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| Foto: LULA MARQUES/Agência PT

A ex-presidente Dilma Rousseff pode ser investigada na Justiça Federal do Paraná por suposto favorecimento ao grupo Tractebel-Suez na licitação da Usina Hidrelétrica de Jirau que, em conjunto com a Usina Hidrelétrica Santo Antonio, fez parte do Projeto Madeira. As duas usinas foram construídas no Rio Madeira, em Rondônia. As construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez formaram o consórcio responsável pela obra da UHE Santo Antonio. Dilma foi citada por dois colaboradores da Lava-Jato, o empresário Emílio Odebrecht e Henrique Serrano do Prado Valladares, executivo do setor de energia da Odebrecht.

Os dois disseram ter pedido ao ex-presidente Lula auxílio para reverter a adjudicação da obra em favor da Tractebel-Suez, que teria ainda gerado propinas para detentores de foro privilegiado, como os senadores Aécio Neves (PSDB) e Edison Lobão (PMDB). Como a ex-presidente Dilma Rousseff não tem foro privilegiado, o ministro Luiz Edson Fachin determinou que a apuração seja feita pela Justiça Federal do Paraná. Segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”, a Tractebel contribuiu com R$ 800 mil para a campanha de reeleição de Dilma em 2014.

“Narram os colaboradores que solicitaram auxílio do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva objetivando reverter a adjudicação em favor da TractebelSuez, contudo, por razão desconhecida, o ex-Presidente da República optou por não contrariar a então Presidente Dilma Vana Roussef, vista como responsável pelo favorecimento da mencionada empresa. Noticia o Ministério Público que fatos semelhantes são apurados previamente no âmbito da Justiça Federal do Paraná, razão pela qual se mostra recomendável a investigação em conjunto”, afirmou Fachin em despacho.

Segundo ele, o Ministério Público informou que fatos semelhantes são apurados no âmbito da Justiça Federal do Paraná, “razão pela qual se mostra recomendável a investigação em conjunto”.

Este é o segundo inquérito que envolve Dilma que deverá conduzido pelo juiz Sérgio Moro. Também deve ser enviada a Curitiba a investigação sobre a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, que teria o objetivo de obstruir as investigações da Lava-Jato.

A ex-presidente Dilma foi citada também por Marcelo Odebrecht em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral. Disse que, durante um encontro com a então presidente no México ele tentou alertá-la sobre possível contaminação de sua campanha por pagamentos feitos no exterior ao marqueteiro João Santana, responsável pelas duas campanhas de Dilma.

Governo ignorou riscos

Ao juiz Sérgio Moro, na última segunda-feira, o empresário afirmou que conheceu João Santana num evento social e esteve com Mônica Moura, mulher do marqueteiro, num evento social. Na avaliação dele, o governo Dilma ficou despreocupado sobre riscos de contaminação da campanha, com pagamentos feitos pela Odebrecht no exterior, porque Mônica tranquilizava:

“O único contato que tive com ela (Mônica) , foi em janeiro ou fevereiro de 2015, onde tínhamos identificado já os depósitos nessas contas (de Santana) e eu estava tentando convencer do risco de contaminação, como estava tentando convencer o governo, do risco de contaminação da campanha da Dilma por esse depósito no exterior. Quando eu fui falar com ela, ela veio pra mim dizendo que tudo aquilo que ela recebeu no exterior era relativo a serviços prestados no exterior, que não tinham nenhuma relação com a campanha no Brasil, que tudo que ela recebeu da campanha no Brasil foi em dinheiro. Eu falei “Mônica, mesmo que seja verdade, você não vai conseguir explicar isso quando vier à tona”. Mas essa era a versão dela e eu acho que essa versão dela fez com que ninguém no governo Dilma se preocupasse. Quando eu alertava todo mundo desse o risco de contaminação, acho que o pessoal ficava despreocupado porque ela chegava e dizia que não tinha risco, que tinha recebido tudo em espécie.”

O empresário disse à Justiça Eleitoral que havia também tentado alertar Dilma num encontro no México, mas não foi ouvido. Numa entrevista à Folha, a ex-presidente disse que não entendeu o que o empresário havia dito.

Ao falar a Moro, Marcelo deu a entender que Dilma sabia da existência de uma conta corrente de propina do PT com a Odebrecht. Ele disse que em meados de 2010, no fim do governo Lula, ele avisou Palocci que o governo iria mudar e que o saldo da conta seria gerido por ela (Dilma), a pedido dela.

“Tinha um saldo de uns R$ 40 milhões, aí o que eu combinei com o Palocci, essa era uma relação minha com a presidência do PT no Brasil, vai mudar o governo, vai entrar a Dilma, esse saldo passa a ser gerido por ela, a pedido dela - disse o empresário, que falou ainda sobre o provisionamento de um valor para atender pedidos do ex-presidente Lula, que teria sido combinado com Palocci.”

O empresário afirmou que a relação com Palocci ocorreu até o início do governo Dilma, quando foi substituído por Guido Mantega. Segundo ele, Dilma sempre reforçava e quando ele tentava discutir um tema, inclusive contribuições, ela dizia “isso aí é com o Guido”.

Dilma indicou pessoalmente receptador de propina

A ex-presidente da República Dilma Rousseff teria indicado o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o contato do Grupo Odebrecht no governo logo após a saída do então chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, em 2011, segundo um dos depoimentos do empresário Marcelo Odebrecht à Justiça. Palocci assumiu a pasta logo no primeiro dia de mandato de Dilma, em janeiro de 2011, mas pediu demissão seis meses depois, alvejado por denúncias de enriquecimento ilícito. No minuto 9:30, o empresário relata o momento em que Dilma lhe disse que Mantega era o novo contato. Assista ao vídeo abaixo:

Segundo Marcelo, ele perguntou pessoalmente a Dilma sobre quem era a pessoa com quem a empresa deveria tratar a partir de agora (após a demissão de Palocci) e ela indicou Mantega, que passou a ter uma função estratégica no gerenciamento de pagamentos e contribuições do grupo Odebrecht ao governo.

Procurada, a assessoria de Dilma informou apenas que não iria comentar. A Tractebel ainda não respondeu ao GLOBO.

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