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Nos bastidores, Renan Calheiros (MDB-AL), à direita, tenta articular a presidência do Senado. | Roque de Sá/Agência Senado
Nos bastidores, Renan Calheiros (MDB-AL), à direita, tenta articular a presidência do Senado.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O lançamento da candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência do Senado, na última semana, representou um largo passo para o MDB permanecer no comando da Casa e um indicativo de uma candidatura favorita. O jogo, porém, ainda não está definido - e há muitos fatores que devem mobilizar os parlamentares até a data da votação, o próximo dia 1º de fevereiro.

A começar pelo grande número de pré-candidaturas. Além de Simone, nomes como Davi Alcolumbre (DEM-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Espiridião Amin (PP-SC), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Major Olímpio (PSL-SP) confirmaram o interesse em concorrer à Presidência. Há ainda outros que não formalizaram a candidatura, mas são alternativas colocadas à mesa, como Fernando Collor (PTC-AL), Cid Gomes (PDT-CE) e, o mais forte entre eles, Renan Calheiros (MDB-AL).

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Os próximos dias serão de reuniões, de acertos entre as siglas e de uma provável redução no número de candidatos - a tendência é que os parlamentares formem blocos e abram mão das indicações para apoiarem colegas com mais possibilidades de vitória.

Além disso, os diversos desdobramentos que se relacionam com a eleição devem levar os senadores a considerarem diferentes aspectos para definirem o posicionamento definitivo no momento da votação.

Governo e parlamento

Um deles é a relação entre o Palácio do Planalto e o Senado. O discurso utilizado por membros das duas instituições, em épocas como a atual, é conhecido: diz-se que os poderes são independentes e que cabe a um apenas “respeitar” o outro. Porém, na prática, o que ocorre é a tradicional tentativa do governo de buscar um comando do Senado que seja ao menos pouco hostil às suas pautas e que garanta a famosa governabilidade.

Na disputa atual, o quadro de relação direta entre Planalto e Senado gira basicamente em torno de duas candidaturas. Uma é a de Major Olímpio, do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro e um dos primeiros aliados da empreitada presidencial do atual chefe da República. Já a outra é a de Davi Alcolumbre.

Nos bastidores, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estaria fazendo lobby pelo colega de partido: Davi Alcolumbre.Wilson Dias/Agência Brasil

O parlamentar do Amapá é do mesmo partido que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que está operando para a vitória do correligionário. “O Davi tem apoio da Casa Civil, e o presidente Bolsonaro tem o desejo que ele seja candidato”, afirmou o senador eleito Lucas Barreto (PTB-AP). Embora o discurso oficial seja o de que “não existe candidato do governo” - mantra repetido por Olímpio na segunda-feira (21) - as digitais do Planalto se fazem presentes nessas especulações.

Além disso, há o caso Flávio Bolsonaro. O senador eleito pelo PSL-RJ, filho do presidente da República, entrou para o olho do furacão político há algumas semanas, desde a descoberta de movimentações financeiras suspeitas na conta do seu auxiliar Fabrício Queiroz.

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O problema cresceu após a revelação de que ele empregou parentes de um ex-policial acusado de envolvimento com milícias do Rio de Janeiro. O presidente Bolsonaro, instado a falar do tema mesmo durante sua viagem ao Fórum Econômico Mundial na Suíça, deu declarações que oscilaram entre o “quem errou, tem que pagar” e o “estão usando o garoto para tentar me atingir”.

De todo modo, o Senado passa a ter protagonismo no episódio por ser justamente o ambiente em que Flávio marcará presença a partir do próximo dia 1º de fevereiro.

Interna corporis

O Senado também pode ver na eleição um modo para buscar recuperar parte de sua imagem perante a população. A Casa, assim como sua vizinha Câmara, tem registrado escândalos em série nos últimos anos, o que motivou uma renovação ímpar nas eleições de 2018. Um total de 46 das 54 vagas em disputa no ano passado serão ocupadas por novatos. Medalhões da Casa, como Roberto Requião (PR), Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE), todos do MDB, não conseguiram renovar nas urnas os seus mandatos.

Mas Renan Calheiros conseguiu. E, embora negue publicamente a candidatura, tem se articulado para voltar a chefiar a casa que já presidiu por mais de seis anos. Com sua mobilização, nasceu um movimento - ao menos da boca para fora - de “todos contra Renan”. Parlamentares de diferentes correntes têm se colocado publicamente contra a pretensão do alagoano. A análise deles é que a má reputação que envolve o cacique do MDB pode respingar em toda a casa.

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“Nós entendemos que não convém puxarmos para nós uma coisa que não é nossa. A mídia e a população são críticas. O que antes era ‘Fora Dilma’ hoje é ‘Fora Renan’”, afirmou o senador eleito Luiz Carlos Heinze (PP-RS).

As críticas a Renan vêm até mesmo por parte de políticos de outra casa e de vertentes ideológicas variadas. Deputados federais eleitos e ícones, respectivamente, da direita e da esquerda, Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também se apresentaram contra a candidatura de Calheiros. Até o coordenador da Lava Jato em Curitiba, o procurador da República, Deltan Dallagnol entrou na campanha contra Renan.

Força dos partidos

A eleição pode colaborar para a consagração - ou a recuperação - de alguns partidos. O MDB foi um dos mais afetados pela eleição de 2018. O presidenciável do partido, Henrique Meirelles, foi apenas o sétimo colocado. Na Câmara, o partido elegeu apenas 34 deputados federais, contra os 66 conquistados em 2014. Já no Senado, mesmo com as derrotas dos medalhões e a redução no número de cadeiras, o partido permaneceu com a maior bancada.

Com isso, consegue alegar ter direito ao comando da Casa, em respeito ao chamado princípio da proporcionalidade - tradição não-escrita que reserva ao partido com mais vagas o comando do parlamento. Logo após as eleições de outubro, o presidente do partido, Romero Jucá, disse que se empenharia para que a chefia do Senado permanecesse com a sua legenda. O sucesso da candidatura de Simone Tebet pode representar, portanto, um indicativo de força da mais tradicional agremiação partidária do país.

Nome de Tasso Jeireissati (PSDB-CE)surgiu ainda no ano passado como alternativa a Renan Calheiros (MDB-AL).Marcos Oliveira/Agência Senado

Outro partido afetado pela eleição de outubro que pode encontrar uma redenção na corrida pelo comando do Senado é o PSDB. Os tucanos, que haviam mostrado competitividade em todas as eleições presidenciais até 2018, viram o candidato Geraldo Alckmin comer poeira de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), e sequer triunfar em seu estado.

Assim como o MDB, o PSDB também registrou expressiva redução no tamanho de suas bancadas. No Senado, nomes de expressão da sigla como Ricardo Ferraço (ES), Cássio Cunha Lima (PB) e Paulo Bauer (SC) não conseguiram renovar os seus mandatos. A candidatura de Tasso Jereissati, se bem-sucedida, pode dar ao PSDB um protagonismo que parecia distante ao partido pelos próximos anos.

Por fim, outro partido diretamente vinculado à corrida para o comando do Senado é o DEM. A sigla de Davi Alcolumbre já tem o comando da Câmara, com Rodrigo Maia (RJ), que é também o favorito a vencer a disputa de 2019. Embora Alcolumbre conte com o apoio velado de membros do alto escalão do governo Bolsonaro, o fato de seu partido já chefiar a Câmara pode prejudicar suas pretensões - a crítica é a de que seria poder demais em uma única legenda.

A cara da oposição

Mesmo entre quem contraria o governo Bolsonaro - e sabe que não tem condições de vencer a eleição interna - a corrida para o comando do Senado é interpretada como algo de inúmeras implicações.

O Senado é a futura casa de Cid Gomes (PDT-CE), que desde o fechamento das urnas em outubro do ano passado tem defendido a mobilização de forças políticas que rejeitem Bolsonaro e também o PT - partido que, por ter ido ao segundo turno, figuraria naturalmente como a principal força de oposição.

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A articulação do grupo prevê uma reunião na sexta-feira (25), chefiada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em que se discutirá a formação de um bloco de “centro democrático” que buscará influenciar na eleição para o Senado. O encontro é idealizado por membros de Rede e PDT, mas pode contar também com integrantes de siglas como PSB, PRP e PPS.

Em conversa com a Gazeta do Povo, o presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, disse que o partido considera o Senado um ponto vital para a definição dos rumos da oposição ao governo Bolsonaro. Segundo ele, a busca por um “Legislativo independente” e por uma “oposição propositiva” tendem a indicar a cara da oposição.

Recuperação individual

A eleição no Senado pode representar ainda um ganho individual para Alvaro Dias. O parlamentar do Paraná é tradicionalmente uma das figuras de maior destaque na Casa e, em 2014, foi o senador com a maior votação proporcional de todo o país.

Em 2018, porém, lançou uma candidatura presidencial que pouco empolgou. Acabou a corrida na nona colocação, com 859.601 mil votos - número mais de quatro vezes menor do que o obtido por ele em 2014, quando o universo de eleitores se resumia ao estado do Paraná. Ao se apresentar como candidato a presidente do Senado, Alvaro tenta buscar um novo protagonismo de caráter nacional.

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