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Mauro Pereira: trabalho em Furnas não o impede de buscar recursos para municípios da Serra Gaúcha, sua base eleitoral. | Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Mauro Pereira: trabalho em Furnas não o impede de buscar recursos para municípios da Serra Gaúcha, sua base eleitoral.| Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Com a volta dos titulares a seus mandatos na Câmara dos Deputados, no início de abril, os suplentes saíram de cena. Mas não Mauro Pereira (MDB-RS), um ardoroso defensor de Michel Temer e também de Eduardo Cunha quando o ex-presidente da Câmara ainda estava no Congresso. Ao perder a cadeira de deputado para o titular, o suplente Mauro Pereira foi brindado com o cargo de assessor parlamentar de Furnas, uma subsidiária da Eletrobras e vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Candidato a uma vaga na Câmara, Pereira assinou um contrato de dois meses com Furnas. Mas aproveita a permanência em Brasília, nesse cargo de lobista, para buscar liberação de recursos nos ministérios para sua base eleitoral. 

Mesmo no novo cargo, o deputado concede entrevistas a rádios do interior de seu estado – ele é da Serra Gaúcha – listando obras e recursos a serem destinados à região. A uma emissora de Farroupilha (RS) disse que está assumindo a assessoria de Furnas, mas que continua trabalhando com prefeitos e vereadores das cidades. Ao todo, esses projetos envolvem obras de R$ 16 milhões, como pavimentação e hospitais. 

Mauro Pereira circula pela Câmara como deputado, não como lobista

Mauro Pereira continua a circular pela Câmara com o boton de deputado. É uma prerrogativa que todo suplente e mesmo quem já foi deputado tem. Todo lobista, de empresa privada ou pública, tem um crachá específico, com a identificação de "autorizado". Mas ele optou pelo broche, que dá acesso a todas dependências da Casa. 

"Vou usar a [identificação] de deputado. Não tem necessidade do crachá. Com o boton, posso entrar em qualquer lugar. É uma facilidade. Tem trânsito até no Palácio do Planalto. Chega e entra direto", disse Mauro Pereira à Gazeta do Povo. 

Suplente diz não saber o salário que vai ganhar em Furnas. E Furnas não informa quanto vai pagar

O deputado diz não saber quanto vai receber de salário de Furnas. Foi o que disse. "Nem sei certo quanto vai ser o salário.  Só vou saber quando receber a primeira remuneração". 

Procurada, Furnas se recusou a informar o salário de seu novo assessor e afirmou apenas que o valor segue a política remuneratória da empresa. Houve questionamento também sobre as razões da contratação de um deputado suplente aliado do governo e que não atua na área de energia. 

"A indicação de Mauro Pereira como assessor externo está amparada no Estatuto e nas normas internas da Companhia, em consonância com a sua Política de Compliance. Cabe esclarecer, ainda, que a remuneração está de acordo com os valores definidos na Política de Cargos e Salários da companhia", informou a estatal por intermédio de sua assessoria de imprensa.

Mauro Pereira nega que sua indicação tenha sido política

Mauro Pereira diz que sua indicação não foi política e que foi procurado pela empresa por sua performance como parlamentar. E cita número de discursos e frequência nos três anos e três meses que esteve à frente do mandato. "Trabalhei durante todos os recessos. Fui 100% nas comissões. Fiz da tribuna 1.166 pronunciamentos. Relatei mais de 200 projetos. Ocupei a presidência da Mesa [sessões] mais de 100 vezes" - afirmou. 

A seu favor, ele diz ainda que foi elogiado e bem situado num site que estabelece ranking dos políticos. "Não tenho dúvida que minha escolha [para Furnas] saiu dali". 

Para demonstrar que tem conhecimento da área de energia, o deputado conta que, em 2015, foi autor do pedido de uma audiência pública que chamou autoridades do sistema elétrico e discutiram o reajuste exagerado da energia no governo Dilma Rousseff. 

Sobre a atuação paralela de liberar recursos para sua base eleitoral, ainda que no novo cargo, Pereira explicou como funciona. “Estou em Brasília, recebendo salário, e aí me liga um prefeito e diz: ‘Mauro, preciso que ligue para tal lugar onde está aquele processo que você encaminhou. Aqueles recursos não estão saindo’. Como era o Mauro Pereira o titular do mandato e autor dessas demandas,  não vejo problema algum. O que não pode é ter preguiça. É uma palavra que não tem no meu dicionário.”

Mauro Pereira apoiou Dilma, mas votou no impeachment. Apoiou Cunha, mas votou pela cassação

Um opositor ferrenho do PT, legenda contra qual faz discursos duros, Pereira disse que apoiou o governo de Dilma Rousseff. "Disseram até que eu tinha virado um petista", disse o deputado, mas que votou a favor do impeachment da ex-presidente. "Claro, votei sem medo de errar. Houve uma convulsão nacional". E complementou: "Votei com o governo Dilma. Sou um brasileiro, não tenho raiva de ninguém. Reconheço o que a Dima fez de positivo. Agora, faço oposição política ao PT quando eles nos ofendem. Todo mundo tem o direito de ser feliz".

Mauro Pereira também aliou-se a Eduardo Cunha. Mas, quando o ex-presidente da Câmara foi à bancarrota,  o abandonou e votou a favor da cassação de seu mandato. “Acreditava nele até que apareceram as provas do Ministério Público, da Polícia Federal. Aí não teve jeito”. 

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