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| Foto: Lula Marques/Agência PT

Que o presidente Michel Temer é um sobrevivente ninguém duvida. Há menos de dois meses, ele foi atingido pela gravação-bomba que quase custou seu mandato-tampão. Empurrou o assunto para a frente, desafiou a Procuradoria-Geral da República a apresentar provas e se esforçou em agradar a base de apoio no Congresso.

Sua gestão da crise não foi perfeita. Teve episódios patéticos, como os vídeos em que se defendia sem citar a questão central da denúncia –o fato de seu assessor próximo ter recebido dinheiro da JBS em um enredo que aponta diretamente para o Palácio do Planalto. Fez uma viagem internacional recheada de gafes e escapou por pouco da cassação no Tribunal Superior Eleitoral, salvo pelos votos de cabresto de indicados seus.

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Ficou para o Congresso a função de julgar Temer na prática. Há duas ou três semanas, parecia claro que o acordo estava fechado para que a denúncia contra ele fosse engavetada. Mas o cenário está mudando e hoje o próprio Planalto admite que terá de fazer muito pelos amigos na Câmara dos Deputados para garantir que não haja votos suficientes para mandar a acusação para o julgamento no STF – situação na qual o presidente seria afastado do cargo por 180 dias.

A economia é um dos fatores-chave para entender a mudança de humor no Congresso. Na época em que as gravações da JBS vieram à tona, temia-se que uma crise política prolongada jogaria a retomada para um futuro distante, o que tornaria mais dura a reeleição de deputados e senadores em 2018. A tese dominante era a de que, enterrada rapidamente a crise, a economia continuaria sua trajetória de recuperação suficiente para não ser um problema eleitoral.

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Passados quase dois meses, descobrimos que há um certo nível de descolamento da atividade econômica da crise política. O desemprego parece estar se estabilizando, a atividade econômica parece não ter sentido os ventos de Brasília e as mudanças de cenário feitas por analistas foram ajustes pequenos. É verdade que o mercado ainda vê a reforma da Previdência como essencial para o ajuste das contas públicas, mas no fundo não interessa quem vai assinar a medida, contanto que estanque o crescimento do gasto previdenciário nos próximos anos.

A aparente resistência da atividade econômica pode ter a ver com o fato que todo mundo no mercado sabe que o Congresso hoje dá as cartas e que ele assina embaixo da manutenção da atual equipe econômica. O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já deu sinais de que ficaria em outro governo e que não jogaria fora, por causa de Temer, sua chance de se viabilizar como candidato ao Planalto em 2018. Em outras palavras, fritar Temer e ver o que sai dali pode não ser um tiro no pé.

Ao mesmo tempo, há outros dois fatores políticos que mudaram nas últimas semanas. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, jogou no colo da Câmara a possibilidade de mandar três denúncias. Os deputados podem ter de passar pelo desgaste de proteger Temer três vezes até o fim do ano. Com as eleições cada vez mais perto, é natural que o movimento seja de distanciamento da turma do Planalto.

O segundo fator é que, aparentemente, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, viu uma oportunidade se abrindo. Em maio, na época das gravações, ele não conseguiu costurar a sucessão a Temer. Agora, controlando mais de perto a votação na Comissão de Constituição e Justiça, ele tem a chance de em poucos dias encostar o governo na parede. Ele quer fazer isso? Não está claro, mas seria uma saída para tirar o incômodo Temer do meio da sala.

É impossível prever se haverá ou não acordo para a manutenção do governo Temer até o fim do ano. A maratona do Planalto para conversar com todos os deputados vai continuar e é fato que, até um governo falido tem coisas para oferecer. Mesmo que seja o silêncio. Ao mesmo tempo, a Câmara sabe que pode assumir o controle direto das coisas, sem intermediários. O custo de salvar Temer terá de ser menor do que o de tê-lo como inimigo.

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