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| Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

No dia 19 de março, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa mais uma de suas caravanas pelo país. Dessa vez, o itinerário inclui 14 municípios nos três estados da Região Sul. A programação começa em Bagé (RS) e depois passa por diversas cidades, como Porto Alegre, Florianópolis, Chapecó e Foz do Iguaçu, terminando no dia 28 de março, em Curitiba. Uma parada em especial, no dia 21 de março, chama a atenção: a pequena São Borja, com quase 63 mil habitantes, de acordo com o IBGE.

O município gaúcho se destaca por um dado um tanto mórbido. É lá que fica o túmulo do ex-presidente Getúlio Vargas e também de outras figuras importantes da política brasileira: Leonel Brizola e João Goulart. Na programação da caravana, está prevista, inclusive, uma “atividade pública” em frente ao mausoléu de Vargas.

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A visita ocorre no momento em que Lula parece estar, cada vez mais, buscando associar sua imagem à de Vargas. As declarações não são só do ex-presidente. Em artigo publicado no site do PT, por exemplo, a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, compara o que chama de “perseguição” sofrida por Lula à história de Vargas, Jango e Juscelino Kubitschek.

“Assim como ocorre atualmente com Lula e com Dilma, os ex-presidentes foram acusados impiedosamente de corrupção pelas forças conservadoras, mas ao final terminaram absolvidos pela história”, diz o texto, publicado em setembro do ano passado.

O posicionamento, entretanto, é novo se considerada a história do PT. Desde o seu surgimento, nos anos 1980, a legenda sempre se colocou em oposição ao trabalhismo e ao populismo, duas das heranças deixadas por Vargas. Até ascender ao poder no Palácio do Planalto.

“Reivindicar esse legado é uma coisa absolutamente nova. Parece muito mais uma associação de conveniência do que um posicionamento propriamente ideológico”, avalia Adriano Codato, professor e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná (UFPR) .

Distintivos políticos

De acordo com o professor, o único paralelo que pode ser traçado entre o lulismo e o getulismo é a vinculação de seus líderes à ideia de “pai dos pobres”, cuja principal bandeira é a defesa dos oprimidos. O posicionamento aparece, por exemplo, na cart- testamento de Vargas, divulgada após seu suicídio, em agosto de 1954.

A estratégia de associar-se ao ex-presidente gaúcho, além disso, mira outras três ideias-força que permeiam a imagem de Vargas no imaginário social brasileiro: o trabalhismo (por conta da CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho), o desenvolvimentismo e o nacionalismo.

“Qualquer político pode, segundo as suas conveniências, colocar na sua camisa esses três distintivos. Trata-se de evocar menos a figura histórica e mais as ideias associadas a ela”, diz o professor.

Na visão de Codato, isso não significa, no entanto, que a estratégia pode render frutos do ponto de vista eleitoral. “É um discurso para consumo interno, mais para a imprensa do que para a população”, afirma.

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