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 | Fabio Rodrigues Pozzebom    /    Agência Brasil
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Cena 1: Aos 15 anos, em plena ditadura, o jovem Jair Bolsonaro, estudante, ajuda na busca do guerrilheiro Carlos Lamarca, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. Cena 2: No Exército, durante um treinamento, salva um colega, Negão Celso, de morrer afogado. É saudado pelos colegas: "Bolsonaro, meu herói". Cena 3: Durante a formação militar, é campeão de apneia, com quase 4 minutos no fundo da piscina. Cena 4: Já na política, em 1992, é proibido de participar de uma formatura numa unidade militar e, então, bloqueia a entrada da Aman com seu Chevette. "Mas ele é Jair Bolsonaro", diz o livro.

O deputado presidenciável é descrito assim, como um herói mesmo, na biografia "Mito ou verdade", escrita por um de seus filhos, o deputado estadual Flávio Bolsonaro. Seu nome aparece seguido de adjetivos como "humilde, carismático e idealista", além de "amado, odiado, idolatrado e perseguido" e, por último, vítima da "ditadura do politicamente correto".

De antemão é sabido que as 190 páginas de “Mito ou Verdade” vão traçar um perfil positivo de Jair Bolsonaro, segundo colocado hoje na corrida presidencial. O texto busca desconstruir a imagem de uma pessoa homofóbica, racista e raivosa e busca, de alguma maneira, humanizá-lo.

"Sim, Bolsonaro também chora! E conhecerão o lado sensível deste patriota", diz numa passagem.

Mas não perde certo ranço. O autor diz que o livro é a "abertura dos arquivos" de Bolsonaro, que, com sua publicação, busca "sair do armário". 

Amigo de Clodovil

Para demonstrar que Bolsonaro não é intolerante com os homossexuais, o livro o define como grande amigo na Câmara do ex-deputado e estilista Clodovil Hernandes, que era gay, e foi deputado entre 2007 e 2009. Conta que as brincadeiras entre eles eram constante – em tempos, diz, em que o politicamente correto não prevalecia. E reproduz um diálogo entre eles.

"Clodovil, você é macho mesmo? Como você aguenta?", perguntou-lhe Bolsonaro.

"Ai, Bolsonaro, você não sabe o que está perdendo", respondia Clodovil, segundo o livro, num tom de "brincadeira, sem maldade ou intuito de ofensa". E os dois gargalhavam. 

Bolsonaro também é apresentado como vítima: "Virou uma presa fácil da imprensa, que deturpava os fatos para acabar com sua reputação. Como se fosse um monstro que odiaria gays".

Seu desligamento do Exército e seu ingresso na política se deu por conta das desavenças na caserna. Nos anos 80, ele virou um porta-voz dos militares insatisfeitos com seus salários. Chegou a responder um inquérito no Superior Tribunal Militar (STM) por suposta intenção de explodir bomba em adutoras de abastecimento de água de quartéis. O caso foi contado por uma revista semanal. O STM, por 9 a 4, arquivou o processo.

"Felizmente, e graças a Deus, Bolsonaro é diferente de Lamarca", diz o livro sobre sua absolvição no caso. Lamarca parece uma obsessão. É citado sete vezes no livro. Como Bolsonaro, foi capitão do Exército, mas durante a ditadura atuou ao lado dos guerrilheiros, comandou o grupo VPR e participou de sequestro de embaixador.

Conhecido no meio militar, Bolsonaro disputa e se elege vereador no Rio, em 1988. Se fosse derrotado nas urnas, estava decidido a não retornar ao Exército, que o perseguia. E tinha assegurado um emprego como tirador de cracas de cascos de navio, já que tinha curso de mergulhador.

“Morreram poucos” no Carandiru

Ele reafirma no livro algumas de suas convicções, como o enfrentamento aos direitos humanos. E repete, por exemplo, seu sentimento sobre o episódio dramático da morte de 111 presos no Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo.

"Morreram poucos. A Policia Militar tinha que ter matado 1000", diz Bolsonaro, "uma declaração direta no queixo dos hipócritas".

Algumas outras passagens polêmicas são minimizadas por ele na biografia, mais que autorizada, absolutamente parcial. Nos anos 90, ele defendeu o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, diz que foi uma "força de expressão" levada ao pé da letra pela imprensa. 

Sua amargura e oposição ao PT é citado o tempo inteiro. Mas há uma omissão importante. No livro, Bolsonaro não conta que votou em Lula para presidente da República em 2002, como revelou recentemente à Gazeta do Povo

"E daí? Aqui é Bolsonaro!"

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