mas em 90% das vagas para assumir tem que dar conta do recado”, finaliza.

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Outros casos

Outras pessoas ligadas ao deputado ocupam cargos na administração pública. Rodrigo Miranda Arruda Nunes, filho do parlamentar, tem 25 anos e um cargo na Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná (Agepar). Ele recebeu R$ 9.668,84 em julho.

Patrícia Miranda Arruda Nunes, esposa do deputado, é parte da Junta Administrativa de Recursos e Infrações (Jari), órgão ligado ao Detran. Na Jari, a esposa do parlamentar assumiu a cadeira que antes era da irmã de Arruda, Elaine Arruda Nunes Gonçalves, que agora é diretora adjunta do Departamento de Imprensa Oficial do Estado, com remuneração bruta de R$ 10.745,51.

Alessandra Arruda Nunes Morano, sobrinha do deputado, ocupa um cargo em comissão na Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Ela recebe R$ 7.072,07.

“As indicações foram feitas pelo parlamentar e avaliadas internamente. Todos os indicados comprovaram qualificação para a função”, afirma o governo estadual em nota.

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