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A empresa de um petista envolvido no episódio de posts pagos para elogiar candidatos do partido em redes sociais acumula dívidas e já prestou serviços para outras legendas em eleições passadas.

A Formula Tecnologia, do deputado federal Miguel Corrêa (PT), é a criadora de aplicativo citado como plataforma usada por ativistas no serviço de posts positivos para candidatos no partido.

Criada em 2014, a empresa prestou serviços em redes sociais até para candidatos adversários do PT em pleitos, como Marcelo Crivella (PRB), nas últimas eleições para prefeito do Rio de Janeiro. A companhia também atuou para PSD, PT do B e PT.

À reportagem, Corrêa diz que a empresa é especialista em “sociologia web” e que faz tudo “tudo na legalidade”.

ENTREVISTA:Tudo foi feito antes do período eleitoral’, afirma petista

A Formula é a empresa mãe de um pool de outras menores da área de tecnologia, de propriedade de Corrêa, de assessores e ex-assessores dele, que funcionam no mesmo endereço em um bairro nobre de Belo Horizonte. A Follow, que surgiu da Formula, e a Be Connected, de um assessor parlamentar, foram apontadas como envolvidas na compra de apoio de influenciadores.

O caso estourou porque uma militante de esquerda disse ter sido contratada para elogiar no Twitter candidatos petistas como Luiz Marinho e Gleisi Hoffmann. Após se recusar a elogiar o governador do Piauí Wellington Dias (PT), ela tornou o caso público na internet, gerando uma onda de críticas contra a prática.

Logo depois, apareceram outros militantes reclamando de não terem sido pagos, conforme prometido. No quesito débitos, o nome da Formula consta ainda na dívida ativa da União com o valor de R$ 304 mil, o que, segundo o deputado, se deve a dificuldades financeiras.

Há quatro anos, também houve relatos de cabos eleitorais que acusavam a empresa de falta de pagamento, após trabalharem na campanha de Agnelo Queiroz (PT), ao governo do Distrito Federal. Na ocasião, a Formula recebeu R$ 630 mil para atuar na campanha do então governador para realização de pesquisas. Após Queiroz não se reeleger, cabos eleitorais reclamaram em redes sociais.

Nas últimas eleições municipais, aumentou o rol de clientes da empresa. Entre eles, estavam dois candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro: Índio da Costa (PSD) e Marcelo Crivella, que venceu as eleições.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Crivella declarou ter gasto R$ 100 mil reais a título de “serviços com terceiros”. A reportagem procurou a assessoria do prefeito do Rio para detalhar o gasto, mas não obteve resposta.

SAIBA MAIS:Como operam os aplicativos de compra de compartilhamento de notícias do PT

Índio declarou R$ 297 mil em gastos com a empresa de Miguel Corrêa. Segundo a nota fiscal disponível no site do TSE, a contratação se deu a título de “planejamento de campanhas ou sistemas de publicidade”. Índio não foi localizado para comentar o assunto.

Ambos os candidatos eram rivais da coligação da qual o partido de Corrêa fez parte, cuja cabeça de chapa era Jandira Feghali (PCdoB).

Naquele mesmo ano, a empresa trabalhou também para o PT do B de Minas e para o diretório petista de Ribeirão das Neves, onde a prima de Corrêa concorria à reeleição. Ela acabou perdendo. Naquele ano, a irmã de Corrêa, Cristina (PT), também não conseguiu se eleger prefeita da cidade mineira de Santa Luzia.

O deputado afirmou à reportagem que sua vida política e empresarial são separadas. “Cabe a mim respeitar meus clientes e no tempo correto, se questionados, eles se apresentarão”, afirmou.

De acordo com ele, inicialmente, a Formula foi criada para prestar serviços de desenvolvimento de programas de computador. Depois, passou a realizar serviços de “internet, agência de publicidade, pesquisas de mercado e opinião pública”.

Sobre a dívida com a União, ele afirma que “no último ano, a empresa enfrentou dificuldades, mas tal dívida foi refinanciada e tem sido paga a medida do possível”.

Corrêa nega que tenha havido qualquer pagamento para que militantes fizessem postagens elogiosas e afirmou que “inverdades, suposições e calúnias que surgiram nos últimos dias”.

No entanto, um vídeo publicado na internet mostra um ex-assessor de Corrêa prometendo pagamento. “Os R$ 500 é o início do nosso projeto. Os melhores ativistas vão muito além disso”, disse o rapaz.

Entrevista: ‘Tudo foi feito antes do período eleitoral’, afirma deputado

Sócio da Follow, empresa suspeita de fazer o recrutamento e pagamento de influenciadores por publicações a favor de petistas durante as eleições, o deputado federal e candidato ao Senado por Minas Gerais, Miguel Corrêa (PT), negou ao jornal “O Estado de S. Paulo” irregularidades e disse que tudo ocorreu antes do período eleitoral como uma forma de teste para verificar tendências para viralização de conteúdo nas redes. Abaixo os principais trechos da entrevista:

Houve um esquema de propaganda irregular na internet envolvendo sua empresa?

Não tenho qualquer dúvida da minha atitude ou postura. Em se tratando de política, de uma candidatura ao Senado e de parte da imprensa que sempre está disposta a caluniar, eu não tinha dúvida que isto poderia acontecer. E se pensarmos que se tratava de um movimento que permitia a esquerda construir e compartilhar ideais e informações, tudo dentro da legalidade, construindo o processo democrático, não existe surpresa nestas acusações. Sigo absolutamente tranquilo, tenho firmeza da legalidade das ações. Não houve irregularidade eleitoral.

Foi feito algum tipo de seleção de influenciadores no aplicativo?

A seleção foi feita por uma agência (Lajoy) e tinha o objetivo de entendê-los, ouvi-los, desenhar a melhor tática e identificar as bandeiras e o que elas representam. A ideia era entender o melhor gif, o melhor tag, o melhor lead para quando surgisse um cliente, pudéssemos apresentar estas análises. Reafirmando que isto aconteceu fora do período eleitoral e sem nenhum pedido de voto. Tratava-se de um laboratório de compreensão da web sociedade. E nada melhor que os influenciadores de esquerda que representam as pautas das minorias para testá-lo.

A Justiça Eleitoral pediu dados dos usuários dos aplicativos. O sr. vai colaborar?

Somos cumpridores da lei. Na última segunda-feira fiz uma live e convidei o Ministério Público Federal e a Polícia Federal a assistirem. Nela, refutei uma a uma das acusações. Todos os esclarecimentos serão prestados. Com relação aos usuários, o aplicativo é aberto, os usuários têm liberdade.

Sua equipe foi procurada pela Justiça Eleitoral sobre o assunto?

A empresa parceira (Lajoy) recebeu uma notificação que trata do tema da publicidade eleitoral irregular, tema que prevê multa. Vamos provar que tal publicidade nunca ocorreu porque nunca existiu um pedido de voto sequer. Principalmente no período eleitoral. É importante ressaltar também que nunca houve, nas nossas empresas, contratações ou pagamentos de nenhum tipo de influenciador.

Como foi a conversa com a Executiva Nacional do partido?

Eu tenho uma relação muito sólida com meu partido e naturalmente ele não abre mão do meu direito de me fazer compreendido e de esclarecer toda e qualquer acusação. Sou um especialista dos novos empregos do século 21 e eu quero fazer com que isto seja minha bandeira ao Senado.

Fala-se numa possível retirada da sua candidatura ao Senado...

Em hipótese alguma. Esta questão nunca me foi apresentada. Ela partiu indevidamente de um integrante do partido que naturalmente não representa sua totalidade.

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