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| Foto: Roberto Barroso/ABr/WikimediaCommons

O economista Paul Singer morreu às 20h desta segunda-feira (16), aos 86 anos, em São Paulo. Ele havia sido internado no Hospital Sírio-Libanês na madrugada e teve septicemia.

Integrante do grupo de fundadores do PT em 1980, Singer foi um dos responsáveis pelo que o partido teve de mais celebrado em suas quase quatro décadas: a formulação de um programa de desenvolvimento a partir do fortalecimento do mercado interno via distribuição de renda.

No campo acadêmico, autor de vários livros didáticos e de pesquisa econômica, tornou-se referência obrigatória para a divulgação do pensamento da esquerda não-marxista.

Talvez tenham sido esses os dois principais legados do professor Paul Israel Singer, nascido na Áustria em 1932 e que chegou ao Brasil aos 8 anos, quando a família judia fugiu do nazismo em seu país recém-anexado por Hitler.

O nome do meio era uma exigência do regime que defendia uma “solução final” para os judeus. Para mais fácil identificação, os judeus homens foram obrigados a anexar “Israel” ao nome.

Singer manteve o nome, mesmo quando não era mais necessário. Dizia que Hitler obrigava mesmo os judeus assimilados, como sua família de um subúrbio operário de Viena, a se voltarem para o judaísmo.

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Em sua juventude, foi sionista, mas sem muita convicção. Pertencia a uma corrente socialista do movimento.

Aos 20 anos, começou a trabalhar como eletrotécnico. Filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ajudou a organizar a greve dos 300 mil, que paralisou a indústria de São Paulo por mais de um mês em 1953. No ano seguinte se naturalizou. Filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro, mas não desenvolveu atividade partidária.

Foi autodidata no estudo da Economia e só em 1956 ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP.

Ainda estudante, Singer foi convidado a tomar parte no “Seminário de Marx”, que mais tarde ganharia notoriedade devido às carreiras posteriores dos intelectuais que dele participavam, como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, a antropóloga Ruth Cardoso e o filósofo José Arthur Giannotti. Na época, considerava-se um marxista.

O grupo daria origem ao Cebrap, que reuniu a nata dos intelectuais de oposição à ditadura militar. Singer chegou a ficar preso por uma semana em 1974, mas não sofreu tortura.

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A atividade político-partidária só teria início com a fundação do PT. Singer foi o responsável pelo programa econômico do candidato Luiz Inácio Lula da Silva ao governo de São Paulo, em 1982, na primeira eleição direta ao cargo, ainda sob a ditadura, que só terminaria em 1985.

Lula perdeu, mas o programa foi inscrito no DNA do partido. Singer defendia a ampliação do mercado interno via inclusão social, o que acabou ocorrendo durante a Presidência de Lula, de quem seu filho, o cientista político André Singer, foi porta-voz.

Paul Singer considerava o programa reformista. O socialismo não entrava diretamente na equação. “A marcha para o socialismo consistia em ampliar a democracia, aprofundar a democracia para redistribuir a renda”, como disse em entrevista a Guido Mantega e José Marcio Rego, em 1997, registrada no livro “Conversas com Economistas Brasileiros”.

No plano municipal, como secretário de Planejamento de Luiza Erundina, prefeita de São Paulo a partir de 1989, não conseguiu implementar ideias que dependiam de uma ação do governo federal. Mas nunca desistiu da ideia.

Em 2002, Singer aprofundou a proposta com a publicação do livro “Introdução à Economia Solidária”, obra de militância, editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Defendia como princípios “a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual”. Pela sua proposta, haveria também “um poder público com a missão de captar parte dos ganhos acima do considerado socialmente necessário para redistribuir essa receita entre os que ganham abaixo do mínimo considerado indispensável”.

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No ano seguinte, no início do governo Lula, assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária, ligado ao Ministério do Trabalho, onde defenderia a criação de bancos comunitários como instrumento de erradicação da miséria.

Apesar das crises do PT, Paul Singer se manteve ligado ao partido que ajudou a fundar, criticando-o pontualmente à esquerda, como fez em 2015, quando o governo de Dilma Rousseff promoveu um ajuste fiscal que, para ele, afastaria o PT de suas bases sociais.

Foi autor de muitos livros, além da obra citada, entre os quais se destacam “Desenvolvimento e Crise” (1968) e “A Crise do Milagre Brasileiro” (1976).

Viúvo, Paul Singer deixa, além de André, as filhas Helena e Suzana, ex-ombusdsman da “Folha de S.Paulo” e atual editora de Treinamento do jornal.

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