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| Foto: Miguel Schincariol/AFP

Embora a direção nacional do PT venha reafirmando que Lula será o candidato do partido ao Planalto, dentro da legenda há uma certeza que poucos admitem em público, mas que ninguém esconde em conversas reservadas: preso ou solto, o ex-presidente não tem condições jurídicas de ser candidato neste ano; e é preciso ter um plano B.

O grupo que manda hoje no PT – chamado de Construindo um Novo Brasil (CNB, o antigo Campo Majoritário) – assegura que não há plano B. “Ele [Lula] é nosso candidato sob qualquer circunstância”, disse nesta segunda-feira (9) a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann.

Apesar disso, nos bastidores o rumo já está traçado: é preciso arrumar um candidato alternativo. Por enquanto, contudo, interessa à sigla manter o discurso da candidatura de Lula. Esse mantra será repetido à exaustão por lideranças petistas até 15 de agosto, data-limite para registro de candidatos a presidente na Justiça Eleitoral.

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A situação de Lula é complicada porque, se continuar preso, Lula não conseguirá fazer campanha. E, mesmo que venha a ser solto, provavelmente irá ter sua candidatura barrada pela Justiça Eleitoral. A Lei da Ficha Limpa proíbe que condenados em segunda instância judicial (caso de Lula) sejam candidatos.

O PT chegou a cogitar bancar Lula como candidato com base em liminares de tribunais superiores – como fizeram alguns prefeitos que, mesmo impedidos pela Lei da Ficha Limpa, foram eleitos e sustentam seus governos com base em medidas cautelares. Porém, a avaliação interna foi de que esse instrumento, frágil juridicamente, seria inviável na disputa pela Presidência.

Plano do PT é não fazer o anúncio da substituição de Lula antes de agosto

A estratégia do PT é não deixar a intenção de trocar de candidato às claras antes de agosto. Para o partido, isso vai facilitar que o candidato alternativo receba a “herança” de Lula – ou seja, seus votos. Pesquisas eleitorais mostram que o ex-presidente tem votos suficientes para chegar ao segundo turno. E a intenção é que o petista consiga transferir parte expressiva desses votos para o plano B do PT.

Mesmo sabendo que alguns votos podem migrar para outros candidatos de esquerda, o PT acredita que Lula tem força suficiente para levar ao segundo turno um candidato do partido apoiado por ele – os petistas apostam no mesmo fenômeno que elegeu Dilma Rousseff em 2010. Internamente, a legenda avalia que, quanto mais perto do pleito ocorrer a oficialização da troca de candidato, maiores serão as chances de Lula transferir votos.

Outro motivo para aguardar pelo menos até agosto para oficializar a troca é evitar um desgaste maior da imagem de Lula. Caso o PT torne público que ele não é o candidato do partido à Presidência agora, logo após sua prisão, acredita-se que ele sairia ainda mais prejudicado e, assim, reduziria sua influência e capacidade de transferir votos.

“É diferente você falar na prisão de um ex-presidente, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto na disputa, e falar em um ex-presidente preso”, afirmou um senador do partido que tem acompanhado de perto os movimentos eleitorais.

O cenário ideal para o PT é que o ex-presidente consiga deixar a cadeia. Isso permitiria a ele percorrer o país ao lado do candidato alternativo – e assim, viabilizar mais facilmente a transferência de votos. Por isso, o PT vai esgotar as instâncias recursais, ao lado da defesa de Lula, para que ele deixe a prisão o mais breve possível.

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Construção do plano B vem desde antes da prisão de Lula. Mas não há nome definido

O trabalho de construção da candidatura alternativa já está sendo feito desde antes da prisão de Lula, no sábado (7). Mas não há consenso ainda sobre um nome. É isso que ainda precisa ser consolidado até agosto.

Até o momento, o mais cotado é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Inclusive Lula teria dados a sua bênção para que ele comece a dialogar com outros partidos o apoio a seu nome.

A cúpula do PT avalia que Haddad tem uma identificação com a educação. E esse teria sido o principal motivo para que Lula tenha dado tanta ênfase, nas caravanas pelo Nordeste e pelo Sul, à criação de universidades públicas nos governos do PT.

Cientista político aposta que, se Lula estiver solto, tentará “ungir” o seu vice como verdadeiro candidato

O cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR, afirma que o PT sabe que será praticamente impossível que a candidatura de Lula seja deferida pela Justiça Eleitoral. Por isso a construção de um nome alternativo é inevitável para a sobrevivência política da sigla.

Mas o plano pressupõe que Lula esteja livre. Segundo o cientista político, se o ex-presidente não estiver encarcerado, poderá “carregar” na campanha seu vice – que Lepre aposta que será o “ungido” para assumir a candidatura. “Esse ‘ungido’ até que teria chance [de se eleger presidente]”, diz.

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Encarcerado, Lula não poderá fazer isso. “Com Lula preso, a situação do PT é terrível.” A transferência de votos para o nome alternativo tende a se enfraquecer. E outros políticos do partido correm risco de não se reelegerem (a governador, senador ou deputado) sem a força de Lula para puxar votos. “A sobrevivência dos petistas vai estar em xeque com o Lula preso.”

Lepre acredita que, mesmo com Lula preso, será difícil que o PT apoie o nome de outro partido de esquerda para a Presidência. “Acho que o PT não vai a reboque de partidos menores [o PCdoB de Manoela D’Ávila ou o PSol de Guilherme Boulos]. Nem do Ciro [Gomes, candidato do PDT].” Para o cientista político, o cenário com Lula preso é de divisão da esquerda.

Ele afirma ainda que, nessas circunstâncias, dificilmente algum concorrente da esquerda conseguirá herdar os votos do ex-presidente. “Eles não vão conseguir o ‘voto da barriga’ que o Lula tem principalmente no Nordeste por causa de programas como o Bolsa Família”, diz Lepre, referindo-se ao eleitor que escolhe seu candidato com base na percepção de quem fez sua vida melhorar ou que pode fazer isso.

Para o cientista político, com exceção de Ciro, que tem influência no Nordeste, os demais candidatos da esquerda tendem a conquistar apenas o chamado “voto ideológico” – de quem escolhe um nome por causa de sua ideologia. Lepre destaca que a parcela do eleitorado que tem esse comportamento é muito pequena, insuficiente para eleger alguém.

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