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| Foto: EVARISTO SA/AFP

Como um presidente acusado de corrupção e com uma taxa de aprovação de 5% consegue sobreviver a uma denúncia votada pela Câmara dos Deputados transmitida pela TV? Não basta a explicação óbvia de que o presidente Michel Temer comprou com afagos os votos necessários. No fundo, talvez, os brasileiros amem Temer e não queiram vê-lo no banco dos réus.

Não houve mobilização popular digna de nota contra Temer e isso é um espanto para um presidente que tem a mais baixa aprovação popular da história recente. As pesquisas que mostram a desaprovação de sua gestão não apreendem, portanto, o sentimento real do brasileiro. Não é ódio. Não é vergonha. Talvez indiferença. Ou será amor?

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Cogitar que Temer seja amado pode soar como exagero, mas é algo que precisa ser levado em conta. No íntimo, a maioria dos brasileiros não sentiu que deveria fazer qualquer coisa depois de ouvir a gravação em que Temer indica o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures para lidar com as demandas da J&F do empresário Joesley Batista. O amor tudo perdoa – por isso, a hipótese não é descabida.

Temer não é o único de sua espécie. Tem um tanto do estereótipo do político brasileiro: homem, vaidoso, bom de conversa, treinado para atuar nos bastidores. É um modelo que sempre tem os votos de que precisa para estar perto o suficiente do poder. Fechar negócios escusos faz parte da natureza da figura pública típica do Brasil e disso possivelmente derive o fato de a maioria das pessoas não esperarem um comportamento exemplar. O amor tem esse lado condescendente.

O caso do processo contra Temer merece ser melhor estudado. Seu julgamento político não causou qualquer constrangimento em quem o defendeu. Mesmo que a acusação contra ele fosse fraca – o que não era, já que a mala dos R$ 500 mil merece ser investigada até o fim – era de se esperar uma reação que fosse além dos poucos discursos da oposição no Congresso. A suspeita de corrupção, em qualquer país normal, provocaria o desejo popular pela investigação. Mas o amor é cego.

O presidente Michel Temer acaba de desmistificar a tese de que governantes impopulares têm dificuldade para exercer o poder. No Brasil, só é preciso ser o tipo certo, com a conversa certa para conquistar o amor popular.

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