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O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi eleito para a presidência do Senado com 42 votos. | Edilson Rodrigues/Agência Senado
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi eleito para a presidência do Senado com 42 votos.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado representa uma vitória do governo de Jair Bolsonaro e, mais ainda, do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Alcolumbre ganhou ontem a queda de braço com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Mesmo assim, o Palácio do Planalto sai com escoriações do confronto e pode enfrentar dificuldades para aprovar projetos na Casa, como a reforma da Previdência, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas. 

Articulador político do Planalto, Onyx interferiu na disputa ao apoiar Alcolumbre e articular uma frente para derrotar Renan, que renunciou à candidatura quando viu que iria perder o jogo após 12 senadores terem votado. Investigado pela Lava Jato, Renan teve apenas cinco votos e o senador do DEM, 42 de um total de 77. 

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Em uma sessão de quase nove horas, marcada por xingamentos, bate-boca e até denúncia de fraude, Alcolumbre foi eleito para um mandato de dois anos, até janeiro de 2021. Com a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Câmara dos Deputados, é a primeira vez que o Democratas comanda as presidências das duas Casas legislativas nacionais. 

Onyx não queria a candidatura de Maia, mas teve de aceitá-la porque o deputado conseguiu angariar apoio da esquerda à direita, incluindo o do PSL, partido de Bolsonaro. Quarta bancada do Senado, com apenas seis integrantes, o DEM também comanda três ministérios – Casa Civil, Agricultura e Saúde. 

Até mesmo aliados do presidente Bolsonaro admitem, nos bastidores, que o empenho de Onyx em derrotar o experiente Renan terá impacto sobre votações de interesse do governo. Enquanto Renan tem interlocutores em todos os partidos, Alcolumbre – um representante do baixo clero – poderá ter problemas para negociar com a oposição. Além disso, ninguém duvida de que o senador alagoano dará o troco no Planalto. 

Poder do DEM consolidado 

Depois de amargar um décimo lugar geral em votos nas eleições para deputado federal e um quinto para senador em 2018, o partido inverte a posição na influência política com as vitórias na presidência da Câmara e do Senado 

A façanha do DEM, como o PFL de Antonio Carlos Magalhães, Marco Maciel e Jorge Bornhausen foi rebatizado há 12 anos, ocorre meses depois de o partido obter três ministérios do governo Bolsonaro. A legenda conseguiu construir um atalho à barreira “ética” imposta pelo núcleo dos generais e emplacar os deputados Luiz Henrique Mandetta (MS) na pasta da Saúde, Tereza Cristina (MS) na Agricultura e, em especial, Onyx Lorenzoni na chefia da Casa Civil. Os três foram citados em denúncias. 

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Nem o PSL, de Bolsonaro, que saiu em outubro das urnas como o mais votado para a Câmara, com 11 milhões de votos, e o PT, campeão na contagem de votos para o Senado, com 24 milhões, tiveram o mesmo espaço no tabuleiro político de Brasília. 

É a primeira vez que um partido comandará as duas casas desde 2014, quando o então PMDB elegeu Renan Calheiros (AL) no Senado e Eduardo Cunha (RJ) na Câmara. Mas nessa época, o PMDB tinha a maioria no Senado e a segunda na Câmara, quando derrotou o candidato do PT. Agora, o DEM assume as duas Casas com apenas a quarta bancada no Senado (seis senadores) – empatado com PT e PP – e a 11.ª na Câmara (27 deputados). 

Interlocutores do Planalto observam que as movimentações de Onyx para nomear colegas no primeiro escalão do governo teve o aval absoluto do presidente Jair Bolsonaro. Na empreitada atuou também o governador eleito de Goiás e também integrante do DEM, Ronaldo Caiado. 

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A parceria entre Caiado e Onyx passou por cima de Rodrigo Maia e do presidente nacional do partido, ACM Neto. Os dois não foram ouvidos na escolha dos ministros. Na eleição do ano passado, o prefeito de Salvador impediu que o partido desembarcasse oficialmente da campanha do tucano Geraldo Alckmin e aderisse a Bolsonaro. Interlocutores de Maia e de ACM Neto enxergam uma obsessão de Onyx em dominar o partido. 

A vitória de Alcolumbre, um senador de 41 anos e apenas há quatro no Senado, deu mais visibilidade à contribuição do ministro da Casa Civil para derrotar Renan, que perdeu ontem a chance de ser eleito presidente do Senado pela quinta vez. 

Criado a partir de uma dissidência do PDS nas articulações para candidatura presidencial de Tancredo Neves, do PMDB, o antigo PFL foi rebatizado de DEM em 2007. Era o auge da popularidade do PT e do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que três anos depois defendeu em comício a “extirpação” do Democratas por ser um “partido do ódio”. Foi como PFL que a sigla viveu momentos intensos na política, com o líder baiano Antônio Carlos Magalhães dando as cartas do Ministério das Comunicações do governo Sarney e depois como apoio do governo Fernando Henrique – quando comandou o Senado. 

Paulo Guedes não gostou

Na lista de prioridades do governo está a reforma da Previdência, que a equipe econômica quer encaminhar ao Congresso até o fim de fevereiro. Há também projetos de mudanças tributárias, privatizações e uma agenda conservadora de costumes. 

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Ao medir forças com Renan e dar estocadas em Maia, Onyx desagradou ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A equipe econômica sempre avaliou que Maia e Renan teriam mais pulso para conduzir votações estratégicas no Congresso, principalmente a reforma da Previdência, um tema árido que enfrenta resistências e requer o aval de 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em duas votações. Além disso, a proposta de mudanças na aposentadoria planejada por Onyx é mais suave do que a de Guedes.

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