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Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante a convenção nacional do partido, no sábado (4): para isolar Ciro Gomes, partido até enterrou candidatura tida como competitiva em Pernambuco. | NELSON ALMEIDA/AFP
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante a convenção nacional do partido, no sábado (4): para isolar Ciro Gomes, partido até enterrou candidatura tida como competitiva em Pernambuco.| Foto: NELSON ALMEIDA/AFP

O PT “sequestrou” parte importante da esquerda brasileira em sua tentativa de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. Nessa articulação, o partido aceitou até enterrar uma candidatura tida como competitiva em Pernambuco e chantagear um aliado histórico, o PCdoB.

O principal objetivo desse “sequestro” foi isolar Ciro Gomes, tido pelos petistas como principal adversário dentro da esquerda. A avaliação dos petistas é que direita e esquerda vão se enfrentar num segundo turno – e, para chegar a ele, primeiro é preciso inviabilizar oponentes dentro de seu próprio espectro político, para só depois se preocupar com os direitistas.

No sábado (4), o partido lançou Lula como candidato à Presidência. Depois, com a provável rejeição de seu registro, deve substituí-lo pelo “plano B”, que deve ser o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, por ora indicado como vice.

No fim, Ciro conseguiu apenas o apoio do nanico Avante (ex-PTdoB). O pedetista – que no fim de semana chegou a ser sondado para participar da chapa petista – não disfarçou a mágoa.

“A cúpula do PT está numa viagem lisérgica. Com dor no coração, não espero mais nada do Partido dos Trabalhadores agora”, disse Ciro no sábado, ao descartar uma aliança. “O PT tem se comportado de um jeito estranho, para dizer o mínimo. Ao invés de apontar energia para o Brasil, só escolhe brigar. E escolheram logo a mim. O interesse do PT passa longe do interesse público. Parte da tragédia que o país está vivendo, devemos a esse comportamento estranho do partido”, atacou.

Acordo para neutralizar o PSB (e isolar Ciro)

A principal cartada do PT para isolar o pedetista foi fechar – na semana passada, a poucos dias da definição das chapas – um acordo com o PSB, mesmo que esse partido não faça parte oficialmente da aliança nacional encabeçada pelos petistas.

Pelo acordo, o PT desistiu de lançar a vereadora Marília Arraes candidata ao governo de Pernambuco, abrindo espaço para a reeleição do pessebista Paulo Câmara – um dos principais objetivos do PSB nestas eleições. Em troca, o PSB retirou a candidatura de Marcio Lacerda, ex-prefeito de Belo Horizonte, ao governo de Minas Gerais, favorecendo o petista Fernando Pimentel, que tenta a reeleição. O PSB tende a se aliar com o PT em 14 estados.

O mais importante dessa aliança informal, no entanto, foi a declaração de neutralidade do PSB nas eleições presidenciais. O que foi um gigantesco revés para Ciro Gomes, que tentava se aliar aos pessebistas para conseguir mais dinheiro do Fundo Eleitoral e tempo de tevê – cerca de 40 segundos – no horário eleitoral gratuito.

O acordo com o PT irritou a ala do PSB que defendia acordo com Ciro Gomes, caso dos diretórios de Minas Gerais, Distrito Federal e Ceará. Incomodou também a petista Marília Arraes, “sacrificada” em Pernambuco, e o pessebista Márcio Lacerda, “sacrificado” em Minas.

“Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, escreveu o mineiro. “Não tenho o direito de recuar e colocar a esperança do povo de Pernambuco como moeda de troca a preço de banana”, disse a pernambucana na ocasião.

Na convenção do PT de Pernambuco, na quinta (2), que manteve a candidatura de Marília por ampla maioria, o senador petista Humberto Costa, defensor do acordo com o PSB, foi recebido aos gritos de “golpista”. No mesmo dia, em Curitiba, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, defendeu a estratégia nacional sob protestos de integrantes de movimentos sociais e de petistas de Pernambuco.

Dias depois, no sábado, Marília foi ovacionada durante a convenção nacional do PT. De nada adiantou. Prevaleceu a ambição dos petistas no plano nacional.

Chantagem no PCdoB (para isolar Ciro mais ainda)

No fim de semana, após dois dias de negociação tensa, o PT também conseguiu impedir que o PCdoB se aliasse a Ciro. E deixou Manuela D’Ávila – que oficialmente foi lançada candidata a presidente pelo PCdoB na quarta-feira (1) – “na reserva”, podendo assumir o posto de vice caso o “plano B” Haddad tenha de substituir Lula na cabeça da chapa.

Na quarta, na mesma convenção em que foi confirmada candidata, Manuela destacou a busca por uma união da esquerda ainda no primeiro turno. Manuela declarou que continuaria trabalhando com afinco por essa parceria. Em sua fala, ela também enalteceu Lula: citou o ex-presidente cinco vezes e disse que o líder petista, definido por ela como maior líder popular que o país já teve, é vítima de um Estado de exceção.

O martelo só foi batido pouco antes da meia-noite de domingo (5), com o registro da ata do acordo. Ao longo do dia, o PCdoB avaliou três possibilidades: manter a candidatura de Manuela, se aliar ao PT ou mesmo a Ciro Gomes. Na mesma mensagem em que disse ao partido que Haddad era a melhor opção para a vice, o ex-presidente Lula pediu que o PT não desistisse do acordo com o PCdoB, com quem se aliou em todas as eleições presidenciais desde a redemocratização.

A partir daí, a pressão petista – com tons de chantagem – ficou mais forte, segundo dirigentes do PCdoB. O partido chegou a anunciar a manutenção de Manuela na disputa, com Adilson Araújo, também do partido, como seu vice. Mas, por volta das 22 horas, uma comitiva petista foi para a sede paulista do PCdoB em São Paulo, para a última tentativa de acordo, que finalmente saiu.

Pesou para a decisão dos comunistas, apesar do incômodo com o assédio petista, o fato de que as alianças regionais com o PT são importantes para que o partido consiga ultrapassar a chamada cláusula de barreira, dispositivo que limita a atuação parlamentar de siglas que não alcancem um porcentual mínimo de votos. O PT também ameaçou não formar bloco com o PCdoB no Congresso, o que restringiria parte dos direitos dos comunistas, como presidir e relatar comissões e até o tempo de discurso.

Até o PCO se aliou ao PT

Uma aliança que terá pouco efeito prático para o PT, mas que tem um significado simbólico, foi fechada com o radical PCO. Trata-se de um nanico da extrema esquerda que tradicionalmente lançava candidato a presidente e costumava criticar as concessões que o PT fez para chegar e se manter no poder. Desta vez, no entanto, vai de PT.

“Não vamos atrelar a nossa defesa da candidatura do Lula a nenhuma condição. Não vamos exigir que ele defenda tal e qual posições, ou escolha tal e qual vice”, disse a porta-voz do PCO Natália Pimenta, durante convenção nacional do PT. Natália afirmou que a aliança foi decidida porque o centro da eleição será a defesa da liberdade do ex-presidente.

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