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Davi Alcolumbre (DEM-AP) ganhou os holofotes ao vencer o “todo-poderoso” Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado. | Pedro França/Agência Senado
Davi Alcolumbre (DEM-AP) ganhou os holofotes ao vencer o “todo-poderoso” Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado.| Foto: Pedro França/Agência Senado

Ex-deputado e senador do baixo clero até recentemente, Davi Alcolumbre (DEM-AP) ganhou os holofotes ao vencer o “todo-poderoso” Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado. Aos poucos, os brasileiros vão conhecendo quem é ele.

A Gazeta do Povo elencou quatro fatos poucos conhecidos e inusitados sobre Alcolumbre que vieram à tona nos últimos dias: ele é o primeiro judeu a presidir o Senado; já foi do grupo de Sarney, mas fez uma“esquisita” aliança com o PSol; não é exatamente um representante da “nova política” (como fez parecer); e é visto como “muito chato” por alguns senadores.

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1) Alcolumbre é o 1.º judeu a comandar o Senado

Davi Samuel Alcolumbre Tobelem, de 41 anos, é judeu sefardita, ramo do judaísmo com origem na Espanha e em Portugal. Expulsos da Península Ibérica no século 15, os sefarditas se espalharam por várias nações. Antepassados do senador se radicaram no Marrocos – de onde imigraram para o Norte do Brasil em duas levas, em 1905 e nos anos 1930.

Como presidente do Senado, Alcolumbre também pode ser o primeiro judeu a presidir o Brasil – ao menos de forma interina. Ele é o terceiro na linha sucessória, depois do vice-presidente (Hamilton Mourão) e do presidente da Câmara (Rodrigo Maia).

2) Senador já foi do grupo de Sarney e depois se aliou ao PSol

Filiado a um partido de direita, o DEM, Davi Alcolumbre já fez parte do grupo político do ex-presidente e ex-senador José Sarney (MDB) – que, além do Maranhão, tem forte influência no Amapá. Depois, virou adversário do antigo aliado e fechou aliança com o PSol, partido de esquerda.

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Em 2009, quando já era deputado federal, Alcolumbre licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria de Obras e Serviços Públicos da prefeitura de Macapá, capital do Amapá, na gestão de Roberto Góis (PDT). Em 2012, Góis foi candidato à reeleição com o apoio do grupo de Sarney. Alcolumbre também foi candidato, mas ficou em quarto lugar.

No segundo turno, o hoje presidente do Senado apoiou o candidato do PSol, Clécio Luís, numa aliança costurada pelo senador Randolfe Rodrigues, que à época estava nesse mesmo partido. A justificativa era de que seria necessário se unir pela “moralidade” e para tirar o grupo de Sarney do poder.

Clécio venceu a disputa. A aliança entre Alcolumbre e o PSol no Amapá se consolidou – sob fortes críticas de filiados do partido em todo o país. Em 2014, Alcolumbre concorreu ao Senado contra Gilvam Borges (PMDB, hoje MDB), candidato do então senador Sarney – que desistiu de concorrer à reeleição. Alcolumbre novamente foi apoiado pelo PSol de Randolfe. E venceu a eleição.

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Randolfe e Clécio migraram posteriormente para a Rede, partido de centro-esquerda fundado pela ex-senadora Marina Silva. Mas, mesmo assim, a aliança entre eles e Alcolumbre se manteve. Tanto que, na eleição a presidente do Senado, Randolfe foi um dos principais defensores da candidatura do senador do DEM.

3) Alcolumbre é abstêmio. Dizem que ele é “muito chato”. E não tem diploma universitário

A festa da vitória de Davi Alcolumbre, após ser eleito presidente do Senado, revelou duas características pessoais dele. O senador não bebe álcool. E ele é “muito chato”, segundo o relato de um senador que já havia bebido algumas taças de vinho. Mas, de acordo com outros colegas de Senado, o novo presidente da Casa só é tímido; não chato.

Alcolumbre diz ser empresário do ramo do comércio. E não tem diploma universitário – ele começou, mas não terminou o curso de Ciências Econômicas.

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4) Senador diz ser alternativa à “velha política”. Não é bem assim

Davi Alcolumbre fez campanha para a presidência do Senado dizendo ser alternativa à “velha política” – representada pelo seu principal adversário, Renan Calheiros (MDB-AL). Mas o fato é que Alcolumbre é alvo de suspeitas de irregularidades e adotou muitas práticas tradicionais dos políticos brasileiros que são alvo de críticas.

Em 2017, Alcolumbre votou contra a cassação do então senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Conselho de Ética do Senado por ter pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da JBS. Depois, o senador do DEM votou a favor da manutenção do mandato de Aécio, derrubando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que mandou afastar o mineiro do cargo.

A trajetória de Alcolumbre na Câmara também é marcada por polêmicas. Em 2005, assinou e depois retirou a assinatura da CPI dos Correios – que viria a desvendar o mensalão, esquema de compra de votos do governo Lula no Congresso. Também fez o mesmo com a CPI que iria investigar o contrato do Corinthians com a empresa MSI.

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Em 2015, quando já era senador, Alcolumbre continuou morando num apartamento funcional da Câmara dos Deputados mesmo estourando o prazo de devolução das chaves. À época, afirmou que o Senado não tinha imóvel disponível e continuou no apartamento que usava quando era deputado.

Alcolumbre tampouco passou ileso por acusações ou suspeitas de irregularidades.

Em 2013, foi investigado pela Operação Miquéias, da Polícia Federal, que apurava a participação do doleiro Fayed Trabouli em desvios de dinheiro em fundos de pensão. Alcolumbre apareceu na operação por ter supostas ligações com o doleiro. O STF, contudo, anulou as interceptações da PF e o caso não avançou. À época, o presidente do Senado negou qualquer irregularidade.

A eleição de Alcolumbre ao Senado, em 2014, também é alvo de questionamentos na Justiça. O vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, solicitou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação do mandato dele por supostas irregularidades na prestação de contas da sua campanha. Segundo o Ministério Público Eleitoral (MPE), ele usou “notas fiscais inservíveis” para justificar gastos de campanha. O julgamento no TSE ainda não ocorreu, mas o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP) não acatou o pedido de cassação.

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A campanha eleitoral de 2018 de Alcolumbre, na qual ele concorreu ao governo do Amapá (e perdeu), também está na mira da Justiça Eleitoral, desta vez sob a acusação de uso da máquina pública. O MPE afirma que os servidores da Secretaria Municipal de Saúde de Macapá, administrada por Clécio Luís, aliado de Alcolumbre, estavam sendo pressionados, em pleno horário de expediente, a participarem dos atos de campanha do então candidato ao governo.

Alcolumbre também é adepto do “familismo” na política. Seu suplente no Senado é um irmão, Josiel. Quando era deputado federal, propôs um projeto de lei (posteriormente aprovado) para batizar o aeroporto de Macapá com o nome de um de seus tios, Alberto Alcolumbre. Em 2013, ele usou verba de seu gabinete na Câmara para abastecer seus carros no posto de gasolina Salomão Alcolumbre, de propriedade de outro tio.

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