• Carregando...
 | Alan Santos/PR
| Foto: Alan Santos/PR

O presidente da República, que costuma ter sobre si muitas atenções, passou os últimos dias fora dos holofotes, com o país parado para assistir à prisão de Lula. Ninguém prestou atenção. E, no governo, fez-se questão de deixar os olhares desviados, pelo menos por uns dias.

Há uma semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha um decreto de prisão expedido. Foram dois dias até que ele se entregasse e chegasse ao destino final: a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Só se falou nisso no país. As televisões estavam ligadas e, hora a hora, os brasileiros se perguntavam: é agora?

Leia também: Fim do foro privilegiado será julgado pelo STF em maio

Enquanto isso, o Palácio do Planalto manteve um ar de indiferença. Evitou-se comentários. Não foram canceladas agendas.

Apesar das aparências, claro que Michel Temer (MDB) e os ministros de seu governo também estavam atentos aos acontecimentos. O presidente e alguns nomes de sua confiança são citados na Lava Jato ou já foram até denunciados. No ano que vem, após as eleições, o caso de muitos deles seguirá para juízes da primeira instância, como Sergio Moro. E o destino, pode ser o mesmo de Lula.

1) Viajou meio país para eventos

Na última semana, o presidente Michel Temer passou por três estados. Na sexta-feira (6), o país amanheceu com os olhos sobre Lula. O prazo dado pelo juiz Sergio Moro para ele se apresentar à Polícia Federal acabava 17h daquele dia. Mas ele acabou decidindo permanecer no Sindicato dos Metalúrgicos, para onde foi após determinada sua prisão, no dia anterior. Os advogados do ex-presidente negociavam as condições em que ele se entregaria.

Enquanto isso, Temer e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles estavam em Salvador para a posse das diretorias da Federação e do Centro das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB/CIEB) 2018-2022, num evento pelos 70 anos das entidades.

Leia também: Caso Alckmin abre precedente e petista também quer ser investigado pela Justiça Eleitoral

No sábado (7), todos seguiam atentos à televisão acompanhando o discurso que Lula fez em frente ao Sindicato do ABC. Temer, por sua vez, foi para Foz do Iguaçu (PR) participar de um painel do 3º Simpósio Nacional de Varejo e Shopping. Lula se entregou naquela noite. Mas não deixou de ser o centro das atenções.

Na segunda-feira (9), falava-se sobre o que o ex-presidente comeu, como estava se sentindo e as negociações para receber visitas. Demonstrando indiferença, Temer foi para o Rio de Janeiro participar da cerimônia de transmissão do cargo de presidente do BNDES. Em discurso, disse que o país passa por “um momento político difícil”, mas não citou nomes.

Em todas essas viagens, a segurança presidencial esteve atenta e procurou não fazer alarde da chegada de Temer.

2) Deu posse a amigos em ministérios estratégicos

Com o fim da janela partidária, na sexta (6), e do prazo limite para ministros que vão disputar as eleições deixarem seus cargos no sábado (7), houve uma movimentação nas Esplanada dos Ministérios.

Na terça (10), Temer empossou dez novos ministros. Tomaram posse: Eduardo Guardia (Fazenda), Rossieli Soares da Silva (Educação), Alberto Beltrame (Desenvolvimento Social), Marcos Jorge (Indústria, Comércio Exterior e Serviços), Vinicius Lummerts (Turismo), Antônio de Pádua de Deus (Integração Nacional), e Moreira Franco (Minas e Energia). Helton Yomura, que estava como interino no Trabalho, foi efetivado.

Em sua fala, fez um comentário indireto sobre Lula, mas, mais uma vez, não citou ninguém: “Enquanto as pessoas protestam, a caravana aqui do governo vai trabalhar”, disse.

Chama a atenção a transferência de Moreira Franco da Secretaria-Geral da Presidência da República para a pasta de Minas e Energia. A criação da secretaria tera alvo de questionamentos, inclusive da Procuradoria-Geral da República (PGR). Indo para o outro ministério, Franco mantém o foro privilegiado. Foi ele próprio quem costurou essa mudança no governo.

Amigo fiel de Temer, um dos homens de confiança do presidente, Moreira Franco foi denunciado em 2017 por organização criminosa pela PGR ao lado do ministro Eliseu Padilha e do próprio Temer.

Ainda nessa cerimônia, Temer se encontrou pela primeira vez com o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, após o polêmico episódio das mensagens postadas no Twitter na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula. O militar escreveu que “repudiava impunidade” e que o Exército estava “atento às suas missões institucionais”, no que foi entendido como uma ameaça de intervenção militar.

3) Reunião fora da agenda

Além das dezenas de encontros com políticos que acontecem todos os finais de semana no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência, onde Temer preferiu continuar morando após assumir a Presidência da República, um chamou a atenção em especial. O emedebista foi até a casa da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, no sábado (7).

Oficialmente, o assunto do encontro foi segurança pública e a intervenção federal no Rio de Janeiro. Um assunto de interesse de todos, com ações em andamento. Nada que justificasse um encontro às escondidas.

Mas serviu como mais uma oportunidade para que Temer tratasse da quebra do sigilo de suas contas bancárias, determinada pelo ministro do STF Luiz Roberto Barroso. Ele vem trabalhando para que seu nome não seja incluído no inquérito que apura suspeitas de repasses de propina da Odebrecht para campanhas eleitorais do MDB, em troca de favorecimento da empresa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]