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Alckmin  no centro das atrações: ele também quer ser o candidato do centro. | Alexandre Carvalho/A2img
Alckmin no centro das atrações: ele também quer ser o candidato do centro.| Foto: Alexandre Carvalho/A2img

Ao aceitar assumir a presidência nacional do PSDB para evitar um racha ainda maior no partido, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também traçou o caminho para concorrer à Presidência da República em 2018. A candidatura de Alckmin tem tudo para levantar voo, mas certamente com muita turbulência. Em meio a uma guerra interna, o PSDB vive uma das piores crises de sua história. Resolver esse impasse será o primeiro desafio de Alckmin no comando do partido, antes mesmo de sonhar com uma candidatura competitiva e sólida ao Palácio do Planalto.

Aliados do governador de São Paulo garantem que ele tem a seu favor a calma e a tranquilidade necessárias para exercer o papel de conciliador. Mas, para lidar com as duas correntes que dominam o PSDB atualmente, Alckmin terá que abandonar o perfil de low profile e deixar para trás qualquer impressão de que seria um político insosso, que costuma ficar em cima do muro, evitando embates diretos.

O partido se dividiu ao longo de 2017. E precisa encontrar uma saída com urgência se quiser viabilizar a candidatura de Alckmin. Um grupo defendeu a permanência da sigla na base do presidente Michel Temer (PMDB) e outro defendeu o desembarque. No fim, o partido deixou o governo. Mas as fissuras internas continuam.

Nem frio, nem quente. Alckmin é o “Picolé de Chuchu”

Não bastasse a crise interna, o governador também precisa conquistar os eleitores e mostrar que tem capacidade para comandar o país. Não é uma tarefa fácil. Na campanha presidencial de 2006, ele saiu com a imagem arranhada e até ganhou o apelido de “picolé de chuchu” por ter adotado uma postura ao estilo “nem frio e nem quente”.

Alckmin chegou a fazer piada com o apelido ao dizer que o Brasil “cresceria pra chuchu e teria emprego pra chuchu”. Não adiantou. O resultado nas urnas foi desastroso. O tucano fez menos votos no segundo turno do que no primeiro. E Lula (PT), seu adversário na ocasião, se reelegeu com tranquilidade.

Mas políticos próximos ao governador apostam que o cenário será diferente em 2018. Com a polarização entre esquerda e direita, nas figuras do ex-presidente Lula e do deputado federal Jair Bolsonaro, Alckmin pode representar um equilíbrio. Ele seria o candidato de centro, de discurso moderado, algo tão sonhado, por exemplo, pelo presidente Michel Temer e pelo prefeito de São Paulo, João Dória.

ANÁLISE: PSDB no divã: afinal, os tucanos são de direita, de esquerda ou de centro?

“Cada vez mais se consolida a tendência de que os partidos de centro tenham apenas uma candidatura. A bola da vez é o governador Geraldo Alckmin. Hoje ele tem a preferência no sentido de ter a oportunidade de estruturar um grupo político de centro”, afirmou o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD).

O risco de o tucano ser abatido em pleno voo: as denúncias de corrupção

O governador paulista ainda tem outro obstáculo para recuperar o PSDB e fazer sua candidatura Palácio do Planalto decolar (na última pesquisa Datafolha, ele apareceu com índices de intenção de voto variando de 7% a 11%, dependendo do cenário). São os escândalos de corrupção.

O próprio Alckmin é alvo de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Citado nas delações premiadas da Odebrecht, ele foi acusado de receber R$ 10,3 milhões, via caixa 2, para as duas campanhas ao governo de São Paulo, em 2010 e 2014. O apelido nas planilhas de propina da construtora faz menção ao estilo pacato de Alckmin: “Santo”.

Adversários do tucano ainda apostam que investigações do Ministério Público de São Paulo podem atrapalhar as pretensões de Alckmin, como irregularidades na merenda escolar e nas obras da linha 2 do Metrô paulista. “Esses escândalos apenas começaram a aflorar”, disse o deputado Major Olímpio (SD-SP). Porém, aliados ou adversários concordam: nenhum caso se assemelha ao do senador Aécio Neves, filmado enquanto pedia R$ 2 milhões para executivos da JBS em 2017.

Os dois desafios de Alckmin: Aécio e o plano tucano para o pais

Para se descolar da desgastada imagem do PSDB, mas principalmente do senador Aécio Neves, que continua dando ordens nos bastidores da legenda, Alckmin tem dito que os eleitores, em 2018, “votarão pelo perfil dos políticos e não pelos partidos”.

O cientista político Bolívar Lamounier, ligado ao PSDB, aponta os dois principais desafios para Alckmin em 2018: tomar uma decisão definitiva sobre Aécio Neves e rebater as críticas de que os tucanos não têm uma agenda para o país.

“Alckmin não pode ignorar o Aécio como um fator de corrosão dentro do partido. Ou defende ou tira o senador”, afirma Lamounier, garantindo que o PSDB tem boas propostas para o futuro do Brasil: “O PT roubou a agenda do PSDB e o PSDB nem deu queixa na delegacia”.

Há grande expectativa no ninho tucano de que Alckmin é a pessoa certa para recolocar o partido nos trilhos. “O nome de Alckmin é consenso no partido para concorrer à Presidência”, afirma Ricardo Tripoli (PSDB-SP), líder da legenda na Câmara.

Mas há quem não pense de forma positiva. O deputado Major Olímpio é um adversário de longa data de Alckmin. À Gazeta do Povo, o parlamentar teceu duras críticas ao governador de seu estado. “Alckmin só tem cara de bom moço, mas é dissimulado. Promete e não faz. E ainda tem ódio dos servidores”, afirma Major Olímpio.

Articulações para montar uma coligação forte estão a todo vapor

Apesar de evitar falar sobre a eleição presidencial, Alckmin definitivamente já se porta como candidato. Nos bastidores, as articulações em busca de uma coligação forte já estão a todo vapor.

O governador ainda não sabe o que fazer com o PMDB. É o partido que detém a maior bancada no Congresso e terá o maior tempo de propaganda no rádio e na televisão em 2018 – o que somaria, e muito, à campanha de Alckmin. Porém, o tucano teme atrelar sua imagem à de Temer, o presidente com a maior rejeição da história brasileira. A questão só deve ser definida no primeiro trimestre do ano que vem. Por enquanto, Alckmin trabalha para cooptar legendas como DEM e PSB.

Em seu quarto mandato à frente do governo de São Paulo, Geraldo Alckmin terá que deixar o posto em abril para disputar a Presidência pela segunda vez. Estará com 65 anos. Em entrevista recente ao programa da jornalista Mariana Godoy, da RedeTV!, Alckmin defendeu seu perfil conciliador e tranquilo, mesmo consciente de que a campanha presidencial será dura: “Essa política do radicalismo, do ódio não leva a nada. O Brasil não precisa de gladiadores, precisa de construtores”.

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