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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o delegado da Polícia Federal Milton Fornazari Júnior, responsável pela Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros em São Paulo (Delecor), afirmou em uma rede social que “agora é hora de serem investigados, processados e presos os outros líderes de viés ideológico diverso, que se beneficiaram dos mesmos esquemas ilícitos que sempre existiram no Brasil (Temer, Alckmin, Aécio etc).”

A PF desautorizou a mensagem do delegado. Em nota nesta segunda-feira (9), a direção da PF informou que “as declarações proferidas são de cunho exclusivamente pessoal e contrariam o normativo interno referente a manifestações em nome da instituição”. A PF anunciou medidas administrativo-disciplinares “em relação ao caso concreto”.

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A mensagem de Fornazari foi postada pouco depois de o ex-presidente Lula decolar em um avião da PF rumo a Curitiba, a terra da Lava Jato, para cumprir a pena de 12 anos e um mês de reclusão no processo do famoso triplex do Guarujá.

“Lula preso. Objetivamente recebeu bens, valores, favores e doações para seu partido indevidamente por empresas que se beneficiaram da corrupção em seu governo”, escreveu o delegado. “Por isso merece a prisão.”

O delegado conclui sua manifestação afirmando que se as investigações futuras chegarem aos outros líderes que ele elencou “teremos realmente evoluído muito como civilização”. “Se não acontecer e só Lula ficar preso, infelizmente, tudo poderá entrar para a história como uma perseguição política.”

Delegado experiente, Fornazari tem em seu currículo a investigação sobre o cartel do Metrô e as fraudes no sistema metroferroviário de São Paulo em governos do PSDB. Ele também foi responsável pelo inquérito que apurou supostos desvios de recursos nas obras bilionárias do Rodoanel, em São Paulo, e é especialista em cooperação internacional para identificação de lavagem de dinheiro e ocultação de valores.

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O post de Fornazari contrariou a cúpula da PF. “O mencionado servidor não faz parte do corpo diretivo da PF em São Paulo e tampouco é porta voz desta instituição. A PF jamais se manifesta oficialmente por meio de perfis pessoais de seus servidores.”

Na nota, a cúpula da PF diz que “reitera seu compromisso, como polícia republicana, de trabalhar de forma isenta, discreta e apartidária, nos estritos limites da lei”.

Casos

O presidente Michel Temer (PMDB) foi denunciado duas vezes e é investigado em um inquérito pela Procuradoria-Geral da República. O senador Aécio Neves (PSDB) foi denunciado e é investigado na Lava Jato. E o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), é investigado em inquérito por caixa 2 no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em razão da delação da Odebrecht.

MPF

No domingo, foi a vez do procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, desmentir a acusação de “seletividade” da Lava Jato feita por petistas. Ele comentou uma reportagem de O Globo que mostrava investigações que envolviam além de Lula e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), além de Temer e Aécio. “Mas ainda é preciso fazer mais por todo o Brasil. Lute pelo fim do foro privilegiado, de mudanças nas leis penais e no fortalecimento da democracia.”

Para a presidente do Sindicato dos Delegados Federais de São Paulo, Tânia Prado, a prisão de Lula cria condições para o fortalecimento do papel da PF. “Vemos uma investigação que começou há quatro anos dar resultado.” Para ela, fica “evidente” pelas investigações feitas até agora que a PF não tem partido e que investiga independentemente da ideologia do acusado.

“Vamos mostrar que o trabalho da Lava Jato vai continuar, não só em São Paulo mas em outros Estados, com seus desdobramentos”, disse. Segundo Tânia, os delegados querem procurar “a verdade” em seus inquéritos e determinar “quem é o autor e encontrar a materialidade dos delitos”. “É o que sempre fizemos.”

Após a prisão de Lula, a Associação Nacional de Delegados Federais publicou uma nota na qual dizia que a PF “não tem cor, nem partido - tem missão! E exerce seu papel independentemente de quem seja o investigado, com equilíbrio, moderação e responsabilidade”.

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