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O presidente Michel Temer e o comandante do Exército, general Villas Bôas, que usou um aparelho respirador auxiliar durante a cerimônia do Dia do Soldado. | Evaristo Sa/AFP
O presidente Michel Temer e o comandante do Exército, general Villas Bôas, que usou um aparelho respirador auxiliar durante a cerimônia do Dia do Soldado.| Foto: Evaristo Sa/AFP

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, aproveitou uma cerimônia alusiva ao Dia do Soldado (25 de agosto), nesta sexta-feira (24), para criticar a repercussão inexpressiva da morte de três militares em operações no Rio de Janeiro, nesta semana. O estado está sob intervenção federal na segurança pública desde fevereiro deste ano.

Em mensagem assinada por ele e lida durante o evento, em Brasília, Villas Bôas disse que o país vive “tempos atípicos”, em que se “valoriza mais a perda das vidas de uns em detrimento de outros”. “Suas mortes [dos militares] tiveram repercussão restrita que nem de longe atingiram a indignação ou a consternação condizente com os heróis que honraram seus compromissos de defender a Pátria e proteger a sociedade”, disse o general.

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Na última segunda-feira (20), após um dia sangrento na cidade do Rio, o cabo do Exército Fabiano de Oliveira Santos, 36 anos, e o soldado João Viktor da Silva, 21 anos, foram mortos após confrontos à bala nos complexos de favelas do Alemão, da Penha e da Maré, na zona norte. Fabiano foi atingido naquela manhã no ombro, no complexo da Penha. João Viktor foi baleado durante a tarde na cabeça, no Alemão.

Os dois eram jovens, pais e filhos. Moravam em Japeri, cidade violenta na Baixada Fluminense, e deixaram órfãos filhos de dois anos de idade. No mesmo dia, o soldado Marcus Vinicius Viana Ribeiro foi baleado na perna e levado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. Ele morreu dois dias depois, após complicações em seu quadro clínico, segundo comunicado do Exército

Embora o comandante do Exército não tenha feito nenhuma menção direta ao assassinato da vereadora Marielle Franco, morta em março, durante o discurso, os militares têm se queixado nos bastidores sobre a diferença de repercussão dos dois casos.

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O general Vilas Bôas participou da cerimônia, realizada no QG do Exército, ao lado do presidente Michel Temer. Participaram ainda do evento os ministros Rossielli Soares (Educação), Joaquim Silva e Luna (Defesa), Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Caio Vieira de Mello (Trabalho), além do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que foi agraciado com a Medalha do Pacificador.

Tanto Temer quanto Villas Bôas lamentaram as mortes dos três militares no Rio de Janeiro esta semana, as primeiras durante a intervenção federal. “Voltamos nosso pensamento muito especialmente ao cabo Fabiano de Oliveira Santos, ao soldado João Viktor da Silva e ao soldado Marcus Vinícius Viana Ribeiro. Seus sacrifícios não serão em vão. Cumpriremos a tarefa imperiosa de recompor a ordem no Rio de Janeiro”, afirmou Temer em mensagem lida na cerimônia.

Falta de apoio político

Em uma crítica aos governantes locais, Villas Bôas afirmou que “aparentemente” apenas os militares têm se dedicado a resolver os problemas do Rio. “Passados seis meses, apesar do trabalho intenso de seus responsáveis, da aprovação do povo e de estatísticas que demonstram a diminuição dos níveis de criminalidade, o componente militar é, aparentemente o único a engajar-se na missão.”

A intervenção, que vale até dezembro, foi decretada às pressas e sem um plano pronto logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres da capital foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado. A intervenção ainda não conseguiu reduzir os homicídios, acumula o maior índice de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.

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O Exército, porém, está nas ruas da cidade desde julho de 2017, quando Temer, diante da grave crise financeira e de segurança pública, decretou a chamada operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A medida dá poder de polícia às Forças Armadas no estado até o fim deste ano, mas pode ser renovada.

Em seu discurso, Villas Bôas disse que o país vive dias de dificuldade e que as Forças Armadas têm sido chamadas frequentemente para resolver os problemas na segurança. Como exemplos, citou as crises vividas por estados como Rio Grande do Norte e Espírito Santo, além do Rio, “onde a população alarmada deposita esperanças em uma intervenção que muitos, erroneamente, pensam ser militar”.

“Exigem-se soluções de curto prazo, contudo nenhum outro setor dos governos locais empenhou-se com base em medidas socioeconômicas, para modificar os baixos índices de desenvolvimento humano, o que mantém o ambiente propício à proliferação da violência”, disse.

O comandante do Exército disse ainda que o Brasil vive momentos de conflitos e incerteza. “Perdemos a disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e aos valores, o que nos tornou uma sociedade ideologizada, intolerante e fragmentada. Estamos nos infelicitando, diminuindo nossa autoestima e alterando nossa identidade.”

O ministro da Defesa minimizou o tom e disse que a mensagem do comandante tinha como objetivo pedir a pacificação do país após o período eleitoral. “O Brasil vive momento de disputa eleitoral. É natural que cada um apresente a sua forma do que é que vai fazer. Em algum momento, em dois meses, essa tarefa de enfrentamento estará terminada. Então a nação tem de unir para construir um Brasil . E a mensagem tem essa finalidade, e a minha também é essa, terminadas as eleições, precisamos pacificar os ânimos construir um outro Brasil.”

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