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 | Clauber Cleber Caetano/PR
| Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Eles não são candidatos a presidente. Mas nos bastidores têm sido personagens importantes na reta final das articulações políticas de alguns dos principais concorrentes na tentativa de melhorar sua imagem, estabelecer alternativas eleitorais, ampliar a popularidade em determinados segmentos sociais ou agregar mais partidos em suas chapas (e mais tempo na propaganda eleitoral de TV). E, em alguns casos, eles podem vir a ser os responsáveis por determinar rumos do futuro governo caso o candidato que apoiam vença a eleição.

Confira dez coadjuvantes nas eleições de 2018 que ajudam a entender as articulações e alianças políticas para esta campanha. E como isso eventualmente vai afetar o país a partir do ano que vem. Tem um pouco de tudo: raposas da política, mensaleiros, ex-astronauta, um príncipe sem coroa, ex-general da defensor de uma intervenção militar e até mesmo um coadjuvante que pode virar protagonista.

Os militares

1. Mourão: um general para servir de escada para o capitão
General Mourão ficou conhecido por defender a intervenção militar.Foto: Maicon J. Gomes/Gazeta do Povo

O candidato Jair Bolsonaro (PSL), que é capitão da reserva do Exército, tentou ter o general da reserva Augusto Heleno (PRP), ex-comandante das Forças de Paz da ONU no Haiti, como vice. Não deu certo. Agora, outro oficial de alta patente tem tido importância nos bastidores da campanha dele e é cotado para ser o vice na chapa: o general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB).

O general Mourão virou um personagem conhecido em todo o país no ano passado, quando ainda estava na ativa e defendeu que as Forças Armadas fizessem uma intervenção no país caso as instituições do país não resolvam o problema da corrupção.

Pouco depois, criticou a administração do presidente Michel Temer, dizendo que havia se transformado em um “balcão de negócios”. Perdeu o cargo que tinha no governo – de secretário de Economia e Finanças do Exército. Em 2015, Mourão já havia criado nova polêmica ao homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador do período da ditadura militar.

Agora, Mourão é conselheiro da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) e virou um dos cotados para ser vice do candidato. Do ponto de vista político-eleitoral, a contribuição dele tende a ser baixa para a campanha. A defesa da intervenção militar e do coronel Ustra, diante do eleitorado de Bolsonaro, não traz nada de novo à imagem do candidato. Mas ao menos Mourão, filiado ao PRTB, somaria um pouco mais de tempo na propaganda de TV.

Além disso, como general, Mourão teria condições de contribuir para romper a resistência de parte da cúpula das Forças Armadas – que teria rejeição a ver Bolsonaro (um capitão, patente mais baixa) na Presidência.

Para um eventual governo de Bolsonaro, a proximidade com o general Mourão reafirma a tendência de que a gestão dele será linha-dura e militarista.

LEIA TAMBÉM: Quem é o general que defendeu a intervenção militar no Brasil

2. Marcos Pontes: do espaço sideral para o mundo da política
Marcos Pontes já foi garoto propaganda de Lula. Agora pode ser de Bolsonaro.Foto: Denis Sinyakov/APF/Arquivo

Marcos Pontes, tenente-coronel da reserva da Força Aérea Brasileira, é mais conhecido como o astronauta brasileiro. Até hoje, aliás, é um único homem que o país conseguiu mandar para o espaço. Em 2006, ele pegou carona num foguete russo e ficou dez dias na Estação Espacial Internacional. A viagem pela órbita terrestre foi usada na propaganda do governo do então presidente Lula (PT) como exemplo de um Brasil que começava a dar certo.

Doze anos depois, Pontes pode entrar na propaganda de um político do outro extremo do espectro político-ideológico: Jair Bolsonaro (PSL). Ele é cotado para ser vice do candidato a presidente.

Na prática, contudo, se o astronauta for vice de Bolsonaro, possivelmente vai agregar à campanha apenas uma imagem mais positiva, de alguém preocupado com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Eventualmente, a influência de Pontes num eventual governo de Bolsonaro pode dar um estímulo a essas áreas, bem como ao programa espacial brasileiro. Isso, aliás, tende a ocorrer mesmo que Pontes não seja candidato a vice. Isso porque o astronauta já foi “convidado” por Bolsonaro para ser seu ministro da Ciência e Tecnologia.

Do ponto de vista político, Pontes tem pouco a somar. É do mesmo partido de Bolsonaro – o que significa que o tempo de TV segue o mesmo. Além disso, o astronauta tem poucos votos. Em 2014, tentou se eleger deputado federal por São Paulo. Teve apenas 43,7 mil votos e não conseguiu uma cadeira na Câmara.

Os prefeitos

3. Fernando Haddad: o coadjuvante que pode virar protagonista
Fernando Haddad estaria sendo “preparado” para substituir Lula na urna.Foto:

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) oficialmente é o coordenador do plano de governo de Lula – uma função importante dentro da campanha presidencial. Mas ele pode virar muito mais do que isso, deixando o papel de coadjuvante para virar protagonista do PT nas eleições. Os petistas trabalham com um plano B para substituir Lula caso a candidatura dele seja barrada pela Justiça Eleitoral, embora neguem isso. E Haddad dá cada vez mais sinais de que é o nome para substituir Lula.

A escolha de Haddad para coordenar o plano de governo de Lula vem permitindo que ele seja o porta-voz do ex-presidente quando o assunto é campanha eleitoral. Se tiver de assumir o posto, portanto, estará “preparado”.

Mas, nesse caso, não será o coadjuvante (Haddad) que vai agregar algo ao protagonista (Lula). O que iria ocorrer é exatamente o contrário: sem o ex-presidente como cabo eleitoral, o ex-prefeito não teria chance de se eleger presidente.

4. ACM Neto: bom de bastidor, ele dará palanque para tucano num “enclave” petista
ACM Neto “tirou” o DEM de Ciro e “deu” o partido a Alckmin.Foto: Edson Santos/Agência Câmara

Prefeito de Salvador (BA) e presidente nacional do DEM, Antônio Carlos Magalhães Neto tem sido um dos principais articuladores políticos da candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB). Ele foi importante para convencer o pré-candidato à Presidência de seu partido, o deputado Rodrigo Maia, desistisse. Também evitou que seu partido, que vinha flertando com Ciro Gomes (PDT), fechasse aliança com o presidenciável pedetista. Agora, foi designado para buscar um vice para o tucano – depois que o empresário Josué Alencar Gomes (PR) não aceitou a indicação.

Além das habilidades nos bastidores, ACM Neto é um político popular na Bahia. Por esse motivo, ele dará um relevante palanque para Alckmin no Nordeste – um tradicional bastião do PT.

Obviamente, se Alckmin vencer a eleição, o prefeito de Salvador indicará aliados para o futuro governo (assim como todo o DEM). Além disso, teria sido acertado que Rodrigo Maia (DEM-RJ), que abriu mão de concorrer ao Planalto, vai permanecer na presidência da Câmara em 2019.

A presença do DEM no governo também daria um peso mais à direita à possível gestão tucana. Afinal, o partido de ACM Neto é a mais tradicional agremiação da centro-direita do Brasil.

O príncipe

5. Luiz Philippe de Orleans e Bragança: o monarquista que pode virar vice-presidente da República
Luiz Philippe de Orleans e Bragança: força aos monarquista e à reforma da Constituição.Foto: Reprodução/Facebook

Descendente de Dom Pedro II, o empresário e ativista político Luiz Philippe de Orleans e Bragança criou em 2014 o Movimento Liberal Acorda Brasil. Militou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Simpático à ideia de restauração da monarquia no país, para esta eleição ele pensava em concorrer ao cargo de deputado federal pelo PSL, mesmo partido de Jair Bolsonaro. Agora, passou a ser cotado para ser vice do presidenciável.

Politicamente, Luiz Philippe pode agregar à campanha de Bolsonaro os grupos favoráveis à volta da monarquia ao país – que, do ponto de vista do número de eleitores, não são muito expressivos, embora sejam ativos nas redes sociais.

SAIBA MAIS: Quem é o descendente de Dom Pedro II cotado para ser vice de Jair Bolsonaro

Luiz Philippe também poderia ajudar a dissipar as desconfianças que pairam sobre a recente conversão de Bolsonaro ao liberalismo econômico, já que o vice é um defensor dessa corrente de pensamento. Bolsonaro, como deputado, costumava votar mais alinhado aos grupos simpáticos à ideia de um Estado forte e interventor.

Caso venha mesmo a ser o vice de Bolsonaro e os dois vençam a eleição, com Luiz Philippe no governo também haveria uma tendência a haver reformas mais profundas na Constituição. O “príncipe” está escrevendo, juntamente com um grupo de juristas, uma proposta para um novo texto constitucional. O movimento monarquista do Brasil também tenderia a ganhar força.

Os autores do impeachment de Dilma

6. Miguel Reale Júnior: a alternativa “ética” de vice se o candidato não conseguir mais ninguém
Miguel Reale Júnior : possível reforço na imagem de que Alvaro está comprometido com o combate à corrupção.Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo/Arquivo

O jurista Miguel Reale Júnior foi um dos três autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Filiado ao Podemos, virou uma alternativa para ocupar a vaga de vice do candidato do partido à Presidência, Alvaro Dias, caso ele não consiga um nome de outro partido.

A participação de Reale na campanha de Alvaro Dias seria mais simbólica. Ele não é político profissional e não participa de eleições – portanto, dificilmente agregará votos. Como é do partido de Alvaro Dias, também não soma tempo de TV na propaganda eleitoral.

Mas, por outro lado, Reale Júnior reforça a imagem que Alvaro Dias pretende usar na campanha de ser um candidato comprometido com o combate à corrupção.

7. Janaina Paschoal: uma mulher de vice para o candidato visto como machista
Janaina Paschoal tende a ser uma vice ativa, o que pode ser ruim para Bolsonaro.Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil

A advogada Janaina Paschoal (PSL) foi uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Durante o processo de cassação da ex-presidente, foi uma das mais ardorosas defensoras da destituição da petista da Presidência. Agora, passou a ser cotada para ser a vice de Jair Bolsonaro.

Como está no mesmo partido de Bolsonaro, Janaina não vai agregar tempo de TV se for indicada para compor a chapa. Ela, contudo, pode ser um importante instrumento de propaganda de Bolsonaro para reforçar o discurso anticorrupção. E também para conquistar mais votos de mulheres para Bolsonaro, visto como machista por parcela significativa do eleitorado.

FIQUE POR DENTRO: Quem é Janaina Paschoal, a algoz de Dilma que pode ser vice de Bolsonaro

Nos bastidores, a advogada também pode servir de ponte entre Bolsonaro e setores da direita que hoje o veem como um radical. Mas as incursões de Janaina nessa área não tem sido bem-sucedidas.

Na convenção do PSL que confirmou a candidatura de Bolsonaro, no último dia 22, ela causou mal-estar entre seguidores dele ao tentar convencê-los a serem menos radicais: “Não se ganha eleição com pensamento único. Não se governa uma nação com pensamento único. Os seguidores, muitas vezes, do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário”.

No sábado (28), Janaina tentou “ajudar” Bolsonaro a ter pelo menos mais um partido em sua chapa. Sugeriu que o candidato do Partido Novo à Presidência, João Amoêdo, se unisse a Bolsonaro. Foi solenemente ignorada por Amoêdo por dois dias. Até que, na segunda (30), o presidenciável do Novo disse “não” ao convite de Janaina.

O voluntarismo de Janaina, exemplificado na participação dela na convenção e na tentativa frustrada de conseguir aliados a Bolsonaro, indicam ainda que ela seria uma vice ativa – o que, para um presidente, costuma ser dor de cabeça. O sonho de consumo dos ocupantes do Planalto sempre é ter vices discretos.

Os mensaleiros

8. Roberto Jefferson dá tempo de TV, mas vai cobrar a fatura por meio de cargos
Roberto Jefferson e seu partido são um foco potencial de dor de cabeça para Alckmin.Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson foi o primeiro dirigente de um partido de peso a declarar apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pela Presidência. A coligação com os petebistas deu ao tucano mais tempo de TV e cabos eleitorais. Mas terá efeitos colaterais, sobretudo dor de cabeça.

Jefferson foi condenado e cumpriu pena de prisão pelo escândalo do mensalão – o esquema de compra de apoio político no primeiro mandato do ex-presidente Lula (PT). E agora ele é investigado, juntamente com outras lideranças do PTB, pela Operação Registro Espúrio, que apura um esquema de fraudes na liberação de registros de sindicatos no Ministério do Trabalho, “feudo” do partido no governo Temer. Esse histórico de Jefferson e do PTB com certeza irá provocar desgaste à candidatura de Alckmin.

Caso o tucano vença a eleição, o PTB também vai cobrar a fatura do apoio eleitoral por meio da indicação de políticos de suas fileiras para ocupar ministérios e outros cargos estratégicos.

É possível ainda que haja uma pressão dentro de um possível governo Alckmin para conter o que adversários das investigações contra a corrupção consideram ser seus “excessos”. Na convenção em que o PTB formalizou o apoio a Alckmin, no último sábado (28), a filha de Roberto Jefferson, Cristiane Brasil, outra investigada pela Operação Registro Espúrio, criticou o “ativismo judicial” e ironizou integrantes do Ministério Público – a quem chamou de “santinhos bonitinhos” que querem influenciar o resultado das eleições.

9. Valdemar Costa Neto, o artífice da decisão do centrão em apoiar um único candidato
Valdemar Costa Neto: Alckmin não teve pudor em negociar com um ex-detento por corrupção.Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O ex-deputado Valdemar Costa Neto foi condenado e preso por participar do esquema do mensalão no governo do ex-presidente Lula. Mas isso não o impediu de continuar a mandar no PR. E, nessa fase de pré-campanha, ele teve papel fundamental para levar não apenas seu partido a se coligar com Geraldo Alckmin (PSDB), mas todas as principais siglas do chamado centrão – que também inclui DEM, Solidariedade, PP e PRB.

Valdemar foi peça-chave para que o grupo não fechasse apoio a Ciro Gomes (PDT). Mostrou sua força ao indicar o empresário Josué Alencar Gomes (PR-MG), filho do ex-vice-presidente José Alencar, para a vaga de vice do tucano. A vaga só não será de Josué porque ele não quis.

De qualquer maneira, o centrão agregou três minutos na propaganda eleitoral para Alckmin. Mas também vai causar desgaste ao tucano. A ligação de Alckmin com mensaleiros e partidos envolvidos no escândalo da Lava Jato vai ser um peso que o candidato do PSDB terá de carregar na campanha.

O centrão, obviamente, vai cobrar a fatura se Alckmin se eleger por meio de indicações para ministérios e outros cargos importantes.

O sindicalista

10. Paulinho da Força quer que futuro presidente dê um jeito de financiar os sindicatos
Paulinho da Força: além de envolver Alckmin no imbróglio da volta do imposto sindical, também responde a suspeitas de corrupção.Foto: Ivaldo Cavalcante/Câmara dos Deputados

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP) conduziu seu partido, do qual é presidente, a fechar aliança com o tucano Geraldo Alckmin na disputa pela Presidência. Além de futuros cargos que a sigla vai cobrar caso Alckmin se eleja, outra conta será cobrada pelo Solidariedade: a volta do imposto sindical ou a criação de algum mecanismo de financiamento público dos sindicatos – que, desde a reforma trabalhista, perderam a principal fonte de arrecadação com a extinção do tributo destinado à atividade sindical.

Paulinho da Força, como o deputado é conhecido, apenas está defendendo seus interesses. Além de comandar o Solidariedade, ele é presidente da Força Sindical – entidade diretamente afetada pelo fim da contribuição compulsória dos trabalhadores aos sindicatos.

Alckmin negou que tenha aceitado a volta do imposto sindical para fechar aliança com o Solidariedade. Ainda assim, ficou no ar a possibilidade de um eventual governo dele criar outra forma de financiamento para as entidades que representam os trabalhadores. Aliás, a presença do partido de Paulinho no governo daria uma pitada sindical na gestão tucana.

O acordo de Alckmin com Paulinho da Força também tem potencial para desgastar a imagem do tucano. Paulinho, ao longo de sua carreira política e sindical, esteve envolvido numa série de polêmicas. Nos últimos tempos, notabilizou-se por ser um dos escudeiros da tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso pela Lava Jato.

Paulinho também é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de ter sido beneficiário de um esquema de desvios de recursos do BNDES. Ele também é alvo de um inquérito da Lava Jato no STF decorrente da delação premiada da Odebrecht. Paulinho nega ter cometido ilegalidades.

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