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O deputado Jair Bolsonaro (PSC) tem percorrido o país em busca de votos, mesmo faltando um ano para a eleição. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
O deputado Jair Bolsonaro (PSC) tem percorrido o país em busca de votos, mesmo faltando um ano para a eleição.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Não é novidade para ninguém que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e o prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) já estão em campanha eleitoral em busca da Presidência da República. As eleições acontecem daqui um ano, em outubro de 2018, e a campanha começa oficialmente na metade de agosto, mas os três pré-candidatos já colocaram o bloco na rua em busca de votos. Outros políticos também falam em candidatura, mas de forma mais contida que o trio.

A pesquisa mais recente do Datafolha mostra que Lula lidera os cenários eleitorais para a eleição e, na ausência de seu nome, Marina Silva (Rede) – que não tem feito campanha ativamente por enquanto - e Bolsonaro ficam à frente, empatados tecnicamente ou com pequena vantagem da ex-senadora sobre o deputado federal. Os dois presidenciáveis do PSDB testados, João Doria e Geraldo Alckmin, tem desempenho similar.

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A pré-campanha de Lula, Bolsonaro e Doria parece estar dando certo, pelo menos quando se olha para o resultado das pesquisas. Outros pré-candidatos que ainda não estão nas ruas em busca de votos aparecem com resultados muito inferiores.

A estratégia de começar a campanha eleitoral tão cedo, porém, pode ser um tiro no pé a longo prazo, segundo o cientista político da PUC-PR Másimo Della Justina. Segundo ele, o eleitor pode acabar encantado com o “fator novidade” de uma candidatura lançada mais perto da eleição do ano que vem.

“O fator novidade pode influenciar, mesmo quando você tem uma qualidade democrática perceptível daqueles que estão no poder ou cumprindo seus mandatos. O eleitor brasileiro se encanta com a novidade, sair do marasmo, do tédio e outras coisas”, explica.

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Outro aspecto que pode prejudicar os pré-candidatos é a fadiga, segundo Justina. “A proposta é repetitiva, não há muita novidade, o que o candidato pensa que é novidade, na verdade, o eleitor percebe que é só uma forma de poder”, explica.

Confusões

Um fator que pode aumentar a fadiga do eleitor é o constante bate boca dos pré-candidatos entre eles e entre seus pares nos partidos. Neste fim de semana, por exemplo, Doria discutiu publicamente pelas redes sociais com o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, usando um tom agressivo contra o colega tucano. Goldman reclamou que Doria estaria se dedicando mais à candidatura à Presidência do que à gestão na Prefeitura de São Paulo. Em resposta, o prefeito chamou o colega tucano de “fracassado e medíocre”.

Doria também tem feito questão de criar um certo antagonismo com Bolsonaro, já que os dois disputam em certa medida os votos dos mesmos eleitores. Em Belém, Doria alfinetou Bolsonaro, que também visitou a capital paraense. Ao passo que o parlamentar prometeu que “todo brasileiro devia ter uma arma”, Doria afirmou: “Não defendo que todo brasileiro tenha arma em casa. Apoio o direito de quem deseja ter arma, desde que tenha habilitação para possuir uma.”

Lula

No caso de Lula, Justina acha que é pouco provável que o petista perca seus votos por causa da campanha antecipada. “O Lula tem uma taxa de adesão de um terço do eleitorado e isso é tradicional. Ele não perdeu muito os eleitores fiéis dos últimos 30 anos, então ele fica em um patamar estacionário”, diz. “Não vejo a candidatura do Lula nem avançar significativamente nem cair significativamente”, completa.

Já a situação de Bolsonaro pode ser diferente, segundo a professora de direito eleitoral do Unibrasil Ana Carolina Clève. “O Bolsonaro tem uma posição extremamente conservadora e me parece que, nesse contexto que estamos vivendo, ele se sente à vontade para expor essas ideias conservadoras. Mas todo esse tempo até o ano que vem de fato vai colocando sua ideologia e todo esse conservadorismo dele vai ser escancarado e pode ter desgaste. Ou vai despertar o interesse de outros eleitores”, opina.

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Democracia beneficiada

Se, por um lado, a campanha precoce pode ser prejudicial aos candidatos no longo prazo, o fenômeno é benéfico para a democracia, segundo Clève. Isso porque a população tem a oportunidade de conhecer melhor os candidatos e participar mais ativamente do debate, segundo a especialista.

“Do ponto de vista de uma democracia saudável e do ponto de vista jurídico, eu defendo que é bastante bom para uma democracia, saudável, que esses candidatos possam, muito antes da campanha, já debater ideias, expor sua plataforma politica, expor ideologia, inclusive suas proposições mesmo”, diz a especialista em direito eleitoral.

Para ela, a discussão de projetos antes do período eleitoral ajuda a tornar o debate mais qualificado. “Acho que a regra deve ser a ampla liberdade de expressão. Acho que isso é saudável para o ambiente democrático, para a arena política e o eleitor deve já saber e participar disso tudo. O eleitor não pode ficar limitado à exposição de ideias só naquele período curto de eleição”, diz.

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O debate começar mais cedo também ajuda na oxigenação da política, segundo Clève. “Se nós limitarmos essa ampla exposição apenas à campanha eleitoral, quem tem condições de se sobressair nisso é aquele candidato que já é conhecido, ou o candidato que tem muito dinheiro, ou o candidato que é artista, ou o político profissional”, diz.

“É saudável para a democracia que esse debate comece muito antes porque você tem chances de que outras lideranças aparecem e para que essas lideranças sejam testadas, passem pelo escrutínio popular pela exposição delas”, completa.

E o novo?

A pesquisa nacional mais recente divulgada pelo Paraná Pesquisas mostrou que 59,4% dos eleitores preferem votar em um candidato novo, mesmo que não seja conhecido na política. Nesse cenário, candidaturas lançadas em cima da hora por candidatos que não são “políticos profissionais” podem levar vantagem.

Um provável candidato à Presidência da República é Bernardinho, o ex-treinador da seleção brasileira de vôlei, que deve sair candidato pelo Partido Novo. Justina, porém, aponta alguns obstáculos que o esportista terá que enfrentar em sua campanha.

O primeiro é o partido escolhido pelo possível candidato. “O eleitor esta percebendo que o Novo é uma reciclagem das velhas raposas. Face nova com práticas antigas”, diz Justina.

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O segundo obstáculo é a conquista do eleitor. “Bernardinho esteve para uma geração no esporte que não é a geração que vai decidir o voto agora. Ele teria que fazer muito esforço de mídia, de construção de imagem, para resgatar essa memória boa, mas também teria que mostrar certa capacidade de liderança e de estadista”, conclui o cientista político.

Para Justina, caso a economia apresente sinais de melhora até o ano que vem, um candidato que pode se destacar na corrida presidencial é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. “Surge a figura do Henrique Meirelles, que poderia dar uma segurança econômica maior”, diz. Para a candidatura vingar, porém, precisaria ser um consenso entre os partidos PMDB, DEM e PSDB, opina o cientista político.

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