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Pedidos de voto ou apologia aos candidatos aparecem de formas diferentes, mas podem provocar multas entre R$ 5 e R$ 30 mil | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Pedidos de voto ou apologia aos candidatos aparecem de formas diferentes, mas podem provocar multas entre R$ 5 e R$ 30 mil| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Páginas não identificadas no Facebook podem estar funcionando como“propaganda antecipada”, o que fere a legislação eleitoral, alertam analistas. Apesar de as páginas anônimas em nome de candidatos terem, muitas vezes, maior engajamento do que as oficiais de candidatos à presidência, elas podem gerar multas de R$ 5 mil a R$ 30 mil.

Esses links funcionam como “satélites” de perfis oficiais. Nos últimos três meses, atingiram 77,8 milhões de interações na rede social, mais que as 53,2 milhões de interações dos perfis oficiais juntos. Além de informações, há venda de produtos relacionados aos políticos e até vaquinha - supostamente em benefício dos candidatos.

O engajamento se refere ao envolvimento de uma pessoa com uma postagem. Quanto maior ele é, maior a relevância. Quem mais se aproveita dessa “massa anônima” é o candidato Jair Bolsonaro (PSL), que tem o maior número de páginas satélite orbitando ao seu redor e, com isso, o maior volume de engajamento no período. Sua “bolha” de apoiadores é a maior de todos os concorrentes.

Esse levantamento, inédito, foi realizado pelo Estadão Dados com a ferramenta CrowdTangle. Foram consideradas somente páginas que têm mais de 10 mil curtidas e que usam o nome do candidato no título. Não foram incluídas as que tratam de outros temas que não seja apenas o candidato - o que ampliaria ainda mais este universo. Procurado, o Facebook não se manifestou.

Na semana passada, a rede social derrubou 196 páginas ligadas a um grupo de perfis falsos que fazia ações coordenadas, mas a metodologia aplicada pelo Estado não detectou influência da medida nas redes de apoiadores dos candidatos.

Das 145 páginas identificadas e procuradas pela reportagem, só oito administradores responderam e apenas três aceitaram se identificar. Todos negaram ligação com os políticos e disseram nunca ter recebido dinheiro deles ou das campanhas.

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Pedidos de voto ou apologia aos candidatos aparecem de formas diferentes. “Quem aí vai votar 18 em outubro?”, diz uma postagem sobre Marina Silva, presidenciável da Rede. “Quem ainda não abriu o voto e vai votar em Bolsonaro está na hora de fazê-lo”, diz outra. “Veja e compartilhe quem votar no Lula”, aponta outra postagem, ou ainda “40 motivos para votar em Ciro Gomes”.

Para o especialista em direito eleitoral e professor do Mackenzie Alberto Rollo, as páginas devem ser excluídas caso façam qualquer tipo de campanha que demonstre intenção de pedir votos. “Estamos em um período pré-campanha, em que não se pode pedir voto. Qualquer página anônima que pedir voto é ilegal e deve ser tirada do ar.”

Páginas a favor de candidatos costumam ter mais engajamento que perfis oficiais Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A punição, nesses casos, lembra o professor, é para o dono da página, e não para o candidato, a não ser que seja comprovado algum tipo de vínculo.

O professor de direito da FGV São Paulo Diogo Rais disse que, embora a interpretação sobre a existência de irregularidades possa variar de acordo com o juiz, uma página anônima em uma rede social deve ser tratada de forma diferente da de um cidadão, que tem direito a liberdade de expressão. “Quando uma página se manifesta, ela se refere a um ideal, um grupo. Sai dessa esfera de unidade do cidadão com direito à manifestação. E quando você despersonaliza, pode haver a irregularidade.”

Partidos

Em nota, a assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou que administra apenas a página oficial do petista, e que uma das páginas citadas, “A verdade de Lula”, é de sua defesa jurídica. “Não existe apoio ou relação com as outras citadas. Há páginas e pessoas que vendem produtos com a imagem do ex-presidente tanto contra quanto a favor e não temos relação. Nem o ex-presidente recebe nada por isso”, diz o comunicado, que também negou relação com vaquinhas criadas em nome do ex-presidente.

A assessoria de Marina afirmou que ela não tem ligação com as páginas nem recebe apoio financeiro. “É importante que a militância atue de forma transparente, respeitando as políticas de uso da plataforma e as regras eleitorais.” Procurados, Ciro Gomes e Bolsonaro não se manifestaram.

‘Tiro no escuro’

O coordenador do MediaLab ESPM, Luiz Peres Neto, disse que a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, e as novas regras eleitorais deixam o cenário sem precedentes. “Quem quiser fazer avaliação de impacto das redes sociais nas eleições estará dando um tiro no escuro. A TV terá menos força pela campanha mais curta, mas a internet não atinge todo o território. (Geraldo) Alckmin (PSDB) fará a campanha clássica, mas (Jair) Bolsonaro (PSL) tem um desafio gigantesco em sair de sua bolha.”

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Alckmin não tem nenhuma página satélite com pelo menos 10 mil curtidas. Lula possui 40 páginas de apoiadores que, juntas, dobraram o engajamento na primeira semana de abril, quando o petista foi preso. “Bora digitar #EstouComLula”, diz a postagem líder daquela semana.

Há ainda páginas de humor, como “Loucas pelo Lula” e “Lula fazendo Coisas” sem teor político. O perfil oficial do ex-presidente petista tem 27 milhões de interações em três meses, ante 14 milhões de Bolsonaro.

Quem ganha cada vez mais “satélites” é Ciro Gomes (PDT). “Ciro Sincero”, “Ciro Gomes Zueiro” e “Ciro Atômico” formam um “exército” com outras 15 páginas que chega a rivalizar com o PT. Marina Silva (Rede) tem apenas três e Alvaro Dias (Podemos), uma.

Adeptos de Bolsonaro quadruplicam relevância na rede

O maior beneficiado do grupo de páginas anônimas de apoio aos presidenciáveis é o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que tem mais páginas ao redor de seu nome, boa parte delas em tom humorístico, como “Bolsonaro Opressor 2.0”, ou em tom de ataque à esquerda. A reportagem identificou 83 páginas com mais de 10 ml curtidas no Facebook que falam sobre o político, seja com divulgação de notícias, piadas ou vídeos editados.

Ao todo, elas somaram 52,63 milhões de interações (reações, comentários e compartilhamentos) nos últimos três meses. Os números superam os da página oficial do militar no Facebook, que registrou 14,1 milhões de interações no período.

Algumas páginas fazem venda de produtos, como a “Vim do futuro pra dizer que o Bolsonaro virou presidente”, que tem 173 mil curtidas. Ela anuncia link para um site que vende canecas e camisetas com a frase “Melhor Jair se Acostumando”. O Estadão Dados identificou outras três páginas com anúncios do tipo.

O proprietário é da área da tecnologia da informação que mora em Fortaleza (CE) e pediu para não ser identificado. Disse que criou a página para ganhar dinheiro e negou ligação com o político. Afirmou ainda que “simpatiza” com o candidato do PSL. “Não está sendo acusado na Lava Jato, é ficha limpa e adotou novo viés liberal.”

Nos perfis há também divulgação de sites de informações falsas, como a de que o filho de Lula teria “ameaçado acabar com o Brasil” se o pai fosse preso. Dono da página “Bolsonaro Opressor 2018”, o vidraceiro Fernando Silva, de 22 anos, disse que quer incentivar mais pessoas a votar no político. Afirmou ainda que já gastou dinheiro para impulsionar seus vídeos na rede.

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