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Lula disse que usou uma força de expressão ao afirmar que um dia mandaria prender as pessoas que estariam contando “mentiras” sobre ele, em referência aos procuradores. | Reprodução
Lula disse que usou uma força de expressão ao afirmar que um dia mandaria prender as pessoas que estariam contando “mentiras” sobre ele, em referência aos procuradores.| Foto: Reprodução

Uma série de perguntas sobre o mensalão, esquema de corrupção julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), manteve Lula calado na maior parte do tempo em que foi interrogado pelo juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (10), em Curitiba. Mas foi o suficiente para mudar o comportamento do ex-presidente, que até então destilava sorrisos entre os questionamentos. Recomendado pela defesa, o réu preferiu se calar e não comentar sua ligação com a cúpula do Partido dos Trabalhadores, objeto dos questionamentos do magistrado. E, quase ao final da série de inquisições, Lula, já com outro semblante, resolveu dar sua versão dos fatos e revelou uma “mágoa profunda” com a Lava Jato por causa da divulgação das gravações dele com familiares.

Parte do interrogatório foi usada pelo juiz para, segundo ele próprio, entender a relação do ex-presidente com os integrantes de alto escalão do PT. Moro leu trechos de entrevistas dadas pelo réu durante o mensalão, por volta de 2006. Em entrevista exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo, Lula reconheceu erros em uma mensagem que poderia ser interpretada como uma meia culpa e um suposto reconhecimento de crimes de caixa 2 e de corrupção. Lula riu e se negou a responder. Moro continuou e perguntou se houve algum pedido presidencial para a apuração daqueles crimes. Novamente, nenhuma resposta. Mais risos.

Julgado pelo povo

A defesa interrompeu e afirmou que as perguntas deveriam ser feitas ao PT e não a Lula. E deveriam ser feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não por Moro. E insinuou que o juiz estaria fazendo um “julgamento político” do ex-presidente. “Qualquer outro julgamento que a vossa excelência queira fazer será fora da lei e de natureza política”, disse a defesa. Foi quando o ex-presidente voltou a responder: “Eu já fui julgado três vezes pelo povo brasileiro... eu fui eleito com 62% dos votos... eu alcancei 87% de bom e ótimo nas pesquisas de opinião”. E alegou já ter sido “julgado muitas vezes pelos gestos administrativos”.

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“Eu não estou sendo julgado pela minha relação com qualquer subordinado. Quando um político comete um erro é julgado pelo povo. Ele não é julgado pelo processo de Código Penal”, disse Lula. Moro continuou citando entrevistas da época do mensalão. Mostrando suposta contradição com declarações dadas em 2014 e 2016 em que Lula afirmou que o esquema de compra de votos no parlamento nunca havia existido. Um desentendimento entre defesa e acusação interrompeu a sessão. O advogado de defesa teve a fala cortada. O clima de descontração de Lula mudou. A tensão aumentou.

Ações agressivas

Os questionamentos sobre o mensalão deram lugar para as recentes considerações de Lula sobre as investigações da Lava Jato. O juiz classificou as declarações como “agressivas”. Lembrou que Lula moveu ações contra testemunhas, delegado, procurador da república e até contra o magistrado.

Lula se calou por segundos e não respondeu. Moro continuou: “O senhor não acha que estas medidas podem ser interpretadas como atos de intimidação contra a atuação de agentes públicos?” Citou as seguintes declarações do ex-presidente dadas em 2016: “Preciso brigar com eles porque alguém tem que reagir. Estou disposto a fazer o que é necessário.” O juiz também lembrou trechos da delação premiada de Léo Pinheiro e quis saber se em algum momento houve o pedido para a destruição de provas. Lula negou, mas reconheceu encontros com Pinheiro para tratar de “questões sobre o futuro da economia brasileira”, todas realizadas no Instituto Lula.

Força de expressão

Ainda sobre a ofensiva contra a Lava Jato, Moro pediu uma avaliação sobre as declarações, dadas na semana passada, nas quais Lula afirmava que se não fosse preso logo “quem sabe um dia” mandaria prender as pessoas que estariam contando “mentiras”.

Lula, apesar da recomendação da defesa para se calar, desandou a falar. Recuou no teor e explicou se tratar de força de expressão. “A história não para com este processo. A história um dia vai julgar se houve abuso ou não. É uma força de expressão.” O juiz pergunta se é apropriado este tipo de afirmação. Lula reconhece que não. “Todos nós precisamos tomar cuidado com as declarações”, disse o ex-presidente. Para finalizar com um desabafo emocionado: “O senhor sabe a mágoa profunda que tenho do vazamento de minhas conversas com a minha mulher e com o filho dela. O tempo vai se encarregar de recontar a história.”

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