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Nordestino. Gay. Pobre. Rico esnobe. Preguiçoso. Analfabeto. E até mesmo o “médico frio”. Estereótipos vêm sendo usados por políticos para atacar seus adversários e até mesmo para se autopromover. A guerra dos preconceitos cresce à medida que a eleição de 2018 se aproxima. E os principais candidatos a Presidência estão nesse front.

Alvo durante toda sua carreira política do preconceito contra os nordestinos e os pobres , o ex-presidente Lula (PT) tampouco deixa de usar a arma da qual é vítima contra seus desafetos. Na última quarta-feira (13), durante depoimento ao juiz Sergio Moro, o petista procurou desqualificar seu mais novo desafeto: o ex-ministro Antonio Palocci, que o acusou de ter firmado um pacto de corrupção com a Odebrecht. E recorreu a um preconceito de parte da população contra médicos: “Ele [Palocci] é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Palocci é médico, é calculista, é frio”.

Lula também aproveitou o interrogatório para se colocar como defensor dos negros e ao mesmo tempo insinuar que outro de seus desafetos, o próprio Moro, seria preconceituoso. O ex-presidente “aconselhou” o juiz a não usar a palavra “denegrir” “porque o movimento negro não gosta”. A palavra, para muitos, tem conotação pejorativa contra os negros. Moro havia usado o termo, dias antes, em uma nota pública.

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O almofadinha dissimulado

O ex-presidente também tem sido hábil em construir uma barricada com as pedras que atiram contra ele. Nunca escondeu seu passado de retirante nordestino que viveu na pobreza. A identificação dos nordestinos e das camadas mais pobres da população com o petista, aliás, é seu principal capital político. E não foi à toa que ele começou o giro pelo país justamente pelo Nordeste.

Mas, ao mesmo tempo, na caravana pela região, encerrada no início de setembro, Lula também semeou o preconceito ao avesso, contra os ricos do país: “as elites de São Paulo”. Poucos meses antes, em maio, o alvo de Lula foi personificado: o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) – tratado como um rico, esnobe e que não trabalha. “Um almofadinha, um coxinha ganha as eleições em São Paulo se fazendo passar junto ao povo mais humilde por João Trabalhador. Se encontrarem com ele por aí, perguntem se ele já teve uma carteira profissional assinada”, disse o ex-presidente.

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O troco: preguiçoso e analfabeto

Doria rebateu o ex-presidente e também aproveitou para explorar a imagem, cultivada por muitos brasileiros, de que “Lula não trabalha”. Divulgou um vídeo nas redes sociais no qual diz: “Tá aqui minha carteira de trabalho. Eu, com 13 anos de idade, já trabalhava. Fazia o que poucas vezes você já fez na sua vida. Eu trabalho honestamente e sou decente, diferente de você”.

O prefeito tucano, possível adversário de Lula em 2018, vem insistindo em seus discursos na ideia de que o petista é “preguiçoso”. E também explora outro “filão” do preconceito nacional. Desta vez contra os analfabetos ou aqueles que estudaram pouco.

“Você [Lula], além de sem vergonha, preguiçoso, mentiroso e covarde, declarou hoje que o João Doria não deveria viajar, mas administrar a cidade de São Paulo. Lula, além de tudo, você não lê, ou talvez não saiba ler. Você é inexpressivo. Na primeira avaliação [da gestão] eu fechei com 70% de aprovação, enquanto o seu prefeito Fernando Haddad fechou com 15%”, disse o tucano em Fortaleza, em agosto.

Os homossexuais como escada

Segundo colocado nas pesquisas eleitorais, o deputado Jair Bolsonaro (hoje no PSC, mas que irá ingressar no partido Patriota para disputar a Presidência) é outro que abusa do preconceito para atacar e construir a imagem de político defensor dos valores morais. E a escada de Bolsonaro tem sido os homossexuais – embora ele negue que seja homofóbico.

“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”, disse Bolsonaro em 2011.

Desde então, o deputado sempre vem se envolvendo em polêmicas dessa natureza. A que teve mais repercussão ocorreu durante a votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, em 2016. Bolsonaro foi acusado pelo deputado Jean Wyllys (PSol-RJ), defensor da causa LGBT, de tê-lo chamado de “veado”, “queima-rosca” e “boiola” no meio do plenário. Wyllys cuspiu em Bolsonaro.

Mais recentemente, Bolsonaro se envolveu numa polêmica com o jornalista britânico Glenn Greenwald, que vive no Brasil e é homossexual. Nas redes sociais, Greenwald chamou o deputado de “cretino fascista”. Bolsonaro escreveu ao jornalista pelo Twitter: “Do you burn the donuts? I don’t care! Be happy! Hugs for you!” (“Você queima a rosca?’ Não me importo! Seja feliz! Abraços para você!”).

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Bolsonaro também vem explorando o imaginário coletivo de muitos brasileiros de que defensores dos direitos humanos na verdade só defendem bandidos. “Se um dia eu tiver poderes para tal, não vai ter um centavo para ONG, um centavo pra qualquer órgão relacionado a direitos humanos. Vocês vão trabalhar”, disse numa audiência em 2015 da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

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