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Marina Silva afirmou que não vai atacar ninguém nesta eleições. Mesma estratégia já foi utilizada em 2014. | Leopoldo Silva/Agência Senado
Marina Silva afirmou que não vai atacar ninguém nesta eleições. Mesma estratégia já foi utilizada em 2014.| Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Ao contrário dos pré-candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), os outros três presidenciáveis melhores colocados na última pesquisa Ibope têm adotado um discurso “morno” durante a pré-campanha. Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Alvaro Dias (Podemos) têm evitado declarações polêmicas e ataques diretos aos adversários. E, mesmo quando fazem algum ataque, ou voltam atrás ou acabam sendo facilmente combatidos.

A pré-candidata Marina Silva divulgou um vídeo afirmando que adotará como estratégia de campanha um discurso propositivo. “Ninguém vai me ver agredindo o Ciro, o Bolsonaro, o Alckmin ou o Alvaro. Ninguém. Eu quero debater. E eu sei separar as pessoas das ideias e das propostas. Até porque eu quero terminar essa eleição e se ganhar, se Deus quiser e o povo brasileiro, eu quero ver o Brasil unido. Eu não quero ganhar para depois conclamar hipocritamente a união de todos”, diz a candidata da Rede em vídeo postado na sua página oficial no Facebook no fim de junho.

A mesma estratégia – de preferir debater ideias ao invés do embate – já foi adotada por Marina durante as eleições de 2014. Após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo, Marina, que até então era vice da chapa do PSB, virou o nome do partido para concorrer à Presidência da República. Rapidamente, ela começou a crescer nas pesquisas eleitorais e enfrentou uma enxurrada de ataques dos seus adversários, principalmente de Dilma Rousseff (PT).

Marina não reagiu as críticas. E acabou perdendo votos. A partir do meio de setembro de 2014, a então candidata perdeu força e, em outubro, foi ultrapassada por Aécio Neves (PSDB), que disputou o segundo turno com Dilma. Na época, os cientistas políticos classificaram os ataques do PT à Marina como o grande trunfo para garantir a presença da petista no segundo turno e tirar Marina da disputa.

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Ataques combatidos

Já Geraldo Alckmin, que tem evitado declarações polêmicas, começou a fazer alguns ataques a Jair Bolsonaro a partir de maio, a pedido da sua equipe de campanha, que estaria preocupada com o desempenho modesto do ex-governador de São Paulo nas pesquisas. Ainda assim, a maioria dos ataques é feita de forma indireta, sendo divulgada pela equipe de campanha ou pelo partido nas redes sociais. E, quando um ataque é feito pelo próprio candidato, tende a ser em um tom mais morno – facilmente combatido por seu adversário.

Em maio, ao ser questionado sobre Bolsonaro durante sabatina realizada pela Folha de S.Paulo, UOL e SBT, Alckmin disse que o pré-candidato do PSL e o PT são a mesma coisa e que votar em Bolsonaro representa o “atraso”. Logo depois, Bolsonaro reagiu em um tom acima, pelo Twitter: “Não aceitei a propina do seu partido PSDB. Concluo, Sr Alckmin, estou aguardando alguém da sua laia me chamar de corrupto”. Alckmin respondeu no Twitter apenas dizendo que Bolsonaro fez “acusações irresponsáveis ao meu partido, de forma grosseira”.

Em outra oportunidade de tentar atacar um adversário, mas sem muito sucesso, o tucano disse que Bolsonaro não tem proposta para a área de segurança e convidou o pré-candidato do PSL a debater o tema. O ex-militar respondeu: “Não tenho tempo para perder com Alckmin. Quando ele tiver na minha frente em São Paulo, ou atingir dois dígitos, ele liga para mim.” Não teve tréplica do pré-candidato do PSDB.

Voltar atrás

Alvaro Dias, um dos mais ativos nas redes sociais, tem apenas feito apenas ataques indiretos em eventos e entrevistas à imprensa. Em fevereiro, quando questionado sobre uma frase de Bolsonaro, em que o pré-candidato do PSL defendeu armar a população para enfrentar bandidos, Alvaro deu um das poucas declarações mais polêmicas até aqui.

“O povo paga impostos para ser defendido pelo Estado, pelo governo e não para se defender em uma guerra civil que querem implantar no país, evidentemente porque não existe exame de sanidade mental para candidatura, ainda, no Brasil”, afirmou durante um evento de agronegócio em Cascavel, no Oeste do Paraná.

Logo depois, o próprio Alvaro tentou minimizar o seu comentário, dizendo que a frase não se referia a nenhum candidato em específico e que defendia o “teste de sanidade mental” para qualquer candidato, desde vereador até presidente da República.

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Discurso deve mudar durante a campanha eleitoral

Muito do tom “morno” adotado durante esta pré-campanha pelos candidatos faz parte da própria personalidade deles, que tendem a ser menos explosivos e polêmicos que Bolsonaro e Ciro. Mas também há o fato de ainda ser uma pré-campanha eleitoral, como lembra o doutor em Comunicação Sociopolítica e professor da Unisinos, Sergio Trein.

“A gente ainda não tem uma agenda de temas bem definidos e nem um quadro de oposição forte, como quando existia a figura do PT na disputa. Está todo mundo adotando o discurso mais palatável, ao gosto da população, para tentar passar uma imagem de um político diferenciado.”

A situação, porém, deve mudar depois que começar a propaganda eleitoral gratuita e os debates televisivos, avaliam os especialistas consultados pela reportagem. Eles dizem que os candidatos que têm adotado um discurso “ morno” até aqui devem, em tese, mudar sua estratégia, apostando em críticas e na desconstrução do adversário para emplacar um segundo turno.

“A partir do momento que se iniciar o período eleitoral, esse discurso, exceto para quem esteja na frente, deve ser alterado, justamente para poder convencer eleitores indecisos ou conquistar eleitores de adversários”, diz o cientista político e professor do Grupo Uninter Doacir Quadros.

Já para Trein, o processo de desconstrução do candidato líder deve ser feito em doses homeopáticas. “Eles vão precisar achar a dosagem correta, adotar certa crítica, sem comprometer a campanha e possíveis alianças”, avalia Trein.

Coincidência ou não, Alckmin e Alvaro, com um discurso morno, ainda não emplacaram durante esse período pré-eleitoral. O pré-candidato do PSDB aparece na pesquisa Ibope divulgada em 28 de junho com apenas 6% das intenções de voto, atrás numericamente de Bolsonaro (17%), Marina (13%) e Ciro (8%). Alvaro tem 3% das intenções de voto.

Metodologia

A pesquisa Ibope foi feita de 21 a 24 de junho com 2 mil pessoas em 128 municípios, mostra a intenção de voto dos brasileiros no primeiro turno das eleições para Presidente da República. Também aponta a avaliação sobre o desempenho do governo federal, o grau de confiança no presidente Michel Temer e a aprovação do governo em nove áreas de atuação, entre elas, saúde, educação, segurança pública e combate à fome e ao desemprego. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-02265/2018. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. O contratante é a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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