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| Foto: APU GOMES/AFP

O tudo ou nada do PT para manter a candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto ameaça implodir o partido nas eleições de outubro. Dois especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo usaram uma mesma expressão – “suicídio político” – para definir a estratégia da sigla de prosseguir com esse plano mesmo que Lula esteja preso e diante de um provável indeferimento de sua candidatura pela Justiça Eleitoral.

“É um suicídio político que eu não sei se o PT vai conseguir evitar”, diz Leonardo Barreto, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB). “A insistência na candidatura do Lula pode empolgar a militância, mas na prática é um suicídio do partido”, opina o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, pesquisador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o habeas corpus a Lula, o juiz Sergio Moro decretou nesta quinta-feira (5) a prisão do ex-presidente. Mas o encarceramento, que tornaria quase inviável a ele fazer campanha, não é o único problema do petista.

Independentemente de estar ou não preso, Lula provavelmente terá seu registro de candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso porque a Lei da Ficha Limpa proíbe que condenados em segunda instância judicial – caso do petista – possam participar de eleições, embora não haja vedação para que pessoas presas registrem suas candidaturas.

Candidatura de Lula: dificuldade de alianças, discurso defensivo, peso para outros petistas

Leonardo Barreto afirma que a insistência do PT na candidatura de Lula vai manter uma indefinição que é ruim para o partido. Sem saber quem de fato será o nome do partido na urna, já que o ex-presidente pode ter de ser substituído durante a campanha, os petistas terão dificuldades em fechar alianças nos estados com outras legendas. Isso pode prejudicar candidatos petistas a governador, senador e deputado. Barreto acredita que a indefinição irá prejudicar a organização do PT para as eleições – o que tende a prejudicar seu desempenho eleitoral.

Além disso, se Lula for candidato, o discurso eleitoral do PT tende a ser mais fortemente focado na defesa do ex-presidente no campo judicial e em críticas à Lava Jato e ao Judiciário. Barreto aposta que, por causa disso, terão pouco espaço os temas que realmente interessam à população: emprego, desenvolvimento econômico e social, etc.

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Geraldo Tadeu Monteiro diz que o discurso do PT de que não existe plano B para a eleição presidencial na prática põe o partido sob o risco de um encolhimento eleitoral. Ele afirma que todos os candidatos da sigla (aos governos estaduais, ao Senado, a deputado) terão de “carregar o peso” de um Lula que pode estar encarcerado durante a campanha eleitoral.

“Isso é inédito. Ninguém sabe o que vai acontecer”, afirma Monteiro. Ele diz que existe a possibilidade de que Lula comece a cair nas intenções de voto a partir do momento em que os eleitores vejam ele preso. Segundo o cientista político, grande parte da população pode não compreender todas as discussões jurídicas que envolvem a condenação de Lula. Mas sabem o que é uma prisão. E podem se decepcionar com o ex-presidente.

E o que acontece com os demais candidatos de esquerda?

Monteiro acredita ainda que, para os demais partidos de esquerda que vão lançar candidato a presidente, a manutenção de Lula como concorrente também é uma ameaça. “A esquerda não tem ninguém para ocupar o espaço do Lula”, diz ele. A presença do petista na campanha, ainda que ele acabe não chegando ao dia da eleição como candidato, pode atrapalhar que outro concorrente de esquerda tente ocupar um pouco desse espaço. Ou seja, dificultaria que ele cresça nas pesquisas a tempo de se viabilizar eleitoralmente.

Barreto, contudo, tem uma visão diferente sobre as chances de outros candidatos de esquerda na eleição presidencial, mesmo com a manutenção da candidatura de Lula. O atual cenário, de uma alta probabilidade de que Lula não chegará ao dia da votação como candidato, vai estimular o lançamento de nomes de outras siglas desse campo. E ele acredita que outro nome da esquerda terá sim viabilidade eleitoral.

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