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Tanto Lula quanto Dilma Rousseff sabiam que os atrasos nos pagamentos feitos ao casal de marqueteiros se referiam a caixa 2, diz João Santana. | Nelson Almeida/AFP
Tanto Lula quanto Dilma Rousseff sabiam que os atrasos nos pagamentos feitos ao casal de marqueteiros se referiam a caixa 2, diz João Santana.| Foto: Nelson Almeida/AFP

Trecho do anexo da delação premiada do marqueteiro João Santana, tornada pública nesta quinta-feira (11), revelou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha um modo todo peculiar para se referir ao grupo Odebrecht.

“O presidente Lula tinha uma forma bem-humorada de tratar dos pagamentos por fora que estavam em atraso. Para demonstrar que estava preocupado (...) vez por outra pergunta a João: ‘E aí, os alemães têm lhe tratado bem?’”, consta no anexo. Os alemães, no caso, eram a Odebrecht.

O anexo de delação premiada é o documento em que o delator informa ao Ministério Público Federal (MPF) o que vai contar no processo de delação. A colaboração de Santana, da mulher dele, Mônica Moura, e de André Santana, funcionário do casal, foi assinada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e tornada pública pelo ministro relator da Lava Jato Edson Fachin.

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Isso significa que, a partir de agora, o que foi dito à Lava Jato pode ser usado como base para a abertura de inquéritos ou reforçar investigações já em curso.

João Santana e Mônica Moura foram responsáveis pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.

Ajuda

De acordo com Santana, tanto Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff sabiam que os atrasos nos pagamentos feitos ao casal se referiam a recursos não contabilizados, o conhecido caixa 2. Segundo o anexo da delação premiada de Santana, a primeira abordagem direta com Lula sobre caixa 2 se deu em 2009, “no episódio de ajuda à campanha de Mauricio Funes, em El Salvador, quando ele mandou João procurar diretamente Emilio Odebrecht”.

Já com Dilma, o tema teria sido abordado em “várias oportunidades” durante o seu primeiro mandato. “Isso ocorreu, por exemplo, quando ela informou João no primeiro semestre de 2014 que havia viabilizado um meio de saldar, antecipadamente, todo o pagamento não oficial da sua campanha de reeleição. Algo em torno de R$ 35 milhões. A operação, segundo Dilma informou a João, seria articulada por Guido Mantega, por fora, sem registro contábil. Todavia isso não se efetivou”, diz o anexo da delação.

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De acordo com o delator, o tema caixa 2 e depósitos no exterior foram abordados ainda mais diretamente em setembro de 2014, quando Dilma perguntou se os depósitos no exterior feitos pela Odebrecht foram feitos de forma segura.

A mesma pergunta teria sido feita por Dilma à empresária Mônica Moura, em novembro de 2014, quando a chamou às pressas para um encontro em Brasília.

Outro lado: acusados se defendem

Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente Lula informou que não vai comentar “declarações de pessoas que buscam benefícios judiciais” e que “delações, pela legislação brasileira, não são provas”.

A assessoria de Dilma Rousseff informou que a defesa da petista ainda não teve acesso aos autos e que deve se pronunciar até o final do dia.

Procurada, a defesa de Mantega não foi localizada. Em depoimento à Justiça Eleitoral, o ex-ministro da Fazenda disse que não pediu ao empreiteiro Marcelo Odebrecht doações nem para o PT nem para a campanha de Dilma ao governo em 2014. Mantega negou que tenha se envolvido na captação de recursos da campanha e sustentou que a participação foi restrita à formulação de propostas econômicas e à preparação de respostas para debates eleitorais da ex-presidente.

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