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Dilma teria até mesmo avisado os publicitários de que eles seriam presos pela  Lava Jato. | Evaristo Sá/AFP
Dilma teria até mesmo avisado os publicitários de que eles seriam presos pela Lava Jato.| Foto: Evaristo Sá/AFP

As delações dos marqueteiros Mônica Moura e João Santana complicaram a situação da ex-presidente Dilma Rousseff. Embora a petista não tenha sido o único nome do partido a ser citado, os depoimentos do casal ao Ministério Público Federal (MPF) revelam que Dilma não apenas tinha conhecimento do financiamento via caixa 2 das campanhas do PT como ainda informava aliados sobre o avanço da Lava Jato.

Esses detalhes complicam a vida da petista exatamente por irem de encontro àquilo que outras delações já apontavam. Além dos alertas que podem ser caracterizados como obstrução de justiça, no último mês de abril, o ministro Edson Fachin, relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF), remeteu petições contra Dilma por suspeitas de que ela tivesse recebido vantagens indevidas e não contabilizadas durante sua campanha em 2014. E, de cabeleireiros a troca de favores, as delações de Mônica Moura e João Santana são um perigoso xeque contra a ex-presidente.

Dilma sabia de tudo

O principal ponto apresentado pelo casal de publicitários era que Dilma realmente sabia de todos os esquemas envolvendo o pagamento de dívidas de campanha via caixa 2. Mais do que isso, ela teria ciência de que as suas campanhas foram abastecidas com dinheiro não declarado e se preocupava com um possível rastreio desses valores.

Somente na disputa de 2014, conta Mônica Moura, foram R$ 35 milhões pagos pelo Partido dos Trabalhadores por meio da Odebrecht. Parte desse valor era repassado em espécie — e das mais variadas formas, incluindo dentro de caixas de sapato — e outra por meio de uma conta que Mônica e Santana tinham na Suíça. E Dilma tanto sabia disso que chegou a pedir para que a marqueteira transferisse essa conta para Cingapura sob a alegação de que o país europeu era muito visado pelas autoridades.

Em outro momento, Santana relata que Dilma questionou se os depósitos eram feitos de forma segura, temendo que os pagamentos feitos pela Odebrecht tivessem algum rastro que pudessem indicar a origem do dinheiro. O medo a petista era originado de ameaças que o próprio Marcelo Odebrecht fez na época para pressionar uma barreira à Lava Jato.

Participação de Mantega

Outro ponto que reforça o conhecimento da ex-presidente é que ela havia colocado o ex-ministro Guido Mantega como o responsável pelos pagamentos de caixa 2 exatamente por não confiar em João Vaccari Neto.

De acordo com a delação de Mônica Moura, o repasse do dinheiro estava atrasado e Dilma pediu para que eles fossem tratar diretamente com Mantega, pois suspeitava que Vaccari tivesse realizado desvios na campanha de 2010. Além disso, a petista prometeu que esses atrasos não iriam mais se repetir.

E-mail falso e Lava Jato

Para evitar qualquer tipo de grampo ou vazamento de suas conversas, Dilma e Mônica compartilhavam uma conta de email falsa por onde trocavam mensagens sobre o avanço da Lava Jato. O endereço escolhido foi o 2606iolanda@gmail.com, em referência ao nome da mulher do ex-presidente da República Costa e Silva.

Segundo a publicitária, a petista avisaria qualquer informação repassada pelo então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. As mensagens não chegavam a ser enviadas, sendo salvas como rascunho apenas. Assim, Dilma pedia para que o assessor Giles Azevedo avisasse Mônica de que ela precisava checar o e-mail. Foi assim que ela e João Santana souberam que seriam presos quando retornassem ao Brasil.

Vantagens e mimos

A petição de Fachin pode ganhar mais força exatamente pelo trecho do depoimento de Mônica em que ela afirma que foram pagos R$ 170 mil com gastos pessoais de Dilma, pois ela era considerada uma cliente importante para o casal. Entre as despesas estavam os salários do cabeleireiro Celso Kamura, de uma assessora pessoal identificada apenas como Rose e até de técnicos de teleprompter de quem a ex-presidente gostava muito.

Monica conta que esses “mimos” começaram a ser pagos já em 2010, durante a primeira campanha de Dilma. E muitos deles se estenderam após ela ter sido eleita, como o salário de Kamura durante os quatro anos de mandato. Nesse período, ele teria recebido cerca de R$ 40 mil. Cada corte custava R$ 2 mil, os quais eram pagos em espécie por João Santana.

Dilma Bolada

Nem mesmo as redes sociais escaparam dos escândalos. O perfil Dilma Bolada também estava na ordem de pagamento via caixa 2. O ator Jeferson Monteiro, responsável pela conta, teria recebido R$ 200 mil do casal por causa de uma dívida que o PT tinha com ele. O pedido de pagamento foi feito por Edinho Silva, coordenador da campanha de 2014 e serviu para que Monteiro reativasse o perfil, que havia sido desativado.

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