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Pela primeira vez, Fernando Haddad não falou com a imprensa na saída da Polícia Federal, em Curitiba, onde Lula está preso: coletiva ocorreu em um hotel. | Heuler Andrey/AFP
Pela primeira vez, Fernando Haddad não falou com a imprensa na saída da Polícia Federal, em Curitiba, onde Lula está preso: coletiva ocorreu em um hotel.| Foto: Heuler Andrey/AFP

Ainda digerindo o resultado do primeiro turno da eleição e com menos de 20 dias para fazer campanha, o PT se apressou em traçar uma nova estratégia para o segundo turno. O partido de Fernando Haddad vai apostar em duas frentes principais: menos Lula e mais centro.

Com o aval do ex-presidente, ficou definido que as visitas semanais a ele em Curitiba, onde está preso, serão reduzidas. E também que o PT poderá revisar pontos do programa de governo para tentar acomodar novos apoios. O objetivo é se distanciar da ideia de que é Lula quem vai governar caso o PT volte ao poder e de propostas consideradas radicais, como a convocação de uma Assembleia Constituinte.

A orientação agora é usar todas as armas, mas apontadas para o lado certo. O mais urgente é fechar novas alianças partidárias, sobretudo aquelas que agreguem ao discurso do eleitor de centro. E isso, Lula quer para o fim desta semana.

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As conversas para a formação de alianças para o segundo turno ocorreram ao longo de todo o primeiro turno, tão logo os candidatados foram dando sinais de seus desempenhos.

No domingo (7), ao falar com jornalistas após a confirmação de que iria ao segundo turno, Haddad já deu indicações de alguns apoios que está buscando: PSOL, PDT e Rede. Disse que recebeu ligações dos adversários derrotados desses partidos, respectivamente, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Marina Silva.

Porém, apenas esse núcleo não bastará para trazer o eleitorado que Haddad precisa para dar a volta por cima – o resultado final mostra o petista distante quase 17 pontos percentuais de Jair Bolsonaro no primeiro turno.

Até o PSDB é bem vindo

Mas Lula mandou ir mais longe. É preciso conquistar uma parte do eleitor de centro-direita. Aquele que, num segundo turno, sem opções, tenderia a votar em Bolsonaro, e seus jargões de direita, para evitar a esquerda.

“Uma equipe do Haddad já procurou o PSDB há duas semanas. Também já esteve com o Centrão. Não é o cenário ideal? É arriscado? Sim. Mas ou vamos para o tudo ou nada e formamos coalização, como Lula fez desde 2002 para se eleger e eleger Dilma, ou ficamos pelo caminho”, disse um nome da liderança do PT que se elegeu no Nordeste e tomará uma cadeira a partir de agora na campanha de Haddad.

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A Gazeta do Povo conversou com líderes do partido que estiveram ao lado de Haddad durante a apuração dos votos no domingo e participaram dos encontros dessa segunda (8).

Uma outra fonte petista lembrou da famosa foto de Haddad, Lula e Paulo Maluf na eleição à Prefeitura de São Paulo, em 2012, que formalizou o apoio do PP e agregou, com isso, mais um minuto e meio de tempo de televisão ao petista na época. Era primeiro turno da campanha municipal que Haddad venceu. No segundo turno, os programas são divididos de forma igualitária. A lembrança, porém, vem para apontar que o PT pensa, justamente, em marcar esse segundo turno com algo parecido.

“Quem sabe buscar um acordo com uma figura emblemática na direita. O FHC, por exemplo, que já pregou por aí contra a ditadura, contra o fascismo. Vamos reunir todos que querem lutar pela democracia”, afirmou a liderança partidária que acompanhava a reunião em que Haddad estava relatando as orientações de Lula que ouviu na manhã desta segunda.

Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não parece disposto a endossar o projeto petista. “As redes divulgam que apoiarei Haddad. Mentira: nem o PT nem Bolsonaro explicitaram compromisso com o que creio. Por que haveria de me pronunciar sobre candidaturas que ou são contra ou não se definem sobre temas que prezo para o país e o povo?”, escreveu o tucano nas redes sociais.

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Menos Lula

O discurso também será importante. Uma das coisas que o PT identificou é que, embora Lula seja o maior puxador de votos do partido, a transferência de votos possível já foi feita. E está na hora de minimizar esse discurso, abrandar essa aparência, para diluir o antipetismo. “O PT precisa desconstruir essa imagem de que o Haddad vai governar da cadeia, porque será Lula que vai governar. Isso é absurdo”, afirmou um dos nomes fortes da sigla.

Ainda segundo essa fonte, foi por esse motivo, já no início dessa estratégia, que o ex-prefeito de São Paulo ao deixar a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, nesta segunda, não falou com a imprensa no local, mas em um hotel da cidade. “É um afastamento tático. Lula tem influência sobre a condução da campanha, mas precisamos tentar incluir a parcela social perdida e Lula é uma figura muito emblemática no antipetismo”, completou.

Reuniões

O ex-presidente manda os recados da prisão, mas o partido é enorme, são inúmeras alas em campanhas, milhares de pessoas para orquestrar e afinar o tom do discurso. O PT passou a madrugada pós-eleição discutindo estratégias, procurando aliados e aguardando o dia seguinte para saber a orientação do líder partidário preso em Curitiba.

Após a coletiva de imprensa, Haddad voltou para São Paulo para uma reunião no diretório do partido. Nesta terça-feira (9), haverá uma outra reunião, dessa vez da Executiva Nacional da legenda, também em São Paulo.

A campanha de Haddad também incorporou o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner, para comandar as articulações políticas. Wagner tem bom trânsito entre políticos, empresários e integrantes das Forças Armadas – ele foi ministro da Defesa no governo Dilma Rousseff – e vai integrar a equipe de Haddad nas três semanas do segundo turno.

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