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| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou que um “espírito democrático reina nos quartéis” e voltou a descartar qualquer possibilidade de uma intervenção militar no Brasil como no período da ditadura militar que governou o país, entre 1964 e 1985. Em discurso nesta quinta-feira (5), ele disse que se tiverem de intervir será para “respeitar a Constituição e manter a democracia”.

“Quem interpreta que o Exército pode intervir é porque não conhece as Forças Armadas e a determinação democrática, de espírito democrático, que reina e preside em todos os quartéis”, afirmou Villas Bôas, após presidir uma cerimônia, em São Paulo, em homenagem ao soldado Mário Kozel Filho, morto há 50 anos na explosão de um carro-bomba em atentado promovido pelo grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que fazia oposição violenta ao regime.

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De acordo com o general, que se reuniu com os principais pré-candidatos à Presidência da República para tratar de temas relacionados, por exemplo, à defesa, segurança pública e controle das fronteiras, o movimento que pede a volta dos militares ao poder não tem caráter ideológico, mas representa um apelo ao restabelecimento da ordem.

“De qualquer forma, as Forças Armadas e o Exército se, eventualmente, tiverem de intervir será para cumprir a Constituição, manter a democracia e proteger as instituições. Sempre o Exército atuará sobre a determinação de um dos poderes da República, como aconteceu agora, por exemplo, na greve dos caminhoneiros. Fomos determinados a intervir e o fizemos em todo o território nacional. Outro exemplo é a intervenção no Rio de Janeiro. Então, é uma questão simples.”

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No discurso, Villas Bôas afirmou que a “sociedade brasileira criou ambiente para fatos lamentáveis”, como as mortes de Mário Kozel Filho e do jornalista Vladimir Herzog. A declaração se deu um dia depois de a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenar o Brasil pelo assassinato de Herzog, em 1975, e determinar o pagamento de indenização à família, além da reabertura do caso. Para Villas Bôas, o momento do país exige “recuperação coesão nacional”.

O general afirmou que o contexto em que ambas as mortes ocorreram deve receber uma análise comparativa com o momento que vivemos hoje. De acordo com o general, o Brasil permitiu com que a “linha de confrontação da Guerra Fria dividisse a nossa sociedade”, provocando casos como o de Kozel e Herzog. “E, hoje, o momento é de linhas de fratura, o que exige a recuperação de uma coesão nacional, o restabelecimento de uma ideologia de desenvolvimento e um sentido de projeto, para que as gerações futuras não venham a passar o que ocorreu há 50 anos.”

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O comandante do Exército disse que o cenário atual nos aconselha, aos brasileiros e às instituições, a prudência nos ânimos, sabedoria para iluminar o futuro e, principalmente, união dos esforços para construí-lo. Criticou ainda as “ideologias contemporâneas” e afirmou que a “fratura da sociedade, ocorrida no período militar, é uma “experiência para ser lembrada”.

Para Villas Bôas, o Brasil está na iminência de algo muito grave: a perda de sua identidade. “A consequência disso seria um país à deriva. E isso não pode acontecer. Um país com o potencial do Brasil, que tem um papel muito importante a cumprir no mundo. Então, acho que é assim que temos de entender esses eventos, tanto a morte de Kozel como de Herzog.”

Ele ainda citou que apenas gostaria que a família do soldado morto aos 18 anos recebesse os mesmos direitos e atenções, em referência à decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Para o general, a “sociedade brasileira está se esgarçando”. Ele considera que no Brasil se substituiu o “civismo pela cidadania, e quase que como uma militância, onde o conjunto de direitos negligencia o conjunto de deveres que cada cidadão deve ter. “Isso se pode medir nas reações da população em eventos como a Copa do Mundo. Está totalmente diferente a reação da população, que sempre tinha uma grande motivação.”

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