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Lula e dom Angélico Bernardino, em ato no dia da prisão do ex-presidente. | Paulo Pinto/Fotos Públicas
Lula e dom Angélico Bernardino, em ato no dia da prisão do ex-presidente.| Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

“CNBB: antro de comunistas!” A mensagem foi postada no Twitter tão logo o perfil da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) compartilhou uma entrevista com quatro de seus bispos.

Outro internauta reagiu com mais diplomacia. “A CNBB deve explicações aos católicos [por] apoiar um evento de resistência contra uma ordem judicial, protegendo um condenado por corrupção.”

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A participação de um dos seus no ato ecumênico que antecedeu a prisão de Lula, no sábado (7), propulsionou uma torrente de críticas à entidade que reúne o bispado católico verde-amarelo.

É com a voltagem política de 2018 em pauta que a entidade iniciou nesta quarta-feira (11), com mais de 400 bispos, sua 56ª Assembleia-Geral, em Aparecida do Norte (SP).

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Do encontro de dez dias sairá uma “palavra que possa ser orientadora, para os cristãos, sobre o ano eleitoral”, segundo dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG). A CNBB deve, afinal, responder a demandas reais, afirmou. “Nossos olhos estão voltados para o país, pois a Igreja não está na lua, não está na estratosfera.”

Mas esteve em São Bernardo do Campo, representada por dom Angélico Bernardino. Bispo emérito de Blumenau (SC), ele celebrou, sobre um carro de som superpovoado por líderes de esquerda, uma missa em memória de Marisa Letícia (1950-2017), esposa do “amigo e companheiro” Lula, preso horas depois.

Sua presença no ato lulista inflamou as redes sociais. Sobrou para a CNBB. “Só quero saber quem será o sacerdote ‘católico’ que celebrará”, questionou Bernardo Kuster, jornalista e ativista católico que mantém em sua capa do Facebook um retrato de freiras com fuzis.

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Só neste ano, a cúpula da Igreja no Brasil já havia entrado em rota de colisão com militantes direitistas em ao menos duas ocasiões, ambas por conta da católica Campanha da Fraternidade.

Ao apresentá-la, em fevereiro, o presidente da CNBB, cardeal Sérgio da Rocha, disse que a entidade rejeitará “candidatos que promovam ainda mais a violência”, o que foi assimilado como uma indireta para o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

O braço do Vaticano no Brasil também foi acusado de aplicar recursos de seu Fundo Nacional de Solidariedade em “ONGs abortistas”, hipótese que tachou de “má fé e desinformação”. A participação de clérigos no Fórum Social Mundial, “a Disney da esquerda”, também entrou na berlinda.

Vice-presidente da CNBB, dom Murilo Krieger ri quando a reportagem o pergunta sobre a ideologia canhota atribuída à entidade. “Acho curiosíssimo. Fico, assim, até muito surpreso de ser identificado assim.” Ele destaca as diversas campanhas contra o aborto promovidas pela Igreja Católica.

O que há, isso sim, são bispos com “simpatias” diferentes (os arcebispos do Rio, dom Orani Tempesta, e de São Paulo, dom Odilo Scherer, são tidos como parte da ala mais conservadora).

“Há um pensamento de Santo Agostinho que seguimos, e o pessoal não leva em conta”, diz o vice da CNBB. “Ele diz que nas coisas essenciais deve haver unidade. Nas coisas acidentais, liberdade. E em tudo, caridade. As pessoas gostariam de um bloco de pensamento. Mas se todos os bispos pensassem igual, não haveria necessidade de uma Assembleia-Geral, não é mesmo?”

O tom de dom Geraldo é mais enérgico. “O momento em que nós vivemos é muito complexo, difícil. E talvez uma das características é uma radicalização que vai se consolidando e começa a se extrapolar com muitas manifestações de intolerância que vi gerarem violência, tanto a física quanto a verbal. Nesse contexto, quem abre a boca pra falar pode saber que o que está dizendo vai se prestar a muitas interpretações.”

Dom Murilo com a palavra: “Com essa polarização, esse ódio, qualquer coisa que se falar sempre vai ser interpretada. Se você quiser evitar isso, acaba tendo que ficar quieto. E a omissão é o maior dos pecados”.

Operação mira bispo de Formosa (GO)

Já o pecado da avareza se voltou contra a Igreja quando, em março, o bispo de Formosa (GO) e outros membros de sua diocese foram presos na Operação Caifás. Dom José Ronaldo é suspeito de comandar o desvio de ao menos R$ 1,5 milhão de dízimos e doações nesta que é a região mais pobre de Goiás. A Bíblia aponta Caifás como o sumo sacerdote judeu que condenou Jesus Cristo à morte.

Segundo dom Murilo, não cabe à CNBB se manifestar sobre o tema, já que o papa Francisco nomeou um interventor para administrar a diocese goiana.

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