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Antes da crise política, mercado apostava num corte de 1,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic). Agora, expectativa é de queda de 1 ponto. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Antes da crise política, mercado apostava num corte de 1,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic). Agora, expectativa é de queda de 1 ponto.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O Banco Central tinha tudo para acelerar a queda da taxa básica de juros a partir desta quarta-feira (31). Mas o oceano de incertezas em que o país mergulhou após a divulgação dos grampos da JBS tende a inspirar alguma cautela entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom).

A questão é que a crise política já está atrasando e, no limite, pode enterrar a reforma da Previdência, tida como fundamental para a normalização das contas públicas. Se as finanças do governo continuarem piorando, o Copom terá um motivo a menos para cortar o juro básico, hoje em 11,25% ao ano.

Na prática, se a taxa Selic – que serve de referência para a maioria dos empréstimos – não cair mais rápido, o barateamento do crédito a pessoas e empresas seguirá em ritmo lento, atrasando um pouco mais a débil recuperação da economia.

Para o economista-chefe da gestora de recursos Infinity Asset, Jason Vieira, a “saudável ousadia” do Copom seria um corte de 1,25 ponto porcentual na taxa Selic, maior que o anterior, de 1 ponto. “Porém não podemos esquecer o peso fiscal nos índices de preços brasileiros, e tal ousadia somente ocorre com a garantia da reforma da Previdência”, disse Vieira, em relatório.

Antes que a conversa de Joesley Batista e o presidente Michel Temer viesse a público, grande parte do mercado financeiro apostava nesse corte de 1,25 ponto, com bons argumentos. A inflação, em franca desaceleração, já caiu abaixo da meta de 4,5%. E os indicadores mais recentes sugerem uma recuperação bastante gradual da atividade econômica, que não forçará aumentos significativos de preços.

O escândalo da JBS, no entanto, levou bancos e consultorias a rever projeções. Agora, a maioria espera uma nova queda de 1 ponto porcentual na Selic. Dessa forma, o Banco Central passaria uma mensagem de precaução, mas sem prejudicar o processo de “afrouxamento monetário”. O novo discurso predominante é de que o juro básico deve terminar 2017 nos mesmos 8,5% ao ano esperados anteriormente; a diferença está na velocidade da queda, que será menor.

Contas públicas

Embora o câmbio tenha subido após a revelação das gravações da JBS, a expectativa ainda é de que a inflação ficará mais ou menos comportada, até porque a crise política deve fazer a economia avançar ainda mais devagar, quase parando.

Só que o Banco Central não olha apenas para inflação e PIB. Em seus comunicados, a autoridade monetária costuma destacar que a queda dos juros também depende de uma melhora nas contas públicas. Que ficou ameaçada.

“Ainda é cedo para afirmar que o orçamento total de cortes [da taxa Selic] se alterou. Ele estará atrelado não só ao desempenho da atividade e da inflação, mas também do sucesso das reformas estruturais, que dependem de uma solução organizada da crise política”, escreveram os economistas da consultoria Rosenberg em texto enviado a clientes.

O teto dos gastos públicos, aprovado no fim de 2016, ajuda no reequilíbrio das finanças do governo, mas terá vida curta sem uma reforma consistente na Previdência. E cada vez menos gente acredita numa mudança significativa na legislação.

O principal fiador da reforma, o presidente Michel Temer, está por um fio. Se ele cair, não há como saber qual seria o interesse do eventual sucessor em enfrentar essa bronca. E, mesmo que Temer se segure no cargo, não há garantia de que o Congresso vá aprovar a PEC da Previdência.

Antes da crise, e com a caneta cheia para angariar apoios, Temer já não conseguia juntar os 308 votos necessários para aprovar a PEC na Câmara. É de se perguntar como vai conquistá-los agora.

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