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Grupo de debates do Opet:para Gydeon França, o debate ajuda para que as pessoas sejam mais tolerantes | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Grupo de debates do Opet:para Gydeon França, o debate ajuda para que as pessoas sejam mais tolerantes| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Uma das formas de minimizar o ódio, o radicalismo e a ignorância política como a tônica dominante nas redes sociais é estimular a criação de grupos de debates, nos moldes do que já existe há décadas na Europa e nos Estados Unidos. Eles geram aprendizado, aprofundam a discussão de temas públicos e possibilitam o surgimento de posicionamentos ponderados. No Brasil esse movimento é recente, mas começa a despontar como tendência. Criado em 2013, o Instituto Brasileiro de Debates (IBD) conta hoje com 13 grupos associados em todo o país, entre eles, a Sociedade de Debates da Opet, o primeiro grupo acadêmico em solo paranaense, fundado neste ano.

“O debate estimula o senso crítico do debatedor, o qual terá que dominar o tema para que possa defender suas ideias”, afirma Gydeon França, acadêmico de Direito e presidente da Sociedade de Debates da Opet. “Ajuda também para que a pessoa seja mais tolerante, pois precisa convencer com suas ideias, ouvindo atentamente os argumentos contrários, para poder refutá-los”.

Segundo França, a ideia de criar o grupo veio depois que assistiram o filme “O Grande Desafio”, dirigido por Denzel Washington e que participaram de júris simulados em sala de aula. “Então começamos a pesquisar e nos aproximamos do movimento de debates universitário brasileiro e fomos convidados a participar do 2º campeonato em 2015, promovido pelo IBD.”

Em ascensão

Veja o crescimento no número de sociedades de debates no Brasil:

2011: 1

2012: 1

2013: 3

2014: 5

2015: 9

2016: 13

Fonte: SBD

A partir daí, explica França, o movimento começou a tomar corpo. “Nosso entusiasmo contagiou colegas e professores, proporcionando a formalização de nossa sociedade de debates no início de 2016, ano em que realizamos debates treinos e participamos do 3.º campeonato nacional, nos elevando no quadro de ranking do Instituto Brasileiro de Debates.”

Hoje são 25 membros no grupo. Para o próximo ano, diz França, o plano é estimular que outras sociedades de debate surjam nas faculdades, para fortalecer a cultura do debate no estado. “O perfil dos integrantes é de acadêmicos, tanto de direito, quanto de outros cursos. Mas, um dos objetivos mais importantes é levar esse modelo de debates para fora dos muros universitários, tanto em escolas, quanto para qualquer outro cidadão que queira participar.” A ideia da criação do grupo engajou parceiros fora dos muros da Opet – a Comissão dos Advogados Iniciantes da OAB-PR e o Curso Professor Luiz Carlos tem apoiado o projeto.

Desde a criação do IBD, os eventos de debates no país se multiplicaram ao longo dos anos (ver info/tabela). Entre 2011 e 2013 foram realizados apenas dois torneios locais. Neste ano, ocorreram no Brasil um torneio nacional, três regionais e quatro locais.

Na avaliação do presidente do IBD, Renato Ribeiro, o Brasil começa a desenvolver uma cultura que em outras sociedades é bastante antiga. “O debate está na raiz da discussão pública europeia e dos Estados Unidos. Para você ter uma ideia, Thomas Jefferson, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, participou de uma sociedade de debates”, afirma. Para Ribeiro, esses grupos são redutos de produção intelectual. “Eles contribuem para o ensino, na medida em que qualificam o discurso.”

Por que são relevantes?

Os grupos de debates contribuem para a democracia na medida em que desenvolvem discursos de qualidade, melhoram o poder de síntese, criatividade e comunicação dos estudantes e servem para neutralizar o debate radicalizado dos internautas nas mídias sociais. Assim pensam os especialistas procurados pela reportagem.

Daniel Medeiros, doutor em Educação Histórica pela UFPR, diz não ter a menor dúvida de que esses grupos podem melhorar o debate democrático da sociedade, em especial nas redes sociais. “Esse tipo de técnica permite a construção de discursos que sejam sinceros, válidos e refutáveis. E esses três aspectos são a base do discurso democrático”, explica Medeiros. “Isso permite estabelecer distinção entre o que é discurso e o que é mera opinião”.

O professor criou um projeto piloto de grupo de debates no Positivo, programa que deve ser estendido aos alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio em 2017. Medeiros acredita que há um fundo educacional relevante na estrutura de trabalhos como o desses grupos, ao permitir que estudantes aprendam a sintetizar ideias e as comunicar melhor, aumentado a criatividade e a iniciativa.

Na avaliação de Renato Ribeiro, doutor em Teoria da Argumentação e do Discurso e presidente do Instituto Brasileiro de Debates (IBD), essa prática quebra o radicalismo ao fazer com que os debatedores estudem os argumentos contrários e favoráveis a um determinado tema. “Isso faz com que convicções rasas sejam superadas e você passa a respeitar e até admirar quem pensa de forma oposta. Quebra-se o radicalismo”.

Segundo Ribeiro, o modelo usado pelo IBD – o parlamentar britânico – vai além da preparação discursiva, por valorizar o Poder Legislativo. “Trata-se de acostumar a juventude ao Legislativo. A ideia é formar uma próxima geração de legisladores que superem a política rasa que hoje opera no Brasil.”

Como funciona

O modelo utilizado é o parlamentarista inglês. Veja como ele funciona:

1) Para compor o debate é preciso: quatro duplas de debates e um juiz.

2) Escolhe-se um tema geral e de interesse da sociedade. Disponibiliza-se com antecedência para as duplas, a fim que elas estudem tanto os argumentos contrários contra favoráveis ao tema.

3) A definição de qual posicionamento terão de defender somente ocorrerá na hora doo debate, com duas duplas de defesa e duas de oposição. Por essa razão, elas precisam estar preparadas para defender quaisquer argumentos.

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